Coletiva virtual de Marisa Monte teve como foco os pontos de vista da cantora… mais do que o lançamento de seu novo disco

Posted by Chris Fuscaldo Category: Entrevistas

Na coletiva de imprensa online que ofereceu na manhã desta quinta-feira (03/11), Marisa Monte começou falando sobre a…. coletiva de imprensa online que ofereceu na manhã desta quinta. Novidade que ela nunca havia experimentado, o encontro com os jornalistas na internet foi negociado assim para que todos tivessem a mesma oportunidade, desde a repórter de Portugal até o de Curitiba.  Durante uma hora, a cantora respondeu a muitas perguntas para cerca de 55 pessoas sobre seu novo disco, “O Que Você Quer Saber de Verdade”, e muito mais.

“É legal dar oportunidades iguais a todo mundo. Eu sonhava com isso. Há 15 anos, eu fazia turnê de divulgação em todos os países para falar. A internet dá a possibilidade de falar com todo mundo. É uma experiência nova que abre possibilidades novas. Espero que a imprensa possa viver esse novo momento comigo. É uma mudança para todo mundo. Tem a questão do ritmo da imprensa. Todo mundo tem que sair (dar a notícia) no mesmo dia. Uma maneira democrática de atender a todos era dar essa condição através do site. Daqui a pouco vou falar com um por um. Mais pra frente vamos ter outros encontros”, declarou Marisa, deixando em aberta a possibilidade de dar outras entrevistas.

Perguntas sobre o disco demoraram a aparecer. Antes, jornalistas quiseram saber sobre pontos de vista de Marisa Monte. Primeiro, foi desmitificada a ideia de que Marisa Monte não lança(ria ou rá) mais disco:

“Você lançar um grupo de canções juntas de tempos em tempos tinha sido determinado pelo LP e, depois, o CD. O 78 rotações, as pessoas lançavam de dois em dois. (Numa entrevista no site…) Eu falava que o formato estava em transformação. A constatação é de que cada um escuta à sua maneira. Se criaram muitas maneiras de ouvir música. Eu falei que poderia lançar de dois em dois discos, três em três. Mas nunca disse que não ia lançar disco.”

Sobre formato, ela continuou falando um pouco depois, junto com sua resposta sobre como escuta música hoje em dia. E, como sempre faz, defendeu o conceito de “álbum”.

“Eu raramente escuto música no shuffle. Gosto de ouvir álbum. Sempre escuto o álbum inteiro. É engraçado. Raramente escuto no mp3 player. Escuto mais no computador. Não me adaptei tanto a administrar aquele arquivo no celular ou no iPod. No carro, no meu som  nem liga iPod. Escuto rádio ou CD. Outro dia, cheguei em casa e tinha uns amigos. Cheguei com o CD Player e uns CDzinhos e eu senti um clima de ‘Ai que amor, ela toca CD’. Parecia que eu estava chegando com uma vitrolinha e uns LPs. Esse álbum eu fiz pensando num álbum que tem como formato o CD. É um grupo de canções juntas agrupadas, formato herdado do LP, que pra mim não mudou ainda. Acho legal que possa sei lá daqui a um tempo lançar uma música ou outra e não esperar tantos anos pra lançar um grupo de cancões. Ao mesmo tempo, acho legal ter um grupo de canções que têm um conceito. Tribalistas tem um conceito. Aquelas cinco pessoas tocando aquelas músicas… É legal que esteja tudo junto. Esse (disco) também reflete o momento, tem um ponto de ligação, um conceito de álbum. Antigamente, Carmen Miranda lançava duas músicas no carnaval, uma no São João e uma no fim do ano. Era mais dinâmico porque era tudo era diferente. A indústria era diferente. A gravadora tinha uma orquestra contratada. Aquilo funcionava como uma fábrica. Hoje não é assim”, comparou.

