O Brasil tem 200 milhões de habitantes, com 6 milhões de mulheres a mais do que homens. No entanto, os números mostram que elas ainda estão sub representadas no mercado da música. Para suscitar uma reflexão neste Dia Internacional da Mulher, a União Brasileira dos Compositores (UBC), que administra direitos autorais também de músicos e intérpretes, lançou um relatório com um levantamento que revela disparidades entre mulheres e homens associados. A pesquisa, que contou com meu auxílio, mostra que, dentre todos os associados (cantores, compositores, musicistas e produtores), apenas 14% são mulheres. Os homens são 90% dos maiores arrecadadores e elas recebem, em média 28% a menos.
Leia matéria com entrevistas de Marisa Monte, Sueli Costa, Zélia Duncan, Cátia de França e Letrux
Intitulado Por elas que fazem a música, o documento conta com o apoio de associadas e pretende incentivar tanto as artistas já em atividade a seguirem produzindo quanto as que não apresentaram ainda a sua produção ao mundo. Por elas que fazem a música reúne dados impressionantes, como o de que, entre os 100 maiores arrecadadores da associação em 2017, apenas 10 eram mulheres. O relatório traz ainda depoimentos de artistas que despontaram em épocas diversas. Sueli Costa, que compôs sua primeira canção em 1960, é uma delas: “Fiz minha primeira música com 17 anos sem ter noção de que esse era um universo masculino”. Cátia de França iniciou sua carreira na década de 1970 e diz que gostaria de não ter que ouvir certas frases machistas: “Até hoje, quando pego o violão, quase sempre ouço: ‘Você toca feito homem’”.
Consagrada no final dos anos 1980, Marisa Monte acredita que trata-se de um reflexo da realidade feminina no Brasil: “Em um país em que, apesar de sermos 52% da população, as mulheres no Congresso são 10%, a representatividade da mulher como um todo na sociedade está mal”. Expoente dos anos 1990, Zélia Duncan está atenta e incomodada com a situação: “Para as mulheres alcançarem o patamar dos homens, é preciso mudar as mentalidades.” Acolhida pelo mercado da música nos anos 2000, Letrux já começou a pensar em possíveis soluções: “Os pais devem respeitar a vontade dos filhos, mas é importante incentivar a ida a shows, concertos. Sem essa de ‘menina não pode’.”
Veja as discrepâncias apontadas pelas informações obtidas na base de dados nacional da UBC
E, nesta sexta-feira (09/03), a UBC convidou algumas mulheres para participarem de um debate que será transmitido em tempo real pelo Facebook a partir das 14h30. Estarei entre elas, junto a Elisa Eisenlohr, coordenadora de comunicação da UBC e do projeto, Eliane Dias, advogada e empresária dos Racionais MCs, Claudia Assef, jornalista e sócia do Women’s Music Event, as cantoras e compositoras Karina Bhur e Gisele De Santi.