Patti Smith dá aula de aceitação, amor e lealdade em ‘Só Garotos’

Fazia tempo que queria ler Só Garotos, o livro em que a poeta e cantora Patti Smith conta a história de sua relação com o fotógrafo e artista plástico Robert Mapplethorpe. Sempre dando preferência para as histórias da música brasileira, acabei empurrando a leitura com a barriga, mesmo lembrando sempre de minha curiosidade para conhecer melhor a história dessa artista dita punk, que explodiu no mundo com o hit Because The Night (parceria com Bruce Springsteen) e que eu sempre soube que era fã de Bob Dylan como eu. Até que, neste Natal, ganhei o livro de presente de uma amiga e não tive mais como fugir da leitura. Passei as últimas duas semanas devorando cada palavra em cada intervalo que tive ou que me dei. Alguns desses momentos, eu roubei, só para poder ler mais um pouquinho. Fiquei bem impressionada com a narração da artista estadunidense. Fluida e um tanto cinematográfica – muitas vezes, senti-me assistindo à cena como se estivesse em uma sala de cinema – ela traz os fatos que sucederam o encontro de Patti com aquele que seria sua alma gêmea na amizade, no amor, no trabalho e no desejo de vencer com sua arte.

Depois de resumir sua história de família e contar um pouco de como foi sua infância, vivida no estado de Nova Jersey, Patti Smith detalha os melhores momentos dos altos e baixos que viveu ao lado de Robert Mapplethorpe. O encontro se deu na segunda metade da década de 1960, quando os dois começaram a namorar. Até meados dos anos 1970, quando finalmente encontraram seus caminhos dentro do meio artístico, muita coisa aconteceu, mas eles nunca conseguiram ficar longe um do outro. Robert descobriu muito mais sobre sua sexualidade do que poderia imaginar quando foi morar com Patti. Ele tentou de tudo para estabelecer sua produção artística, fez programas para conseguir se sustentar, pegou uma doença sexualmente transmissível e passou-a para a parceira (que aceitava quem ele era e se sentia totalmente segura ao seu lado), e teve alguns namoros até encontrar o homem que iria investir em seu talento, incentivando a sua aventura definitiva: a fotografia. Patti viajou a Paris, namorou caras legais, provou algumas poucas drogas (o medo da agulha a apavorou muito mais do que a heroína que apareceu em sua frente), conheceu Jimi Hendrix e Janis Joplin em situações deliciosamente inusitadas, foi confundida com um garoto por Allen Ginsberg (que pensava estar conquistando o “rapaz” lhe pagando uma refeição), trabalhou em livraria e ficou fazendo artes plásticas e poesias até descobrir o que mudaria sua vida: a música.

Robert amava Patti e a protegia. Patti amava Robert e era a única que lhe entendia. Os dois moraram juntos em apartamentos, em um quarto do famoso e bem frequentado hotel Chelsea, em um espaço que era tanto o atelier quanto a casa de dois quartos deles (aí, já dormindo separados). Uma relação linda, que fortaleceu o que cada um tinha de melhor dentro de si e que acabou fazendo com que ambos entrassem para a história. Até porque, no início, tudo era difícil e é como se eles só tivessem um ao outro. Comer era luxo. Morar mais ou menos, também. Robert parecia se preocupar mais com o sucesso profissional do que Patti. Não sei se era assim mesmo ou se, ao preencher as páginas de Só Garotos, ela acaba deixando de lado seus sentimentos mais íntimos para dar lugar a suas análises mais íntimas. Além de transportar o leitor para a Nova York daqueles tempos, Patti Smith dá uma aula sobre aceitação, superação, amor, amizade e lealdade. Patti chega a desistir de entrar em um estúdio para gravar porque Robert ainda não tinha se resolvido profissionalmente. Mesmo atrasando seu desenvolvimento musical, ela acaba ficando “famosa” antes dele. Como fama não parecia ser seu objetivo principal, Patti mostra que o mais importante foi o reconhecimento de seu primeiro melhor amigo.

 

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