Se Marisa é considerada “antiga” no seu modo de ouvir música, seu gosto por estrelas da época de seus pais segue o mesmo caminho. No novo disco, ela incluiu uma versão em português do tango Lencinho querido (El Panuelito), de Juan de Dios Filiberto  e Gabino Coria Penaloza, sucesso na voz de Dalva de Oliveira nos anos 50.

“Eu sempre gostei de música antiga brasileira. Eu era uma adolescente diferente porque gostava de fuçar disco da avó e do pai. Não tinha CD e era difícil encontrar relançamentos em LP. Eu ia muito a sebo ou na Funarte comprar LPs. Tinha aquela coleção Abril e eu me lembro de ter compilações da Dalva. Essa música, eu conheço desde essa época, de 15 ou 16 anos, quando eu ouvia Dalva, Lupicínio (Rodrigues), Francisco Alves, repertório que entrei em contato muito jovem. Não era gosto comum para pessoas da minha geração, mas hoje em dia faz o maior sentido eu ter vivido isso. Eu fazia aula de canto, mas não era cantora profissional. Era uma curiosa”, lembrou Marisa.

Sem ficar presa ao passado, Marisa destacou também nomes da atualidade que chamam sua atenção: “Das cantoras, eu adoro a Nina Becker, a Tulipa Ruiz, Maria Gadú, Mallu Magalhães… Tem várias pessoas fazendo trabalhos interessantes. Dos compositores, (Marcelo) Jeneci, Andrea Carvalho… Sempre tem coisas interessantes surgindo. Tem um cara que não conheço tanto, mas tenho curiosidade de ouvir é o Criollo. Tem o Pretinho da Serrinha. Quando perguntam assim, esqueço, mas tem muita coisa interessante.”

Marisa ressaltou que “O Que Você Quer Saber de Verdade” não foi inspirado em estilo nenhum, mas fez questão de frisar que não tem preconceito. “Eu disse (anteriormente, durante a entrevista) que não era meu disco mais popular. Acho que parte da popularidade não vem de um estilo, mas da clareza das canções, da capacidade de me comunicar através do canto, dos arranjos, com intenção de fazer com que elas tenham uma mensagem clara, que possam chegar às pessoas”, disse, pouco depois de responder a uma pergunta sobre qual estilo ela ainda gostaria de gravar.  “Não penso num estilo. As coisas têm vida própria. Talvez tenha coisas que eu nunca fiz. Não tenho nenhum preconceito contra nenhum estilo musical. Tem coisas boas em todos os estilos e coisas ruins em todos os estilos.”

A questão da simplicidade foi muito explorada pela cantora e também pelos jornalistas, em suas perguntas, durante a coletiva de imprensa. Logo que lançou a primeira música de trabalho, “Ainda Bem”, choveu comparações com bandas bregas nas redes sociais. Liberada em streaming em seu site, a canção inédita ultrapassou a marca de 1,2 milhões de acessos, incluindo as exibições do clipe da música no Youtube, em que a cantora aparece dançando com o lutador Anderson Silva, atual campeão mundial dos pesos médios do UFC. Para Marisa, ela é simples como “Bem Que se Quis” e outras músicas que gravou ao longo de sua carreira.

“O álbum prima pela simplicidade embora tenha soado sofisticado durante o processo. Temos várias escolhas antes, durante e depois. A coisa se faz por si só. O álbum tem vida própria, estamos ali a serviço. A  simplicidade talvez tenha existido no meu trabalho desde o primeiro, com ‘Bem Que Se Quis’ e ‘Chocolate’. Sempre tive uma linguagem simples. Por outro lado, tem um lado de elaboração na produção e poeticamente, que é um lado que compensa. Ele saiu assim. É um reflexo do meu jeito de viver e sentir a música”, disse, comentando também a leveza do single. “‘Ainda Bem’ caiu no gosto. Era um disco difícil de escolher uma primeira música para ir para a rádio. Ele traz muitas opções e a gente escolheu ‘Ainda Bem’ porque é uma música positiva. Nesse aspecto, ela representava bem o disco. A música que mais representa é ‘O Que Você Quer Saber de Verdade’, ela abre o disco. Mas elas tem funções diferentes. ‘Ainda Bem’ tem também uma ajuda grande do clipe. A leitura em audiovisual teve um resultado muito feliz. Um clipe com Anderson Silva representa bem o espírito da música.”

