Cantora, compositora, cineasta e ‘filha de’

Posted by Chris Fuscaldo Category: Trabalhos

Herdeira de Glauber, Ava Rocha lança disco de estreia de sua banda, AVA, e faz show no Rio

Realizado todas as quartas-feiras, às 20h30, gratuitamente, no Studio RJ (Av. Vieira Souto, 110, Ipanema), o projeto Cedo e Senta, do Fora do Eixo, recebe a banda AVA. Apresentando o show do disco “Diurno”, AVA é formada por Ava Rocha, Daniel Castanheira, Emiliano Sette e Nana Carneiro da Cunha. A banda Canastra encerra a noite e, no comando das picapes, a DJ Tata Ogan apresenta seu estilo “Da raiz ao chip”. Para conhecer melhor a AVA, leia a matéria que saiu na revista Rolling Stone de dezembro sobre AVA, com complemento especialmente feito para o GarotaFM:

 

“Surge uma nova cantora de voz grave.” A manchete poderia ser essa se Ava Rocha não fosse muito mais do que isso. A cantora de voz peculiarmente grave é também compositora, cineasta, neta de Jorge Gaitán Durán, poeta famosíssimo na Colômbia, e filha caçula do ícone do Cinema Novo Glauber Rocha. Ava entende menos de música do que de cinema, mas enveredou para essa arte depois de aprender a ser musicista com o irmão, o compositor Pedro Paulo Rocha. Ela reuniu três músicos de talentos tão peculiares quanto o dela na AVA e, desde 2008, com o microfone na mão e muitas ideias na cabeça, vem recebendo elogios, conquistando seu público nos palcos do Rio de Janeiro e gravando. O resultado da experimentação está no disco “Diurno”, que a Warner acaba de lançar.

“Sou a pessoa menos preparada musicalmente na banda. Falo de composição como se estivesse falando de um filme que invento. Sempre cantei, mas nunca me vi como cantora. Comecei a entender esse meu lugar na música ao lado do Pedro, porque ele também não tem o compromisso estritamente musical. A partir da música que ele faz, estética, política e filosófica, senti uma vitalidade no meu canto. Encontrei neles (músicos da banda) a mesma liberdade”, conta Ava.

Pedro virou o quinto elemento da AVA, além de parceiro da irmã em “O Futuro”, “Batendo no Mundo” e “Filha da Ira”, esta última a primeira composição da artista. Na banda, estão Daniel Castanheira, Emiliano Sette e Nana Carneiro da Cunha. Doutorando em Letras, Daniel assume a bateria, a percussão e os elementos eletrônicos do álbum. Fã de João Gilberto e Jimi Hendrix, Emiliano toca violão com pedais. Nana faz do violoncelo seu instrumento de rock’n’roll. No palco, o quarteto também é acompanhado pelo baixista (Rodrigo Sebastian) e  pelo pianista (Otávio Ortega), que também gravaram em “Diurno”. Gravado em estúdios, salas abertas e até no atelier do Tunga (artista plástico que fez a capa do CD), a mistura resulta em um som experimental, meio soturno meio enigmático e, sem dúvida, orgânico e diferente de tudo o que se vê por aí.

“Cada um traz seu conjunto de referências e todo mundo compartilha algumas. John Cage, Velvet Underground e Arto Lindsay, que gravou guitarra em ‘O Futuro’, são alguns. A última música do disco são todas as músicas coladas uma por cima da outra numa faixa só. É uma ruidagem que Cildo Meireles fez em um dos trabalhos dele”, diz Daniel.

Ava tenta enumerar as influências acumuladas em seus 32 anos de vida: “Para mim, referências fortes nesse disco e nesse processo são Clarice Lispector, Frida Kahlo, Hélio Oiticica, Glauber Rocha, Jards Macalé, John Cage, Godart, Deleuze, a poesia latino-americana, Charly Garcia…”

Da MPB, a banda regravou “Movimento dos Barcos”, de Jards Macalé e Capinam, e “Pra Dizer Adeus”, de Edu Lobo e Torquato Neto. Os irmãos Ava e Pedro assinam com Clarice Lispector a autoria de “Batendo no Mundo”, que traz uma passagem do livro “Água Viva”, da escritora. Do avô colombiano, Ava Rocha trouxe para o disco, musicado por ela e Emiliano, o poema “Sé Que Estoy Vivo”, do Livro “Os Amantes” (1959). Orgulhosa de sua história, Ava não tem medo do estigma de “filha de”.

“Minha mãe se chama Paula Gaitán e também é cineasta. Minha avó era diretora de teatro. Dos 14 aos 20, morei em Bogotá e deixei de ser a filha de Glauber para me tornar a neta de Jorge Gaitán Durán. Mas sempre fui eu, e acho natural que as pessoas tenham afeto e transfiram um pouco esse sentimento. E não me incomoda. Talvez possa estar havendo uma certa preguiça. Meu irmão (Eryk Rocha) é um cineasta importante no Brasil e continuam chamando ele de ‘filho do Glauber’. É um gancho, abre portas, mas é uma coisa natural na nossa vida… Mas não sou a única filha de cineasta nessa banda”, esquiva, apontando para Emiliano.

O violonista é filho de José Sette, autor de filmes como “Um Filme 100% Brazileiro” e “A Janela do Caos”, e, assim como todos os outros, inclusive Ava, fã de Glauber:

“Independente de qualquer coisa, meu pai só traz coisas boas para todas as pessoas que tem ligação com a cultura brasileira. Todos aqui são filhos de Glauber”, finaliza Ava.

3 thoughts on “Cantora, compositora, cineasta e ‘filha de’

  1. Você quis dizer o contrário, que demorou desde o lançamento do álbum até o show, certo? O álbum saiu em dezembro e teve aquele show para convidados no Jardim Botânico. Este é aberto a público, acho que um dos primeiros no Rio. É, demorou. Mas dezembro é um mês tão atribulado que show em janeiro é sempre mais fácil de atrair público. 😉

  2. Nossa, não sabia que ela tava bombando assim! Tá mandando bem! Vou ver se consigo assistir alguma apresentação 😉

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