Correndo de um lado para o outro na Bienal do Livro, consegui assistir a dois bate-papos interessantes neste sábado (12/09). Um deles, com os escritores Luiz Antonio Aguiar, Luciana Sandroni e Rosa Amanda Strauz, mexeu com o lado “estudante de Letras” que tenho (sempre na parte da noite, estou na faculdade aprendendo um pouco mais sobre “a vida”). O tema era “Euclides da Cunha e Machado de Assis para jovens leitores?”. Ou seja… o que fazer para que jovens leiam os clássicos da literatura?
Lembrei de uma professora de literatura do quarto período da UFF (Universidade Federal Fluminense) – com quem me relaciono até hoje – que me fez amar “Os Sertões”. Aquele “tijolão”, publicado por Euclides da Cunha em 1902, fala sobre a guerra de Canudos sob o ponto de vista de um jornalista (enviado especial). É um livro arrastado/detalhado em suas descrições. Mas Lúcia Helena me fez pegar gosto. Ela separava frases, analisava com paixão e pedia para que levássemos nosso ponto de vista às aulas. Mas eram trechos pequenos. E não tinha aquela coisa de “leia o livro e faça a prova enquanto estudamos outros assuntos”.
Bom, vamos falar sobre o bate papo no Café Literário?
Crianças e adolescentes necessitam de mediadores para ajudá-las na leitura de clássicos da literatura brasileira. Essa foi a conclusão a que Luiz Antonio Aguiar, Luciana Sandroni e Rosa Amanda Strauz chegaram durante o bate papo no Café Literário, na XIV Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Abrindo a programação do espaço neste sábado, os escritores debateram o tema “Euclides da Cunha e Machado de Assis para jovens leitores?”, com mediação de Bárbara Pereira.
“Machado escreveu em um tempo em que não existia eletricidade. A linguagem era a de uma outra época. Não se pode jogar um clássico de um autor como esse nas mãos de um garoto e dizer: ‘Boa sorte na prova’. Tem que oferecer ajuda”, declarou Luiz Antonio Aguiar, após a primeira pergunta da mediadora.
Rosa Amanda Strauz lembrou que, atualmente, a escola tem sido responsabilizada pela falta de interesse do aluno. E citou Ruth Rocha ao tentar explicar o que seria o “mediador” e como um “pai” ou um “professor” podem tentar perceber se o jovem em questão é um leitor por natureza:
“Ruth Rocha diz que, se você pegar uma massa de jovens, tem uma parcela ínfima deles que vão virar leitores sozinhos. E tem aqueles refratários à leitura. A maioria se torna leitora de acordo com a direção que recebe. No Brasil, a escola é que acaba conduzindo e muitas vezes nem o professor está tão preparado para isso. Os pais estão se eximindo dessa responsabilidade.”
Durante o bate papo, Luiz Antonio Aguiar, Rosa Amanda Strauz e Luciana Sandroni destacaram as características dos autores e de suas obras que normalmente atraem a atenção do leitor em potencial. No caso de Machado de Assis, o humor explorado em seus textos, a maneira como o autor descreve o universo feminino e como aborda o amor. No caso de Euclides da Cunha, a emoção com a qual ele descreve a realidade – a exemplo de “Os Sertões”.
“Quando li ‘Dom Casmurro’, aos 15 anos, fiquei impressionada com a sensualidade de Capitu. Machado é encantado pelas mulheres e sempre tem aquela visão de homem apaixonado, mas trazendo a sensualidade à tona. O livro não trata só de amor e de ciúme, mas do amor”, comentou Luciana Sandroni.
“Acho que se o adolescente quer ler ‘Os Sertões’, mas não consegue porque é um livro grande e descritivo demais, dá para dizer para ele ir logo para a terceira parte. É aquela em que Euclides descreve a guerra de Canudos. É um ser humano que achava que todo mundo devia morrer, mas foi para o meio da guerra, viu o sertanejo lutando e disse: ‘Está tudo errado!’ Ele vira para o outro lado”, acrescentou Luiz Antonio Aguiar.
Obs.: Machado de Assis? Bom… ainda na escola, passei a fazer parte do tal grupo ínfimo – citado por Ruth Rocha – de leitores que se interessaram por este autor espontaneamente.
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