Almir Rouche quer ver o Brasil cantando frevo o ano inteiro

Posted by Chris Fuscaldo Category: Entrevistas

Quando se fala em frevo, um dos primeiros nomes que vem à cabeça é Almir Rouche. Comemorando seus 25 anos de carreira, o cantor pernambucano inovou o estilo. Ele acaba de gravar o DVD “EVoé, Nabuco!”, com participações de Elba Ramalho, MV Bill, Gaby Amarantos, maestro Spok e a dupla Louro Santos e Víctor Santos, misturando maracatu com rap, frevo com tecnomelody e marchinhas com afoxés. Nesse trabalho, que será lançado em maio, sua intenção é provar que ritmos sempre associados ao Carnaval pernambucano tenham força para tocar durante todo o ano.

Nascido em Cruz de Rebouças, no município de Igarassu, cidade histórica pernambucana, Almir fala de sua experiência de cantar no Galo da Madrugada, bloco que arrasta mais de 1,5 milhão de foliões pelas ruas do Recife, revela suas influências e afirma que o Brasil ainda vai ouvir muito frevo durante o ano inteiro.

Apesar de ter 42 anos, você já está completando 25 de carreira. Sempre quis ser cantor? Ou chegou a ter outra profissão?

AR: Sim, minha primeira vocação já foi para a música. Sempre busquei a carreira de cantor, desde a época escolar. Aos dez anos, participei e ganhei o festival de música na Escola Beatriz Lopes, em São Paulo-SP, onde morei de 1979 . Na época, interpretei um vira do cantor português Roberto Leal , que estava no auge da carreira. Ainda hoje tenho família em São Paulo e sempre visito a cidade. Eventualmente realizamos alguns eventos privados por lá e já fizemos o CarnaTass, um  Carnaval fora de época realizado por uma grande agência de viagens paulista.

Que artistas o influenciaram? Que estilos você costuma ouvir quando está longe dos palcos?

AR: Como boa parte da minha geração, escutei muito as bandas que surgiram e fizeram sucesso nas décadas de 60, 70 e 80. O nome Rouche que passei a usar é uma adaptação aportuguesada da banda Rush, a qual eu ouvia muito e sempre levava os discos para os ensaios na época que cantava naquelas tradicionais bandas de baile. Eu sempre gosto de ouvir João Gilberto, Ney Matogrosso, Marisa Monte e sempre escuto rádios e CDs das novas bandas para estar sempre me atualizando com o que surge de novo por aí. E novos talentos como Marcelo Jeneci, Céu, e as maravilhosas Karina Buhr e Isaar, que acompanho desde os tempos do Comadre Fulozinha. Muitas vezes acabo incluindo em meu repertório músicas de artistas que minha filha mais velha, Bianca, de dez anos, escuta.

O que um cantor de frevo precisa ter para aguentar o pique durante um desfile como o do Galo da Madrugada, em que canta para mais de 1 milhão e meio de pessoas?

AR: Preparo físico, alimentação balanceada e energia para aguentar cerca de sete horas de show. Durante o ano inteiro procuro frequentar academias, não abro mão do futebol de toda semana e procuro pegar leve em comidas pesadas e comidas carregadas de conservantes e substâncias artificiais. Passei por uma verdadeira desintoxicação alimentar e hoje em dia, quando tomo café ou refrigerante com cafeína, passo a noite em claro. O tempo vai passando e cada vez mais precisamos tomar cuidado com a saúde. Antigamente eu chegava a perder cinco quilos no carnaval (três apenas no Galo, acredite). Em 2011, perdi “apenas” dois quilos no Carnaval inteiro (risos).

Como surgiu a ideia de convidar nomes tão diferentes como MV Bill e Gaby Amarantos para seu DVD?

AR: Desde quando começamos a elaborar o projeto para o DVD Evoé, Nabuco que nossa intenção era manter a tradição dos velhos carnavais através do frevo e de outros ritmos locais, bandeira essa que carregamos e defendemos desde sempre. Mas também queríamos mostrar a pluralidade musical do país. Gaby Amarantos é uma excelente artista da nova cena nacional e tem uma voz ímpar. O mais interessante disso tudo é que, embora ela seja conhecida pelo estilo Tecnomelody do Pará, ela também tem raízes com o frevo, já que cresceu escutando as marchinhas de Carnaval e conhece parte do nosso repertório. A fórmula deu tão certo que a convidamos para participar de prévias como o Baile dos Artistas e do desfile do Galo da Madrugada. Já o MV Bill tem um trabalho que muito combina com o nosso no aspecto social, já que apresenta em forma de músicas problemas da sociedade e da realidade dos brasileiros, além de incetivar e apoiar projetos como a CUFA, do qual ele é um dos fundadores e que eu represento artisticamente em Pernambuco. Seu ritmo forte encaixou perfeitamente com as batidas de maracatu, proporcionando um encontro inéditos de ritmos e estilos. Do Rio, trouxe também João Pinheiro, que transformou uma música de Sade (All About Our Love) em ciranda. E tive a ideia de mesclar uma ciranda do meu repertório, Te Namorar, com essa ciranda cantada em inglês. Acho que ficou diferente e bem bonito. E claro que não podia deixar de chamar Elba Ramalho, a grande rainha da música nordestina, e os meus companheiros do Galo da Madrugada, como Nena Queiroga, André Rio e Gustavo Travassos.

