Misfits toca o terror ‘fofo’ punk no Circo Voador

Posted by Tiago Velasco Category: Colaborações

Um, dois, três, quatro!… coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim?

Divulgação / Guilherme Carvalho

Divulgação / Guilherme Carvalho

A frase acima podia ser a chamada de Twitter do show do Misfits, nesse domingo de Páscoa (20/04), no Circo Voador, Rio de Janeiro. A data comemorativa da ressurreição de Cristo servia não só ao horror punk da banda americana, mas também aos desabrigados da favela da Oi/Telerj, agora acampados na área externa da Catedral, a poucos metros da lona voadora. Punk, violência, peso, filme de terror, oprimidos estéticos, não é disso que fala o Misfits há mais de trinta anos?

A pergunta é retórica. Aos pés dos Arcos da Lapa, menos românticos por conta das obras, jovens, ou nem tão jovens assim, com o crânio-símbolo da banda estampado as camisetas pretas que vestiam, davam o tom da miscigenação por vezes desigual da cidade. Mas ali todos estavam em comunhão. Pelo menos naquela hora e meia em que Jerry Only (baixo e vocal), o ex-Black Flag Dez Cadena (guitarra e vocal) e Eric “Chupacabra” Arce (bateria) enfileiraram as mais de trinta canções que compunham o set.

O trio equilibrou o repertório, facilmente dividido entre o punk filme B dos primeiros anos da banda e o hardcore mais melódico dos tempos mais recentes – ou o “one, two, three, four” à la Ramones, do início, e o “ô, ô, ô, ô” californiano, que rendeu bons momentos de coro.

Divulgação / Guilherme Carvalho

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Caricato em sua estética de filme de terror – maquiagens de monstros, capa de vampiro e camisetas de caveira –, o Misfits tem um quê de Kiss do underground, com um show que não se encerra nas músicas que apresenta. É histriônico, performático, quase circense em seus gestos programados e, por isso, aguardados pelos mil fãs que partilharam cantorias, rodas e punhos cerrados balançando no ar.

A primeira canção a levantar o público foi “Scream”, introduzida por um “Let me hear you screaming, Rio”, evocado por Jerry Only. “Teenage from Mars”, “Hybrid Moments” e “Attitude” também fizeram parte da sequência inicial de tirar o fôlego, todas composições do antigo integrante Glenn Danzig.

Não foram as únicas a agradar a plateia. “Dig up her Bones, “She”, “Vampira” e “Psycho” foram entoadas com entusiasmos. O primeiro momento de maior interação, no entanto, foi quando o baixista pegou um papel da plateia com o pedido por “Returno of the Fly”. Jerry Only leu, fez do pequeno cartaz uma bola e anunciou que não cantava aquela canção há cerca de trinta anos. Pelo entrosamento na execução é para se duvidar. Não importa. O público não estava disposto a ranzinzices do gênero.

Divulgação / Guilherme Carvalho

Tiago Velasco

Jerry Only nem precisava lançar mão do momento mais bacana da história do punk rock, mas o fez assim mesmo: chamar Arthur Camargo, de apenas 13 anos, para subir ao palco, direto da pista do Circo, e dividir os vocais em “Skulls”. O moleque deu conta do recado. Desinibido, cantou o refrão com toda a força que seus pulmões permitiram. Mas não se engane, o garoto não é novato. Paramentado com munhequeira e camiseta do Misfits, Arthur, que assistiu a quase o show inteiro nos ombros de adultos, já estava em sua terceira apresentação da banda – a segunda em que conseguiu levar a palheta para casa. Não é para menos: “eu gosto deles desde que nasci”, afirmou, com a autoridade de quem sabe todas as letras. Ele gostou, o Misfits gostou, o público do Circo Voador, então, nem se fala.

Horror punk? Que nada, Misfits é fofo punk!

One thought on “Misfits toca o terror ‘fofo’ punk no Circo Voador

  1. Irado Tiago!!! Sempre tive curiosidade pra conhecer mais do Misfits. Lembro de um amigo punk tirando onda com o nome da banda os chamando de metal macumba Misiifiiii :-). Vou ouvir mais e prestar mais atenção nessa galera.

    Abração!

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