Zé Ramalho e Sepultura no Rock in Rio: Nordeste e heavy metal no Sunset

Posted by Chris Fuscaldo Category: Entrevistas

Zé Ramalho com Sepultura 2Quem vê Zé Ramalho nos estúdios ou nos palcos acompanhado de violões ou violas não imagina como a guitarra é importante na sua formação musical. E nem que a relação do músico paraibano com a instrumento é mais antiga do que sua própria iniciação no mundo da música. Mas quem conhece minimamente a obra de Zé sabe que ele já abriu alas para nomes como Sérgio Dias, Patrick Moraz e Pepeu Gomes passar. Quase 40 anos depois dessas primeiras experiências, Zé volta a encontrar um guitar man, desta vez ao vivo, no Palco Sunset do Rock in Rio. No domingo 22/09, o autor dos clássicos “Chão de Giz” e “Vila do Sossego” vai dividir o palco com Andreas Kisser no show Sepultura + Zé Ramalho.

“Quando ouvi Beatles tocando no rádio, deu uma agonia… deu vontade de tocar um instrumento! E foi quando comecei a procurar a guitarra, aprender os acordes… comecei a tocar  em grupos de baile. E passei a admirar muito um guitar man e os guitarristas que surgiram na década de 60, as lendas da guitarra, os gigantes desse instrumento tão carismático que arrasta multidões. O cara que toca uma guitarra bem é um super homem pra mim. E essas guitarras do Sepultura arrebentam com tudo”, comentou Zé durante coletiva de imprensa realizada no escritório do Rock in Rio nesta quinta-feira (22/08).

Zé Ramalho com SepulturaZé fala com propriedade não só sobre a guitarra como também sobre toda a banda por ter experimentado a parceria anteriormente, em 2003, quando gravou com o Sepultura uma versão heavy metal de “A Dança das Borboletas” para a trilha sonora do filme “Lisbela e o Prisioneiro”. Na época, banda e músico entraram no palco para a gravação em vídeo – que está em um DVD do filme e no Youtube – e tocaram sem muito ensaio. Depois da guitarra que deu mais poder ainda à música, o ponto mais alto foi o improviso do vocalista Derrick Green, que traduziu trechos da letra e entrou com seu vozeirão costurando a canção. “Quando Derrick entrou cantando o junto comigo, parecia que o mundo estava se acabando”, brincou Zé.

“O André Moraes teve a ideia de juntar Sepultura com Zé e foi inusitado, porque a gente não imaginava no que ia dar. Foi tão simples e ficou muito bom. Essa relação tem uma química muito boa. Acho que nossas músicas estão próximas pela atitude. Tecnicamente, são diferentes, cada uma tem suas características, mas o coração é honesto. Quando você se expressa honestamente através da arte, não tem estilo ou divisão. Quem ia imaginar o Zé Ramalho fazendo música com o Sepultura um dia? Mas é um privilégio pra gente”, disse Andreas Kisser.

O grupo não começou a ensaiar ainda, portanto, o repertório é ainda nebuloso. Tem-se certeza de que estarão no roteiro “A Dança das Borboletas”, claro, além de “Jardim das Acácias” e “Admirável Gado Novo”. Do Sepultura, “Ratamahatta” foi a primeira escolhida para ser interpretada pelo cantor. “O Zé Ramalho tem muito rock em suas raízes”, declarou Kisser. “A Dança das Borboletas” é uma música meio mística de Zé e Alceu Valença presente no primeiro álbum do paraibano, de 1978, que é meio influenciada pelo rock progressivo na introdução, mas vai ficando mais pesada a cada trecho. Quem gravou as guitarras e pedais eletrônicos – é assim que eles escreveram no encarte do disco – foi ninguém menos que Sérgio Dias Baptista, guitarrista dos Mutantes.

Zé Ricardo com Zé Ramalho e SepulturaPatrick Moraz, guitarrista do Yes, gravou “Avôhai” no álbum de estreia de Zé. Já o cabeludo dos Novos Baianos Pepeu Gomes esteve com  Zé em “Jardim das Acácias”, presente no disco “A Peleja do Diabo com o Dono do Céu”, de 1979. “Com o rock, sentia uma energia diferente. Anos depois descobri a música do Nordeste, os cantadores, o baião e o forró, e naturalmente consegui juntar essas culturas todas: essa música de raiz da minha região com a música poderosa eletrificada. Quando tive a oportunidade de gravar com o Sepultura, eu me senti crescendo. Convidado agora pelo festival, meus quatro filhos homens passaram a me respeitar mais”, brincou Zé.

Para Zé Ricardo, diretor artístico do Palco Sunset, é uma responsabilidade enorme misturar os públicos dos artistas. Mas ele tem a certeza de que está no caminho certo para uma melhor educação musical dos frequentadores do Rock in Rio: “Eu sinto que é minha também a responsabilidade de apresentar não só o que tá tocando na rádio, mas provocar. Zé Ramalho ali vai buscar o pessoal de 12 e 14 anos, vai fazer esses adolescentes irem atrás de sua obra. Tenho escutado muitas pessoas dizerem que conheceram no Sunset artistas que não conheciam antes. A gente tem a responsabilidade de, além de programar, atualizar as pessoas. Fico orgulhoso de o Rock in Rio abrir essa oportunidade de darmos esses presentes para o público.”

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