A certa altura, uma jornalista perguntou a resposta de Marisa para a pergunta que dá nome do seu álbum: “O Que Você Quer Saber de Verdade?”

“Não tem resposta. Você vai descobrindo as coisas e a necessidades se renovam. Faz parte da insatisfação humana você ir em busca de novas respostas e novos questionamentos. O que eu procuro ouvir, que está por trás do título do disco, é a necessidade individual de cada um de ouvir as necessidades da alma. Atenção para essa questão. É o que diz a música. É uma das coisas que gostaria de saber de verdade da vida. É a voz da minha alma.”

Marisa Monte falou sobre sua admiração por João Ubaldo Ribeiro, sobre como é mais fácil o artista viver de show do que da venda de discos (e de como o Brasil não se preparou para a questão do download) e também sobre a importância, para ela, de a arte estar em primeiro plano e o artista, por trás. E foi depois disso tudo que surgiram perguntas sobre o novo álbum, produzido pela artista e coproduzido pelo amigo e parceiro Dadi Carvalho, também baixista da cantora. O CD traz composições de Marisa com Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Dadi e Rodrigo Amarante. “O que se quer” é a primeira parceria da cantora com o ex-Los Hermanos, atualmente morando em Los Angeles e tocando com a banda Little Joy.

“Eu e Amarante, a gente sempre foi admirador um do outro. Eu passei por Los Angeles para trabalhar com Mario Caldato, que produziu meu último disco de samba (‘Universo ao Meu Redor’),  durante a produção desse disco. Ele tem contato com Rodrigo e eu encontrei com ele.”

A outra releitura presente no disco (além do tango) é “Descalço no Parque”, música de  Jorge Ben Jor que Marisa já vinha ensaiando gravar faz tempo. “É uma música que adoro e tem um arranjo incrível. Eu já tocava em casa há anos. Desde  a outra turnê eu tocava em passagem de som, hotel… Já toquei nuns shows nos últimos dois anos. É uma música que eu gostava e achava que podia fazer parte desse repertório. Não é uma música muito conhecida do Jorge, mas é uma música no compasso 3/4, que é coisa rara do Jorge”, contou.

Durante a entrevista, a cantora comentou que ainda não tem turnê prevista nem show para gravação de DVD planejado. Ao ser perguntada sobre quem é Marisa Monte hoje, ela foi clara: “A mesma pessoa (do início da carreira), só que com mais experiência e mais história, mas com o mesmo desejo de desenvolver uma maneira própria de me relacionar, com essa maneira de fazer música de maneira própria. As regras existem para serem questionadas. É bom fazer de maneira diferente. Isso faz parte de toda a reflexão, minha reflexão sobre o que eu faço.”

3 thoughts on “Coletiva virtual de Marisa Monte teve como foco os pontos de vista da cantora… mais do que o lançamento de seu novo disco

  1. A mulher mais rápida do mundo! Chris, você com a sua dedicação e compromisso, dá coro em muito jornalão. Seu amor pelo que faz me inspira todos os dias. Parabéns a você e parabéns a Marisa Monte pelo seu novo álbum. Sua matéria está ótima.

  2. O negócio é fazer o que ama. Eu e Marisa, temos isso em comum: nós fazemos!
    Obrigada pelo comentário! Fico feliz por ter agradado! Beijos!!!

  3. O negócio é fazer o que ama. Eu e Marisa temos isso em comum: nós fazemos!
    Obrigada pelo comentário! Fico feliz por ter agradado! Beijos!!!

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