Fagner: um encontro com o passado e com o presente

Faz aproximadamente duas semanas que Fagner aceitou conceder-me uma longa entrevista para dois projetos nos quais venho trabalhando. Foi uma tarde mágica pra mim, que sonhava ouvir do próprio respostas a perguntas que sempre fiz a mim mesma. Mas essas questões não vêm ao caso agora (ficam guardadas para outro momento). O que importa é falar do começo e do final desse encontro, que rendeu uma carta para mim de meu pai e colaborador, Cornélio Melo, e o vício no novo disco do músico cearense, Pássaros Urbanos.

Chris Fuscaldo e FagnerFoi um maravilhoso encontro (ou reencontro com alguma parte do meu passado). Já tinha falado com Fagner ao telefone algumas vezes (numa delas, ele cismou que minha voz era igual a de Patricia Pillar e só me chamou de “Flora” por causa da personagem da atriz na novela A Favorita) e, ao vivo, só em camarins e eventos. Logo que cheguei na casa de Fagner, ele comentou que precisaria parar nossa entrevista na hora em que o debate com os presidenciáveis começasse. Sentamos para conversar e, após explicar melhor cada um dos projetos, saquei de uma sacola o LP Manera Fru Fru, Manera, de 1973. Acho que, ali, ele viu que não estou de brincadeira. Disse a ele que, quando pequena, eu tinha certeza de que meu pai era o autor de Canteiros de tão bem que ele cantava e executava  a música ao violão. Fagner deu um sorriso e começou a falar sobre aquela época.

Uma hora e meia depois, o debate começou. Ameacei me despedir, mas ele, julgando a entrevista incompleta (e estava mesmo), convidou-me a assistir ao programa e me deu várias dicas de como entender o comportamento dos políticos. Terminada a sessão, continuamos o papo sobre o que me interessava. Ao final, já de noite, sem me dizer nada, Fagner pegou dois CDs Pássaros Urbanos, autografou um pra mim e perguntou o nome do meu pai: Fagner lembrou da historinha que eu havia contado quando cheguei, ainda pouco íntima, tentando puxar um assunto que o aproximasse de mim. E mandou um disco para seu contemporâneo.

Fizemos uma selfie e saí de lá feliz com o resultado da entrevista e com a descoberta da doçura desse artista que aprendi a admirar com meu progenitor. Liguei para meu pai e contei que tinha um presente para ele. Atribulada com diversos projetos, demorei a visitá-lo em Niterói e acabei recebendo, por e-mail, uma carta linda, que reproduzo aqui no GarotaFM através do canal que meu pai tem como colaborador.

Sobre Pássaros Urbanos

Pássaros Urbanos, de Fagner, autografadoA segunda parte dessa história aconteceu dias depois, quando, um pouco menos ocupada, consegui finalmente ouvir Pássaros Urbanos. Que obra prima! Lançado em maio deste ano pela Sony Music, o 37º álbum de Fagner – o primeiro de inéditas (a não ser pelas regravações) desde 2009 – parece compilar o que o cantor e compositor representou para a música brasileira nos últimos 41 anos. Produzido por Michael Sullivan, o Midas da música pop nos anos 80, o disco contém canções dedicadas ao amor (Toda Luz, parceria com Zeca Baleiro), ao samba (Samba Nordestino, com Baleiro também) e ao Ceará (No Ceará é Assim, de Carlos Barroso).

Fagner não faz questão de dominar o repertório com suas composições. Assim como assina duas faixas com Baleiro, aparece dividindo a autoria também de Se o Amor Vier (com Clodo Ferreira) e de Versos Ardentes e Balada Fingida (ambas com Fausto Nilo). O músico cearense atua maravilhosamente bem como intérprete de Tanto Faz (Michael Sullivan e Anayle Lima), Arranha-Céu (Fausto Nilo e Michael Sullivan), Doce Viola (Jaime Alem), da faixa título, Pássaros Urbanos (Fausto Nilo e Cristiano Pinho) e da belíssima Paralelas, um clássico do conterrâneo Belchior. Além de assinar algumas composições, Fausto Nilo é o nome por trás da ilustração da capa de Pássaros Urbanos.

Vale chamar a atenção para os arranjos das canções e para a interpretação de Fagner, sempre inconfundível e emocionante. A viola de Jaime Alem na sertaneja Doce Viola, a voz de Baleiro em Samba Nordestino, a instrumentação feita pelos integrantes da banda Yahoo (Serginho Knust, Marcelão, Zé Henrique e PH Castanheira) para Versos Ardentes e a leitura pop romântica de Paralelas são destaques nesse Pássaro Urbano.

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