Há muito a falar sobre Leci Brandão, mas aqui fica apenas uma pílula biográfica sobre quando tudo começou. Leci, a cantora/compositora pioneira na indústria fonográfica, neste domingo 12 de setembro, completou 77 anos.
No mundo do samba, foi nas agremiações que as mulheres passaram a ter um pouco mais de espaço como compositoras, ou melhor, um lugar de fala. Nos anos 1930, com os primeiros desfiles de escolas de samba cariocas, as mulheres passaram a assumir papéis coadjuvantes, porém fundamentais – de pastoras ou de baianas (matriarcas portadoras da tradição, remetendo às origens do gênero) – mas elas ainda eram tratadas como figuras de beleza, da graça feminina, total reflexo de um olhar masculino.
Nesse cenário, surgiu uma mulher que mudou a história do papel feminino no samba: Dona Ivone Lara era humilde, mas carregava uma formação musical sofisticada. Para adentrar o circuito do samba, enfrentou a repressão do marido e o machismo, tornou-se a primeira cantautora de sambas-enredo e acabou consagrada como a Dama do Samba Brasileiro.
Como compositora, antes de Dona Ivone Lara, o pioneirismo coube a Carmelita Brasil, que entre 1959 e 1964 foi responsável pelos enredos e pelos sambas da pequena Unidos da Ponte. Na década seguinte, em 1971, uma negra 22 anos mais jovem que Ivone Lara, Leci Brandão, faria história ao entrar na ala de compositores da Mangueira e a registrar o primeiro álbum de uma mulher cantautora de samba, intitulado “Antes que eu volte a ser nada” (Dona Ivone Lara só estrearia em disco em 1978, com “Samba minha verdade, samba minha raiz”).
Leci viria a inaugurar um repertório cheio de mensagens progressistas: a carioca que, além de cantora e compositora, virou política, é hoje uma das veteranas do gênero em atividade.
Fonte: FUSCALDO, Chris. Cantautoras: Um ensaio sobre sete mulheres e sua importância na música popular brasileira. Tese de doutorado defendida em outubro de 2020 pela PUC-Rio.