Atualmente parte integrante da banda de Lulu Santos, ex-baixista de Paula Toller e parceiro de nomes como Hyldon, Ronaldo Bastos, Kassin, Jorge Ailton está lançando seu segundo CD, “Canções em Ritmo Jovem”, totalmente influenciado pela turma dos anos 1980. Com participação de Lulu, o instrumentista e compositor sobe ao palco da Miranda nesta terça-feira (16/07), às 19h, para uma conversa com o jornalista Bernardo Araújo e para apresentar o show de lançamento do álbum no projeto PatuÁ. Sucessor do “O ano 1“, disco lançado pelo selo La Toller LMC, o novo trabalho tem produção de Alexandre Vaz (guitarrista e cantor da banda Cabeza de Panda, acompanha também o rapper Marcelo D2), parcerias com Ronaldo Bastos (“Vida Pequena de um Grande Amor”), Kassin (“Uma Noite Fria”) e Daniel Lopes (“Blues de um Gigolô”), além da releitura de “Criança”, de Marina Lima, e participações de Dado Villa-Lobos (“Sustentável”) e Lulu Santos (“Chega de Longe”). Leia abaixo uma entrevista com Jorge Ailton.
A maior parte de seus parceiros são ícones dos anos 80. Fale de sua relação com a música desta década.
Apesar de também ser parceiro de Ronaldo Bastos, nesse CD inclusive, e do Hyldon (“Revanche”, minha e do Hyldon, foi gravada pelo Leo Maia), a música da década de 80 é fundamental na minha formação pessoal e musical. Quando comecei a estudar música, lá por 1986/87, era o auge da geração 80. Depois que me tornei músico profissional, essa afinidade musical foi nos aproximando naturalmente. Ser parceiro da Paula Toller, da Fernanda Abreu e do Lulu Santos é uma honra pra mim. É um aprendizado imenso observar e participar do processo criativo desses grandes artistas. É uma coisa bem tranquila, gradativa. Geralmente, começo tocando baixo, vou dando ideia pra um arranjo aqui, outro ali, aí a troca de informações fica mais intensa e geralmente a consequência desse processo todo é fazermos algumas canções juntos.
Mas também acho que minha geração está muito bem representada tanto quantitativamente como em qualidade, pois tenho a oportunidade de ser parceiro de Daniel Lopes, Kassin, Alexandre Vaz (fundamental no meu trabalho) e Rodrigo Bittencourt.
Fale sobre sua admiração e sua relação com Lulu Santos, Paula Toller, Marina e Dado Villa-Lobos.
Marina é uma grande artista com a qual tive oportunidade de tocar uma única vez em um evento em São Paulo. É uma compositora sensacional, que admiro muito. Lembro de ficar chapado assistindo o show do CD “O chamado”, no Imperator. É uma inspiração pra mim.
A Paula Toller é fundamental na minha carreira, além de admirar seu trabalho e de tê-la acompanhado como baixista por três anos e gravado um DVD, ela se tornou minha parceira e lançou meu primeiro CD, “O ano 1”, por seu selo. Através da proximidade com a Paula, conheci o Dado Villa-Lobos (eles são muito amigos), que é um cara sensacional, guitarrista da maior banda pop do Brasil na minha opinião ao lado dos Mutantes, além de ser um pesquisador incansável e sabe tudo o que está acontecendo no mundo da música. Gravei grande parte do meu CD no estúdio dele, o Rock it! E ele acabou gravando uma guitarra sensacional e hipnótica em “Sustentável”.
O Lulu é um gênio! Gravei com ele, convidado pelo Mêmê, no CD “Bugalu” de 2003 e depois fiquei um tempo sem vê-lo. Em 2009, o próprio Lulu me convocou pra gravar o CD “Singular”. Gravei o CD inteiro e ele ainda acabou fazendo uma versão de “Atropelada”, música do meu primeiro CD. E, desde então, faço parte da banda dele também. Ele tem um respeito imenso com o meu trabalho e acabou participando também em “Chega de longe”.
Ser incentivado por pessoas que admiro tanto me enche de ânimo, mas também é uma certa responsa, pois principalmente a Paula e o Lulu muitas vezes assinaram embaixo do meu trabalho, e esse nome foi construído em mais de 30 anos de carreira ou seja não tem preço.
Como funciona seu processo de composição?
Bem simples. Pego o violão e fico tocando. Faço isso diariamente e, de vez em quando, eu paro numa melodia ou numa frase musical que me interessa, desenvolvo na hora mesmo ou gravo pra desenvolver depois. Se eu for fazer a letra, geralmente já vem junto com a melodia. E faço isso rápido. Se eu empacar na letra, é sinal de que devo entregar a algum parceiro. Agora… saber que parceiro será esse, se é recorrente ou novo, é pura intuição.
Como você define o álbum ‘Canções em ritmo jovem’?
Uma coletânea de canções minhas (e uma emprestada) unidas por uma ideia de se fazer um disco um pouco mais divertido e menos denso que o primeiro. É um álbum que fala de encontros, e só foi possível pelo encontro musical desses vários parceiros.
Leia o ótimo release assinado por Luiz Henrique Romanholli:
Talento e carisma são conceitos difíceis de explicar, mas fáceis de reconhecer. Jorge Ailton é um desses casos. Cantor, compositor, baixista e violonista, esse carioca do Méier causa sempre a mesma reação em quem o escuta e vê no palco, acompanhando com seu baixo incrivelmente grooveado o rei do pop Lulu Santos. Pescoço virado, ouvidos atentos, olhos bem abertos, é normal o expectador se espantar com Jorge Ailton: “Opa! Aí tem!”. E tem.
