Após 30 anos de carreira, Mario Adnet vive seu momento mais ‘pop’

“Que coisa louca! Meu Deus, que loucura!”

Mario Adnet por Milton MontenegroNem Mario Adnet acreditou quando soube que tinha sido indicado três vezes (leia-se com três discos) em duas categorias do 24º Prêmio da Música Brasileira, concorrendo com ele mesmo aos títulos de melhor Arranjador e melhor Álbum de Projeto Especial. E, é claro, não ficou tão pasmo assim quando o “Vinicius & Os Maestros” levou os troféus. Os outros álbuns, “Amazônia, na trilha da floresta” e “Um Olhar Sobre Villa-Lobos” são duas obras primas de um compositor, violonista e arranjador que vem batalhando há 30 anos para viver de música, sem precisar deixar de fazer aquilo em que acredita, mas nunca se imaginou vivendo um momento tão “pop”.

“Eu sempre corri por fora, como você deve imaginar. Minha vida inteira foi remando contra maré. Nunca tive música em novela e nunca ganhei esses prêmios com projetos que não vão para a TV e para o rádio que sempre foram considerados sofisticados demais. Mas meu compromisso nunca foi com esse mercado. Nada contra nem a favor. Mas tenho um princípio que me move: fazer música na qual acredito. Fico feliz com a premiação porque sei que os discos ganharam notas de jurados que nem conheço e tiveram uma soma de pontos”, declarou Adnet.

Emissora que está dando a maior atenção ao sobrinho de Mario, Marcelo Adnet, a TV Globo exibirá a cerimônia neste domingo (16/06) depois do “Domingo Maior” e colocará nosso entrevistado em destaque. Água mole e pedra dura tanto bate até que fura. Durante a conversa, foi o próprio personagem que se lembrou do velho ditado. “Aquele mercado do qual estava falando, hoje, não existe mais como antes. Me deixa feliz ver que posso continuar a fazer o que venho fazendo e que não estou ralando em vão”, disse.

Mario Adnet lançou seu primeiro LP em 1980, numa parceria com Alberto Rosenblit, que depois tornou-se produtor musical e arranjador da TV Globo. Na mesma década, tentou se estabelecer como compositor e arranjador de seus próprios discos, mas a cena já estava naquele processo de pasteurização. E, como ele não entrou para nenhuma banda de rock nem fez músicas para trilha sonora de novela, acabou tendo que achar seu próprio caminho. Mas, com o passar do tempo, Adnet se deu conta de que essa estrada que pegou foi, sem dúvida, a melhor para ele.

“Ouvi coisas como: ‘Isso tem muito acorde! Tem muita nota!’ E tive que pavimentar um caminho novo, sempre independente, o que nos torna mais dependente de tudo. Em alguns momentos, para viver de música, tive que me virar. Dei aulas, por exemplo. Mas essa coisa toda se dissolveu e vejo que, agora, o pessoal tá tentando se segurar e não sabe onde. Quem estava no sistema não se conforma com as mudanças e tem todo aquele apego. E eu tô acostumado com essa condição o tempo inteiro”, afirmou.

Mas, para Adnet, não foi só a mudança dos rumos do mercado a responsável pela atenção que sua música começou a ganhar. De acordo com o arranjador, hoje com a produção de 25 discos no currículo, valorizar os mestres foi peça fundamental para a montagem desse quebra-cabeça: “Uma coisa curiosa foi que, a partir do momento em que passei a pensar no trabalho dos outros, tudo mudou. Passei a me dedicar a Tom Jobim, a Villa-Lobos e, através deles, cheguei em Ravel, Debussy etc. Precisei fazer Baden Powell, Moacir Santos para conseguir continuar meu trabalho. Isso surgiu em uma conversa por telefone com João Gilberto, que me disse para nunca deixar de fazer arranjo para a música dos outros. Agora, acredito que é preciso que qualquer músico visite os mais antigos para entrar para a árvore genealógica da música. Nossa classe é muito desunida, voltada para o próprio umbigo. Temos que dividir o conhecimento.”

E Mallu Magalhães já está seguindo os conselhos do veterano. Foi a jovem cantora quem procurou Mario Adnet para convidar uma de suas bandas, a Ouro Negro, para uma parceria no Rock in Rio. Juntos, eles mostrarão músicas de Moacir Santos e da Mallu no Palco Sunset na sexta-feira, dia 20/09. “Sou o diretor musical e Zé Nogueira é o produtor musical da Ouro Negro. Somos 15 no palco, sendo nove sopros, piano, baixo, bateria, percussão, guitarra e violão. É uma espécie de big band”, explicou.

E, como Mario Adnet nunca para de trabalhar, além de planejar outros tributos com essa banda (“há muitos ouros negros no Brasil que queremos homenagear, Milton Nascimento é um deles”), este ano ele lançará quatro vídeos musicais em seus canais nas redes sociais, com participações de Chico Adnet, Pedro Miranda, João Cavalcanti, além das filhas Joana e Antonia Adnet. Entre setembro e novembro, Mario sai também em turnê com sua Jobim Jazz, que tem dois discos lançados:

“O Jobim Jazz é um projeto mais antigo, que nunca deixo de lado. Vamos percorrer vários estados com músicas do Tom que muita gente não conhece. É o lado B, o lado C e o lado D, tudo instrumental. teremos algumas surpresinhas. Posso adiantar que o Yamandu Costa vai estar conosco no Rio Grande do Sul.” Tanto na estreia, no Rio, quanto em Salvador, ele receberá Daniel e Paulo Jobim. Depois, Mario vai a Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte com participação Lô Borges e São Paulo.

 

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