The Byrds: A banda que apresentou Bob Dylan ao mundo

Posted by Cornélio Melo Category: Colaborações

The ByrdsNo início dos anos 60, os rótulos musicais americanos eram sempre muito bem definidos, sem misturas: ou era rock ou era folk ou era country ou era jazz. Em 1964, o músico norte-americano Roger McGuinn, um guitarrista de rock, completava dois anos tocando com o The Chad Mitchell Trio e com o cantor Bobby Darin, aquele da música “Splish Splash”, que, no Brasil daquele tempo, foi o primeiro hit do então iniciante Roberto Carlos, que estava chegando com sua Jovem Guarda. McGuinn, então influenciado pelo som acústico do folk, tornou-se fã assumido da banda The Dillards, que usava o formato conhecido por bluegrass, misturando violinos, banjos, bandolins e guitarras, e que teve como sucesso a música “Dueling Banjos” que, anos depois de gravada, fez parte da trilha sonora do filme “Deliverance” (“Amargo pesadelo” aqui no Brasil). Tocando no circuito de clubes de Los Angeles, McGuinn conheceu Gene Clark, David Grosby, Mike Clarke e o bandolinista Chris Hillman, que, acreditem, tornou-se o baixista oficial da sua nova banda, intitulada The Byrds.

Por que “Byrds” e não “Birds” (pássaros)? Há controvérsias! Um seguimento da literatura musical americana afirma que eles usaram o mesmo recurso dos Beatles, que deveria ser “Beetles” (besouros), como forma de chamar atenção do público. Um outro seguimento fala em homenagem a um já falecido e cultuado, mas desconhecido, cantor folk. Uma terceira hipótese, citada inclusive no site de Ron Wood (guitarrista dos Rolling Stones), dá conta de que o “Y” foi usado para diferenciar do nome da banda inglesa The Birds da qual ele fazia parte. O mais importante desta história é que a banda americana ajudou a popularizar o folk, usando seu rock em uma mistura bem-sucedida que foi apresentada aos circuitos. Quem tirou proveito disso foi, entre outros, Bob Dylan.

Em 1965, The Byrds entraram no estúdio da Columbia Records e perpetuaram nas fitas de gravação a canção folk de Bob Dylan “Mr. Tambourine Man” num ritmo que ficou conhecido como folkrock. No mesmo álbum, apresentaram mais três covers de Bob Dylan, todos passados para a linha folk rock: “Spanish Harlem Incident”, “All Really Want To Do”, versão que na época foi também gravada por Sonny & Cher, e “Chimes of Freedom”. Neste disco, o vocalista Gene Clarck (1944-1991) contribuiu com duas canções, que, além das de Dylan, não podem deixar de serem ouvidas: “I’ll Feel a Whole Lot Better” e “Here Without You”. O grande diferencial dos Byrds entre a maioria das bandas americanas daquela época estava não só na levada folk rock como também no som riquíssimo da guitarra de 12 cordas Rickenbacker de Mc Guinn, tudo isso associado a arranjos vocais que remetiam aos veteranos The Beach Boys. Lançado o LP, que ganhou o título de “Mr. Tambourine Man”, os Byrds alcançaram o topo de todas as paradas mundiais.

The ByrdsNo ano seguinte, a banda  lançou seu segundo álbum “Turn, Turn, Turn”. A canção de mesmo nome, que mais tarde viria a fazer parte da trilha sonora do filme “Forrest Gump” e também do longa “Anos 60”, é uma adaptação do cantor Peter Seeger para um verso bíblico, e levou novamente a banda ao topo das paradas. Com mais duas contribuições de Dylan e três de Gene Clark, já considerado o primeiro compositor oficial do Byrds, a canção “He Was A Friend Of Mine”, composta por Mc Guinn, caiu no gosto do público norte-americano, principalmente, por celebrar a memória do presidente John Kennedy. Ainda em 66, The Byrds lançou o terceiro álbum, “Fifth Dimension”, onde McGuinn demonstrou sua paixão por situações extraterrestres em canções como “Mr. Spaceman” e também na faixa que dá nome ao LP.

Em 1967, os músicos lançam o álbum “Younger Than Yesterday”, com destaque para “So You Want To be a Rock’n Roll Star”, de Mc Guinn e Hillman, considerada por muitos críticos como o primeiro rock progressivo da história da música. Hillman, no entanto, contesta dizendo que a canção não tem nenhum traço progressista e que, na verdade, foi feita como uma crítica a The Monkees, banda americana que causou muitas polêmicas ao ser acusada da fraude em suas gravações. “My Back Pages” é a única contribuição de Dylan. “Have You Seen Her Face”, de Hillman, e “Renaissance Fair”, de Crosby, não devem passar despercebidas. Em 1968, já sem Gene Clark e David Crosby, que deixaram a banda para administrar projetos solo, Mc Guinn, Hillman e Mike Clarke lançam o álbum “The Notorious Byrds Brothers”, tendo duas canções que destacam-se: “Going Back”, de Carole King e G. Goffin, e “Wasn’t Born To Follow”, que fez parte da trilha sonora do filme “Easy Rider” (“Sem Destino”, aqui no Brasil). Após o lançamento desse disco, que fez sucesso somente na Inglaterra, o baterista Mike Clarke deixa a banda. Substituído por Kevin Kelley, o grupo lança o que é considerado pela crítica o primeiro disco de country rock da história, intitulado “Sweetheart Of The Rodeo”, onde o novato guitarrista Gran Parson (1946/1973) assume o lugar de Crosby. Em 1969, lançam “Dr. Byrds & MR. Hide” com destaque para a canção “This Whells On Fire”, de Bob Dylan.