CANÇÕES EM RITMO JOVEM, o segundo disco de Jorge Ailton, tem um monte de músicas boas. Treze, para ser mais exato. Doze no CD físico e Au revoir, arrivederci (Jorge Ailton/Rodrigo Bittencourt) que só estará disponível no formato digital. A sensibilidade pop que já ficara clara no CD de estreia, “O ano 1” (2010) ressurge mais madura e polida em CANÇÕES EM RITMO JOVEM. “Vida pequena de um grande amor”, parceria com Ronaldo Bastos, talvez seja o exemplo mais cristalino desse amadurecimento musical. Uma viciante balada soul – em que fica flagrante a influência de Cassiano, Hyldon e Tim Maia na formação de Jorge Ailton – conta com belo arranjo de cordas de Maycon Ananias. Lírica, épica, com jeitão de clássico, encerra em seus versos uma verdade indiscutível: “Gostar de alguém muda tudo”.
E é curioso falar em maturidade a respeito de um álbum que nasceu de uma brincadeira juvenil. Literalmente. Título e conceito do disco surgiram durante as gravações. “Eu e Alexandre Vaz (produtor do CD, guitarrista do Cabeza de Panda e da banda de Marcelo D2) estávamos ouvindo muita coisa de Mark Ronson e Cee Lo Green”, conta Jorge Ailton. “E nós íamos compondo influenciados por esse som, uns riffs meio boogaloo, aquele rock meio r&b dos anos 1960”. E, a cada nova ideia ou canção, a dupla exclamava: “Essa ficou bem jovem!”. Daí veio o conceito do disco: “ritmo jovem”. Mas ritmo jovem com feeling e atmosfera retrô, como se a dupla de produtores estivesse descobrindo esse som há 50 anos em algum porão de Londres ou garagem da Califórnia. A partir dessa base r’n’b/boogaloo meio ingênua, as músicas ganharam camadas contemporâneas, seja por conta de efeitos e timbres dos instrumentos, seja pelas letras e melodias, estas nada ingênuas.
E esse contraste entre trabalho musical de gente grande construído a partir de um conceito “jovem” é o que torna resultado delicioso.
Gravado em torno do núcleo de músicos formado por Alexandre Vaz (guitarra, programação de bateria, vocais), Lourenço Monteiro (bateria, também integrante do Cabeza), Rodrigo Tavares (teclados) e o próprio Jorge Ailton no baixo, CANÇÕES EM RITMO JOVEM conta com algumas participações bem especiais. Lulu Santos, parceiro em “Chega de longe”, canta na segunda parte da canção, um dos destaques do CD. Refrão ganchudo, guitarra funky de Fernando Vidal e bateria quebra-cabeça de Lourenço Monteiro. Dado Villa-Lobos, aquele guitarrista de uma tal de Legião Urbana, empresta seus ruídos à soturna “Sustentável”, que encerra o CD.
“Criança”, de Marina Lima, é o único cover do disco. Jorge Ailton, Cesinha (bateria) e Rodrigo Nogueira (guitarra) e Rodrigo Tavares (ótimo solo de órgão hammond) desconstroem o sucesso lançado pela cantora no LP “Marina Lima”, de 1991. O resultado é hipnótico.
Além de Lulu Santos e Ronaldo Bastos, Kassin (produtor, baixista, guitarrista e onipresente) contribui com uma parceria em CANÇÕES EM RITMO JOVEM: “Uma noite fria” tem clima entre o psicodélico dos 1960 e o glam rock dos 70, salpicado pelo würlitzer de Rodrigo Tavares. “Dó”, funk nervoso, é outra que deixa flagrante os anos de formação musical de Jorge Ailton à base de muito charme nos bailes do Clube Vera Cruz, no bairro carioca da Abolição.
A trajetória musical de Jorge Ailton começou dentro de casa, no subúrbio do Méier. Seu avô, Moacyr Silva, saxofonista e maestro que gravava sob o pseudônimo Bob Fleming e chegou a trabalhar como produtor para Elizeth Cardoso, plantou a semente. Samba, soul, rock, r&b, funk e pop formaram a persona musical. Aos 13 anos, começou a estudar violão com Carlinhos Delmiro, irmão do monstro Hélio. Dois anos depois, passaria para o baixo. E que baixo…
Com trabalho duro, ralação em gigs, Jorge Ailton começou a chamar a atenção como baixista: preciso, grooveado, melódico, com voz própria. Mas tinha mais no pacote: um excelente cantor e um compositor com profundidade, aliada a uma pegada pop. O trabalho como baixista e cantor na banda Funk U (uma joia do soul carioca que passou debaixo do nariz das rádios nas duas décadas passadas) e como músico das bandas de Sandra de Sá, Mart’nália, Zé Ricardo, Toni Garrido e Paula Toller ajudaram a amadurecer seu talento. Hoje, além da carreira solo, Jorge Ailton é baixista da banda de Lulu Santos.
E é um compositor positivo e operante. Jorge Ailton tem parcerias com Hyldon (“Revanche”, gravada por Leo Maia), além de inéditas com Paula Toller, Fernanda Abreu, Lulu Santos, Kassin e Ronaldo Bastos. Ou seja, vem mais por aí.
Gravado no 1º semestre de 2012 nos estúdios Universo Fantástico, Rock it, Mega e Cia. Dos Técnicos CANÇÕES EM RITMO JOVEM foi produzido por Alexandre Vaz e co-produzido por Jorge, mixado no inverno de 2012 no estúdio Fábrica de Chocolate, por Damien Seth e masterizado em Janeiro de 2013 no estúdio Magic Garden Mastering por Brian Lucey. Além de compiladas num CD independente, distribuído pela Tratore, CANÇÕES EM RITMO JOVEM estará disponível para download na loja da Apple, iTunes.