Atores de ‘Léo & Bia’, que estreou na sexta, criticam junto ao diretor, Oswaldo Montenegro, individualismo da geração criada na web

Posted by Chris Fuscaldo Category: Trabalhos

Matéria publicada na revista Megazine (O Globo) em 21/12/2010 (clique aqui)

‘O sonho perdeu a força’

Emílio, Oswaldo e Fernanda / Foto de Gustavo Stephan (O Globo)

Emílio, Oswaldo e Fernanda / Foto de Gustavo Stephan (O Globo)

RIO – A nova geração tem medo de ser ridícula ao sonhar? Não corre atrás do que quer? Essas questões marcaram a conversa que rolou, a pedido da Megazine, entre os atores principais de “Léo e Bia” (Emílio Dantas e Fernanda Nobre) e o diretor do filme, Oswaldo Montenegro. Baseado numa peça homônima, escrita por Oswaldo em 1984, o filme, em cartaz desde sexta ( assista ao trailer ), conta a história de uma galera de Brasília que, em 1973, luta pelo sonho de viver do teatro numa sociedade reprimida pela ditadura. Emílio acha que algo assim seria impossível hoje: “O sonho perdeu força como meta. As pessoas têm sonhos pequenos ou querem ganhar na Mega Sena. De correr atrás ninguém quer”.

O GLOBO: Qual é a diferença entre a peça e o filme?

OSWALDO MONTENEGRO: Apesar de a ditadura ser pano de fundo, estudei a época histórica para não dar furo e adaptei o formato do teatro para o cinema. Mas não mudei diálogos nem roteiro.

Vocês sentem contraste entre as duas épocas?

OSWALDO: A ditadura é a única coisa temporal do texto. De resto, é tudo adaptável aos dias de hoje.

Seria possível, hoje, uma menina sofrer o que Bia sofre (a personagem é torturada pela mãe, que tem um sentimento de posse pela filha)?

FERNANDA NOBRE: Sim! A liberdade não está mais em discussão, mas o amor e o afeto… Mães e filhas se reconhecem nas personagens. Não daquela forma doentia, claro. Não tenho filho, mas deve ser difícil o corte do cordão umbilical, ver o filho como indivíduo, não como patrimônio.

A personagem de Paloma Duarte se apaixona por Léo e ele, mesmo balançado, não trai a Bia. Ainda existem muitos “Léos” por aí?

EMÍLIO: Acho possível que existam, mas é muito mais fácil encontrar quem corra de uma Bia. Os acontecimentos são mais rápidos, e os caras não resistem muito mais.

O elenco do filme / Divulgação

O elenco do filme / Divulgação

OSWALDO:

Esse arquétipo da Bia, do ser dominado que tem um protetor, é eterno. Pode ser o filho com o pai, a banda de rock com seu líder… No interior há muitas Bias.

No filme, o grupo de teatro quer sair de Brasília para vencer. Ainda é preciso mudar de estado para dar certo?

OSWALDO: Eu disse numa entrevista que, hoje, não deixaria Brasília. Com a internet, ia fazer disco, montar site…

EMÍLIO: Conheci uns caras que viviam de música no Sul. Um dia, um empresário deu uma grana, e eles vieram para o Rio. O dinheiro acabou, e a banda também.

FERNANDA: Mas, para quem faz teatro, é difícil estar fora de Rio ou São Paulo.

OSWALDO: É, aí eu acho que teria que vir, sim.

EMÍLIO: A internet não é tão milagrosa assim. Ao mesmo tempo em que a rede viabiliza tudo de graça, ela faz isso para todo mundo. Aí você não tem nada que outra pessoa não tenha.

Todos os personagens cultivam o sonho de viver da arte. Esse sonho acabou?

FERNANDA: Não há mais espera pela realização do sonho. Os artistas, por exemplo, ensaiam dois meses, no máximo, para botar uma peça em cartaz, por causa do retorno financeiro. É difícil um grupo se manter unido, com o mesmo propósito, pesquisando no galpãozinho, como eles fizeram. O que mais choca, atualmente, é o individualismo. As pessoas só estão ligadas em seus iPhones. Eu queria ter vivido aquela época.

EMÍLIO: O sonho perdeu força como meta. Ou as pessoas têm sonhos pequenos, como ter uma televisão, ou querem ganhar na Mega Sena. De correr atrás ninguém quer. A coisa anda numa velocidade tão grande que não permite que as pessoas sonhem.

Existem grupos de amigos tão unidos como o de Léo e Bia?

EMÍLIO: Os grupos não são mais como aquele dos nossos personagens. No filme, eles conversam, estipulam acordos de amizade… Hoje em dia, tem grupos de pessoas que nunca se viram na vida, só pela internet. Os parâmetros são mais confusos.

OSWALDO: Ali havia o quase auge do fim dos movimentos coletivos. A juventude de hoje tem medo de ser ridícula ao sonhar. Esses jovens têm a sensação de que, a qualquer momento, vão ver que foram bobos de acreditar no coletivo. Para acontecer uma turma como a de Léo e Bia, tem que acreditar.

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One thought on “Atores de ‘Léo & Bia’, que estreou na sexta, criticam junto ao diretor, Oswaldo Montenegro, individualismo da geração criada na web

  1. discordo do fato de não haver hj em dia grupos como o do filme. Eu, com meus 20 anos, conheço mta gente que não tem medo de ser ridicula ao sonhar.

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