A vantagem de assistir a um show fora de turnê é poder ver algo inusitado. E os niteroienses saíram ganhando nesta sexta-feira (15/08), na terceira apresentação que Chico César fez no circuito Sesc do Estado do Rio de Janeiro, em agosto. Depois de passar pelo Ginástico e por Madureira, o cantautor paraibano levou diversos números e convidados ao palco do Sesc Niterói. Além de Dani Black, com quem vem fazendo dobradinha desde o lançamento do álbum Aos Vivos Agora, Chico convidou o Duo Gisbranco, formado pelas pianistas e cantoras Bianca Gismonti e Claudia Castelo Branco. Elas participaram de um dos shows que Dani não pôde fazer e acabaram gostando da ideia de acompanhar o músico também quando ele tivesse com o “jovem”. O resultado foi um espetáculo de primeira, só com gente de talento e bom gosto, que não vai ser visto novamente tão cedo.
Chico César apareceu sozinho, cantando Beradêro à capela e mostrando que não precisa de nada além de sua voz e uma pequena plateia (o teatro tem capacidade para menos de 300 pessoas). Mas ele foi além e, ao terminar a primeira música, pegou o violão e tocou Mama África e À Primeira Vista, a essa altura já com os fãs o acompanhando no coro. Aproveitando a participação do público, o músico puxou Tambores e Alma Não Tem Cor, esta última uma composição de André Abujamra. Só esse bloco de canções seria o suficiente para todos saírem satisfeitos, mas ainda tinha muita coisa boa por vir. Chico chamou Dani Black, que fez um belíssimo trabalho ao acompanhar o anfitrião e seu violão em A Prosa Impúrpura do Caicó com seus solos de guitarra. Clássico de Luiz Gonzaga, Paraíba virou um jazz pelos dedos do filho de Tetê Espíndola com Arnaldo Black.
Chico lembrou dos tempos em que era “babysitter” de Dani e da irmã e tocava violão para eles quando o casal de amigos saía. Ele contou que, certa vez, Tetê ligou para dizer que as crianças queriam saber o que significava “orfana”, palavra de uma das canções tocadas na casa. Tratava-se de “órfã anã”, trecho da letra de Clandestino, que foi logo apresentada no Sesc Niterói. O dono da noite pediu para a plateia cuidar de Dani e deixou o músico sozinho, tocando duas composições próprias: Linha Tênue, gravada por Maria Gadú e a quase inédita (porque foi a segunda vez que ele a tocou) Seu Rosto. Na volta, Chico puxou Pensar em Você, citando Nossa Canção.
Depois de apresentar Saharienne (citando Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores, de Geraldo Vandré), Chico lembrou o episódio em que foi cobrado por três “hippies” por não ter tocado o “mantra” no São João de uma cidade do interior da Bahia. Música lenta e um pouco triste, Saharienne não tinha nada a ver com a ocasião, mas acabou sendo executada só ao violão dentro do camarim para os fãs. Com a plateia já nas mãos, Chico César puxou Benazir e pediu para que só os homens cantassem o refrão: “Eu sei como pisar no coração de uma mulher / Já fui mulher, eu sei”. “Homens, coragem! Mais virilidade”, brincou o músico, conquistando integrantes viris para o coro. Ao final da brincadeira, Chico chamou o Duo Gisbranco: uma lindíssima leitura de Templo emocionou a plateia.
Novamente, o espaço foi cedido a um convidado. Ou melhor, a duas convidadas. Chico deixou Bianca e Claudia à vontade para mostrarem uma música que estará no próximo disco delas, só de parcerias do duo com o anfitrião. Quando voltou, ele entoou uma canção que compôs com Itamar Assumpção chamada Dúvida Cruel. Com todos no palco, Nato fechou com chave de ouro as quase duas horas de apresentação. Quem viu, pode se gabar.