Depois de passar por Paraty e pelo Rio, foi a vez de mediar as falas e conversas no Fórum de Ideias do Mimo Festival em Olinda. Na cidade onde o evento nasceu, há 14 edições, e onde eu me apaixonei por ele desde que o acompanhei pela primeira vez, em 2009, conversei com o angolano Paulo Flores, com o cantor e compositor pernambucano Otto e com os cineastas franceses Vincent Moon e Priscilla Telmon no belíssimo Convento de São Francisco, que sediou concertos magníficos durante o festival, como o da harpista francesa Laura Perrundin.
Rever o violinista francês Didier Lockwood, um dos responsáveis por eu me encantar com o Mimo em 2009 foi uma delícia. Assim como conhecer o som do português Manel Cruz, o do sérvio Emir Kusturica e o do grupo de cordas orientais 3MA (do malinês Ballaké Sissoko, do marroquino Driss El Maloumi e de Rajery, de Madagascar) foi mágico. O encerramento com Otto apresentando seu novo álbum, Ottomatopeia, no dia em que seu percussionista Marcos Axé morreu, foi catártico. Depois de chorar o dia inteiro, com o apoio de Toca Ogan (percussa do Nação Zumbi), Otto tirou concentração do coração e deu conta do recado, levantando a galera e mostrando que esse novo trabalho vai dar muito o que falar.
Repetindo o sucesso do Rio, na sexta-feira (17/11), o angolano radicado em Lisboa Paulo Flores falou sobre o Semba, matriz de vários ritmos. O cantor e compositor contou que iniciou sua carreira tocando kizomba, mas passou a valorizar o semba na década de 1990, influenciando assim outros músicos de seu país. Paulo ainda exemplificou suas falas mostrando canções ao violão.
No sábado (18/11), Otto se emocionou ao falar sobre como a situação política do Brasil o inspirou a produzir seu mais recente álbum, Ottomatopeia. No Fórum de Ideias intitulado Ottomatopeia: Inquietações de um ser romântico, todo mundo achou que o cantor e compositor pernambucano ia comentar suas inquietações amorosas, mas ele surpreendeu a todos ao levantar questões polêmicas como preconceito e democracia.
O encerramento do Fórum de Ideias, no domingo (19/11), teve Vincent Moon e Priscilla Telmon contando sobre o processo de produção do filme Híbridos, os Espíritos do Brasil, exibido no Festival Mimo de Cinema durante o evento. Intitulado Híbridos, um estudo etnográfico sobre os cultos religiosos do Brasil, o fórum ressaltou a visão de dois estrangeiros sobre os mais de 150 cultos religiosos que eles registraram durante sua pesquisa de três anos pelo país.