Morre Chorão, um bruto que amava muito a música, o skate e a família

Posted by Chris Fuscaldo Category: Garota FM Tag:

Como acordar com a notícia da morte de Chorão e não falar nada sobre o assunto? Não rola. E esse texto começa assim, bem informal, porque Chorão era assim, informal e escrachado. Agitado, brigão, cheio de gíria, ele formou e alçou à fama o Charlie Brown Jr. Sempre defendeu o skate, mantendo uma pista em Santos (SP) e, muitas vezes, em cima do palco mesmo: em alguns shows, o vocalista andava com o microfone na mão como se estivesse numa pista. Chorão era louco também pela família, formada pela mulher com quem ficou por mais de 15 anos, a estilista Graziela Gonçalves, e o filho Alexandre, fruto de um relacionamento anterior, que nasceu quando o cantor tinha apenas 20 anos.

Conheci Chorão no Ceará Music de 2005. Um ano antes, ele e Marcelo Camelo tinham brigado no mesmo festival. Repórter do jornal Extra na época, eu fiz uma matéria sobre esse reencontro que não aconteceu, afinal, a produção se encarregou de colocar as duas atrações em dias separados. O vocalista do Charlie Brown Jr conversou comigo logo após sair do palco, ainda suado e eufórico, mas totalmente concentrado no tema e disposto a ajudar a jornalista a conseguir sua matéria. Em 2008, a entrevista foi mais longa. Nos bastidores do Festival de Verão de Salvador, Chorão passou mais de meia hora conversando comigo. Além de comentar sobre projetos de filmes e livros que tinha na época, falou muito sobre seus anseios e sobre como sua família era importante. Um apaixonado! Ali, tive certeza de que os brutos também amam e que o cara, apesar de bronco em várias situações, tinha um coração enorme. Depois daquela, fiz mais algumas matérias que me fizeram entrevistar ele por telefone.

Acho que foi também em 2008, estava eu na festa do Prêmio Multishow após cobrir a cerimônia de entrega, quando ouvi alguém gritando: “Olha aí a Chris, grande jornalista do Rio!” Olhei e vi Chorão vindo na minha direção, puxando a Graziela para me apresentar. Falou umas três vezes que eu era legal, que escrevia bem e que queria que a mulher me conhecesse. Meio assustada, abracei os dois achando aquela atitude uma das mais fofas que já vivi no circuito. Ficamos conversando um tempo e ele me passou um e-mail, pedindo que eu escrevesse pra gente “trocar mais ideia”. Não escrevi. Falta de tempo, sei lá. Mas ainda consegui registrar para a eternidade Chorão em mais um ato de fofura quando nos encontramos no festival Lupa Luna, em Curitiba, em 2011. Achando que não ia me reconhecer, cheguei no camarim com uma câmera na mão, pedindo para ele dar um alô para o GarotaFM. Olha o resultado:

Naquele encontro, Chorão falou da banda, reclamou do meu sumiço (na verdade, eu não tinha tido pauta com ele nos anos anteriores) e insistiu para eu mandar e-mail para conversarmos mais. Não mandei. Fiquei sem graça, acho. Não sabia muito o que falar, já que eu estava meio  enrolada com tantos projetos, mas muitos que não tinham a ver com música. Tô arrependida, claro. Talvez pudéssemos ter tido mais algumas das conversas mais profundas que acabamos tendo várias vezes, ao vivo ou por telefone.

Chorão era um cara difícil, de personalidade forte. Mas, pra mim, era um cara diferente. Talvez um incompreendido, um homem carente. Sua criação não foi das mais tradicionais e as experiências nas ruas o endureceram bastante. Glórias e derrotas permeavam seu dia a dia como Sol e Lua alternam-se no céu. Por não saber lidar com muitas situações, as brigas eram constantes, fossem elas com parceiros de palco, fossem com executivos de gravadoras. Mas eu olhava para ele e sentia que era movido à paixão. Já li por aí que estava difícil aceitar a separação e que tinha saudades do falecido pai. Nunca saberemos o que fez com que Chorão fosse embora (ou fosse levado). Mas é uma perda e tanto. Menos um bom coração no mundo.

Fica aqui a minha homenagem relembrando matérias em links que encontrei pela rede:

Claudia Leitte, Beth Carvalho e Chorão anunciam novidades no Festival de Verão

Em 2008, Chorão quer lançar livro, gravar CD, rodar novo filme e fazer uma filha

Chorão dá seu alô antes de subir ao palco do Lupaluna. No show, separou uma briga

3 thoughts on “Morre Chorão, um bruto que amava muito a música, o skate e a família

  1. Chris, lembro de vc contando essa história para nós! Mt bom o texto e o vídeo é uma graça! Bjs, Ale

  2. caraca meu amor, suas palavras me deixaram emocionado. hj pra mim não ta sendo um dia bom, acho que por conta dessas diversas perdas que estamos tendo nas ultimas semana. fico feliz por ter compartilhado contigo alguns desses momentos com o chorão.

    te amo.

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