O resgate de nomes importantes do movimento esquecidos pelo tempo

Muito sempre se falou sobre o Tropicalismo, movimento musical capitaneado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mutantes e tantos outros nomes que acabaram esquecidos pelo tempo. Em “Tropicália”, filme de Marcelo Machado em cartaz em cinemas do país, essas pessoas deixadas de lado voltam à tona, com vozes ativas e dando boas versões sobre ocasiões vividas pela turma que mudou a música brasileira no final da década de 60. Rogério Duarte (artista gráfico), Rogério Duprat (maestro), Hélio Oiticica (artista plástico),  Glauber Rocha (cineasta), José Celso Martinez (dramaturgo), Tom Zé (músico) e até Chacrinha (apresentador de TV) são relembrados como fortes influências aos tropicalistas (alguns participando diretamente do movimento). Depoimentos emocionantes, divertidos e inusitados fazem do documentário um dos melhores registros da história desse período marcado por surpresas, alegrias e tristezas.

O filme começa com uma cena em que Caetano Veloso e Gilberto Gil, em entrevista em um palco português, comentam o Tropicalismo: exilados nesta época após serem presos no Brasil por militares durante a ditadura, eles endossam o fim do movimento. Daí começa a história, que passa pelos festivais da canção – um teve Gil como vencedor e outro contou com vaias a Caê – e por diversos outros momentos.  Dá para chorar com Caetano, deprimidíssimo de saudade de seu país, interpretando “Asa Branca” em um show na França. Dá para rir com o trecho de “O Demiurgo”, road movie feito por Jorge Mautner (e com ele no elenco) durante esse período em que os amigos ficaram em Londres.

Legal ouvir, pela primeira vez no cinema, Caetano dizer que Maria Bethânia foi uma mola propulsora da Tropicália, porém desertora por querer tocar sua carreira individualmente. Gal Costa relembra a gravação de um disco mais rock’n’roll por sugestão de Caê. Imagens raríssimas d’Os Mutantes emocionam e citações a mestres como o maestro Rogério Duprat ensinam àqueles que estão acostumados a achar que o mérito é só da dupla baiana que, posteriormente a Roberto e Erasmo Carlos, são os representantes de Lennon e McCartney no Brasil.

As imagens são antigas, porém muito bem tratadas para as telas dos cinemas. Detalhes como rabiscos de hidrocor dão o tom da narração, ótima por priorizar as falas e não as caras dos personagens. O equilíbrio entre vozes e imagens ilustrativas é perfeito: o entrevistado não cansa porque o tempo todo há reproduções da época, que é o que realmente interessa. Parabéns ao diretor também por usar e abusar dos créditos. Se tem algo que irrita em documentários nacionais é a economia de nomes. Não é todo mundo que reconhece personagens já mostrados. Em “Tropicália”, os Rogérios Dupart e Duarte não são confundidos, e Nara Leão é relembrada sempre que aparece. Até mesmo Caetano, que muda de cabelo o tempo todo, é creditado a cada momento. “Tropicália”  é uma obra prima que já entrou para a história do cinema documental musical brasileiro.

One thought on “O resgate de nomes importantes do movimento esquecidos pelo tempo

  1. Adorei o filme! Hilária a cena do Jorge Mautner com o Caetano! rs…. E de uma delicadeza incrível a música Fuga Nº 2, dos Mutantes. 🙂

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