A volta da banda Os Lobos aos palcos foi mesmo “memorável”. Antes de o espetáculo começar, a diretora do Teatro Municipal de Niterói avisou que seria. As lembranças de Marilda Ormy – dona na década de 80/90 de uma casa de shows inesquecível para os niteroienses, o Duerê – instigaram a diretora a abrir um buraquinho na agenda do teatro para encaixar o lançamento da reedição em CD do LP “Miragem”, o registro em disco mais importante da história da cidade. Lançado em 1971, o álbum continha os maiores sucessos da banda e, agora, na versão do selo Discobertas, ainda tem quatro faixas bônus, sendo duas delas apresentadas em festivais da canção, em 1972: “Let me sing, let me sing” e “Eu sou eu, Nucuri é o diabo”, ambas de Raul Seixas.
Não só Marilda, mas o público que lotou o Teatro Municipal de Niterói tem boas memórias com a banda. A não ser pelos filhos dos integrantes e alguns jovens curiosos sobre o rock perdido da década de 70
– movimento pouco falado que lançou bandas como Casa das Máquinas, Joelho de Porco, Bacamarte etc – a plateia estava cheia de gente com saudade da boa música. Junto ao produtor executivo Cornélio Melo – parceiro de rock desde aquela época – e o produtor artístico, o jornalista Luiz Antonio Mello (ambos colaboradores do GarotaFM), Cássio Tucunduva e Antonio Quintella, os dois da formação que gravou “Miragem”, convidaram Denise Pinaud para substituir Cristina Tucunduva, infelizmente impossibilitada de participar desse retorno. Chamaram também o baixista Rogério Fernandes, a tecladista e flautista Danielli Espinoso e o baterista Francesco Nizzardelli para relembrarem o peso da banda em canções como “Homem de Neanderthal”, “Cabine Classe A”, “Avenida Central” e “Fanny”.
O show “De Volta à Estrada” começou com uma brincadeira envolvendo duas músicas, a releitura de “Chapeuzinho Vermelho”, um sucesso da Jovem Guarda, e “Seu Lobo”, uma parceria de Cássio e Cristina Tucunduva que tira sarro com a história clássica infantil. Canção da trilha sonora da novela “O Espigão”, “Na Sombra da Amendoeira” (Luiz Carlos Sá) também foi para o repertório, assim como os sucessos de Raul Seixas e “Miragem”, canção que Ana Maria Bahiana e José Emílio Rondeau colocaram na trilha sonora do filme “1972”, que dirigiram e lançaram em 2006. Com um público empolgado , Os Lobos cederam aos pedidos de bis e atacaram de “Hey Jude” em um improviso fenomenal.
Formada em 1965, Os Lobos tiveram êxito já na primeira gravação, em 1970: apesar da aposta ser em “Cabine Classe A”, foi o lado B do compacto, “Fanny”, que explodiu nas rádios. Logo após o segundo compacto, que trazia “Só Vejo Você” e “Cristina”, a banda gravou “Miragem”. O disco mostra o potencial musical da banda, que misturava influências de Beatles e de músicas brasileiras. Se não fossem as circunstâncias em que apareceram e desapareceram, Os Lobos poderiam ser tão dissidentes da Tropicália quanto os Mutantes. Assim como as gravadoras com as quais se relacionaram na época, a história também foi negligente com essa banda (e outras), mas o retorno e a promessa de um segundo volume do livro “Histórias perdidas do rock brasileiro”, sobre esse movimento, escrito por Nélio Rodrigues, prometem resgatar essa memória que não pode ficar pra sempre perdida.
Matérias que vale a pena ler:
Jornal O Globo: ‘A volta dos psicodélicos de Niterói’
Ziriguidum: ‘Páginas ocultas da história da banda que lançou Ral Seixas’
o Cassio e a Cristina são demais, conhecem de musica brasileira.
Bosco Bubula
Rio Branco Acre,
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