Qual foi a primeira parceria importante, com um artista consagrado nacionalmente, da sua carreira?

AR: Foi o cearense Raimundo Fagner, no início da década de 90, mais precisamente em 1994, que participou cantando “Lembranças do Rei” no CD Na Quebrada da Maré, lançado em todo o Brasil pela BMG. Era uma marchinha junina homenageando o rei do baião, Luiz Gonzaga. O CD, inclusive, tinha produção e direção musical de Robertinho do Recife e foi concebido no Rio de Janeiro. Na época eu fazia parte da Banda Pinguim, grupo musical do Recife onde iniciei minha carreira profissional e com o qual tive a primeira experiência cantando frevo em trios elétricos.

Ainda é difícil quebrar a barreira do eixo Rio-São Paulo quando o assunto são ritmos como maracatu e frevo?

AR: É muito difícil. O maior problema é que as pessoas não estão acostumadas a ouvir. Nossas músicas não tocam nas rádios, não estamos em programas de TV e o frevo e o maracatu ainda são vistos como folclore, e não como ritmos que podem ser explorados o ano inteiro. O frevo é um ritmo centenário e deu origem a outros ritmos, portanto penso que merecia mais divulgação em caráter permanente por todo o país. Até porque não é um ritmo apenas pernambucano, é um ritmo brasileiro que conquista fãs por onde passa nos quatro cantos do mundo. Nos anos 80, cantores como Gal Costa e Ney Matogrosso fizeram sucesso nas rádios e na TV cantando frevos. Mas depois o ritmo foi perdendo espaço no Sul, que é a principal plataforma do País. Espero que meu DVD ajude a quebrar um pouco essa barreira.

Qual nome da nova geração você aposta como alguém que vá seguir a tradição dos frevos e maracatus?

AR: Sinceramente a nova geração nos preocupa. Sempre buscamos garimpar novos valores. Mas, devido à falta de apoio e incentivo, tanto da iniciativa pública quanto privada, cada dia é mais raro surgirem novas bandas e/ou artistas que realizem esse trabalho. No Carnaval ainda surgem projetos onde bandas de outros ritmos se aventuram pelo frevo apenas para  apresentações no período, mas nenhum trabalho muito consistente. Mas é claro que há excessões. Tive o prazer de convidar o menino Victor Santos, de 13 anos, para a gravação do meu DVD. Embora não faça frevo, ele carrega o ritmo no DNA. Neto do grande compositor Jota Michiles, autor de clássicos como Roda e Avisa e Me Segura Que Senão Eu Caio (ambas conhecidas na voz de Alceu Valença), Victor deu um verdadeiro show ao interpretar o Hino do Ceroulas ao lado do seu pai, Louro Santos. Certamente será um grande nome a ser trabalhado.

Como ritmos geralmente associados ao Carnaval, como frevo e maracatu, conseguem sobreviver no resto do ano?

AR: Através de projetos em que incluímos os ritmos tipicamentes carnavalescos em shows multiculturais, com a intenção de manter nossa tradição e cultura em períodos e regiões em que normalmente não estariam presentes, como por exemplo no período junino, quando executamos frevos ao final do show de forró. Infelizmente, após o fim do Carnaval, esses ritmos ficam meio esquecidos. Não tocam em rádios, não há shows nem eventos específicos. Mas nomes  como André Rio, Gustavo Travassos, Nena Queiroga e a Spok Frevo Orquestra estão na luta para reverter essa situação. Com fé em Deus, o Brasil ainda vai ouvir frevo durante todo o ano.

2 thoughts on “Almir Rouche quer ver o Brasil cantando frevo o ano inteiro

  1. Adorooo o Almir Rouche e adorei essa entrevista com ele !!!

    Bjsu grande a todos dessa equipe e Parabéns ao nosso grande rei e grande representante de nossa cultura pernambucana Linda História de se ver!

  2. Sou fansona de almir ..
    Fiquei feliz em ver essa entrevista com ele , e tudo que ele diz é verdade , nossa musica ( o frevo) nao tem vez nos outro estados …
    Nossas radios não divulgam nossos artistas como Andre Rios ,Nena Queiroga,Ed Carlos ate mesmo nosso rei do carnaval Almir Rouche .
    Nossos governantes não valorizam o que temos de melhor , preferem contratar bandas e cantores de outros estados , no lugar de divulgarem nossos artistas …

    bjussss a todas equipe e vamos divulgar mais o trabalho de nossos artistas pernambucanos

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