Em 1969, a banda retorna com nova formação, com a entrada de Clarence White (1944/1973) na guitarra, Gene Parsons na bateria e John York no baixo. Depois, com John York substituído por Skip Battin (nunca vi coisa igual!), The Byrds assume uma postura mais rock’n’roll, deixando em segundo plano seu lado folk-rock e lançando em 1970 “The Ballad Of Easy Rider” e “Untitled”, álbum duplo com um LP de estúdio e outro ao vivo, onde a música “Mr. Spaceman”, na versão ao vivo, leva a plateia ao delírio. Esse disco ficou no Top 40 das paradas americanas. Seguem-se, então, os álbuns “Byrdmaniax” (1971) e “Father Along” (1972), sem sucesso comercial.

The ByrdsEm 73, Mc Guinn reúne a Banda com a formação original e gravam “The Byrds” que atinge o Top-20. Depois disso, o grupo encerra suas atividades. Dez anos depois, The Byrds foi inserida no respeitado Rock And Roll Hall Of Fame. A ocasião em que foi marcada por discursos emocionados dos cinco membros fundadores e situações constrangedoras, como o notório estado de embriaguez do baterista Michel Clarke, entoaram a canção “Turn, Turn, Turn”, com participação dos amigos Don Henley (da banda The Eagles) e Jack Broune. Michel Clarke morreria no ano seguinte por problemas causados pelo uso abusivo de álcool.

Muitas bandas que vieram depois, entre elas Tom Petty and The Heartbrakes, com quem Roger Mc Guinn gravou a faixa “American Girl”, cantando e tocando sua 12 cordas, Eagles e R.E.M, afirmam que os Byrds foram sua grande influência. Vale citar que a banda teve lançada a “Ultimate Box”, com 90% de sua obra em CDs e um DVD com vários clipes gravados em programas de TV e shows. Teve ainda cinco LPs indicados no livro “1001 discos para ouvir antes de morrer”, uma maravilhosa obra de pesquisa feita por feras do mundo musical. E, em 1992, no show de comemoração dos 30 anos da gravação do primeiro disco de Bob Dylan, no Madison Square Garden, para 18.000 pessoas, de todos os tributos feito por diversos artistas (Eric Clapton, Neil Young, J. Cash, George Harrison, Mc Guinn e o próprio Dylan, entre outros), seis das músicas apresentadas haviam sido sucesso dos Byrds nos anos 60.

E eu confesso que pelo menos uma vez pro semana coloco “os discos na vitrola” e deixo The Byrds alçar seu vôo magistral!

Referências:

The Byrds:

6 thoughts on “The Byrds: A banda que apresentou Bob Dylan ao mundo

  1. Valeu. Apenas algumas correções: O nome BYRDS e não BIRDS foi devido ao fato de existir uma banda britânica com o mesmo nome(BIRDS,com Ron Wood dos Rolling Stones!), ou seja, questões judiciais. So You Want To be a Rock’n Roll Star foi feita como uma crítica aos Monkees( segundo um dos autores, Crhris Hillman, e não tem nenhum traço progressista, ao contrário de algumas músicas do álbum FIFTH DIMENSION, que usam a guitarra inspirada no saxofonista free jazz JOHN COLTRANE. O álbum Dr. Byrds And Mr. Hyde é de 1969, ou seja, após, o NOTORIOUS BIRD BROTHERS. O álbum BALLAD OF EASY RIDER é sim, um retorno ao folk rock. Finalizando, o album de reencontro deles foi feito em 1973 e não 1981. Abraços, Alexandre.

  2. Olá, Alexandre!

    Obrigado pela leitura e pelos comentários. Fiz alterações que julguei necessárias no texto original e, a seguir, faço algumas observações:

    No caso das datas equivocadas da discografia comentada, o erro de data do lançamento do LP da reunião, de 1973, foi o que mais me incomodou… Acredito em falha na digitação que passou despercebida na revisão que eu mesmo fiz.

    Quanto ao traço progressista de “So You Want To Be a Rock’n Roll Star”, inseri no texto a declaração de C. Hillman sobre o tema sem dispensar, no entanto, as demais informações citadas advindas de outras fontes.

    Com relação a “Byrds X Birds”, acrescentei a versão lembrada por você, mas confesso que, particularmente, tenho dúvidas com relação a isso. A banda Inglesa The Thunderbirds, formada em 64, trocou de nome para The Birds num momento que coincide com o “estouro” de Mr. “Tambourine Man” na Inglaterra. Não teria sido mero oportunismo comercial da banda de Ron Wood?

    Abs,

    Cornélio Melo

  3. Gostei muito do texto. Sou beatlemaníaco desde a adolescência, e hoje, aos 52 anos de idade, e tendo acompanhado o rock and roll desde o início da década de 1970, entendo que The Byrds e The Beach Boys foram as bandas que mais se aproximaram dos Beatles em termos de qualidade: vocais, arranjos, qualidade dos músicos. Não gostaria de entrar no campo das correções, até mesmo porque outros já teceram comentários. Assim, lhe parabenizo pelo texto.
    Abraço.

  4. Oii Chris,

    A nível de curiosidade, o Renato disse em uma entrevista que Quando o Sol, foi inspirada nas músicas desta banda.

    Abs

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