Só ao lado de Maria Bethânia, Jaime Alem está há um quarto de século. De carreira, ele contabiliza 44 anos. Mas é nesta terça-feira que o arranjador e violeiro sobe pela primeira vez ao palco para apresentar o repertório de um trabalho solo seu. “Dez Cordas do Brasil” (selo Repique Brasil) é um disco só de viola. O lançamento não foi exatamente a realização de um sonho antigo, mas algo que faltava em sua história, o caminho natural que todo músico costuma seguir. Nesta terça-feira, no Teatro Oi Casa Grande, Jaime Alem incorpora um solista pela primeira vez, mostra que tomou o rumo certo e ainda recebe a rainha baiana, Marcelo Costa e Nair Cândida para participações.
“A verdade é que nunca me achei um solista. Sou mais apegado a orquestrações. Adoro escrever para orquestra e sonhava em um disco com vários músicos. Mas o custo é alto. Tom Jobim vendeu uma casa no Rio de Janeiro para gravar ‘Stone flower’. Não tenho essa coragem nem esse talento. Mas aí veio a história da viola. Comecei a tocar nos shows de Bethânia, ela incentivou e passei a ser cobrado. ‘Por que você não faz um disco?’, perguntavam. Chico Adnet surgiu querendo produzir e eu comecei a gostar da ideia quando já estava no estúdio, compondo”, explica Alem.
É claro que, apesar de o disco “não estar na pauta”, vê-lo pronto causou certa emoção no músico. Além de render elogios e reconhecimento, a bolachinha faz Jaime Alem lembrar da sua infância e de seus primeiros contatos com a viola.
“Quando o disco saiu, falei: ‘Não acredito que tô com isso na mão!’”, conta o músico, que é mineiro, mas passou a adolescência no interior de São Paulo. “A viola permeava meu dia-a-dia quando era criança, em Ouro Fino, e depois, mais velho, em Jacareí. Essas coisas da infância marcam… Eu gostava de Beatles e Rolling Stones, mas ouvia Dolores Duran, Tom Jobim, música francesa, música italiana… Eu gostava de tocar guitarra, mas a viola também me pegava. Com 18, me dediquei a ela.”
Jaime Alem começou a tocar aos 16 anos, em Jacareí. Aos 18, mudou-se para o Rio, onde conheceu Maria Bethânia e virou o braço direito da cantora. Ele já dirigiu mais de 15 discos dela.
“Eu e e Bethânia temos um link. Somos plugados um no outro. Além de escrever os arranjos para ela, consigo às vezes transformar em música ideias que ela tem. Ela é uma das grandes incentivadoras da minha viola”, diz Alem.
Foi com Bethânia que o arranjador voltou a ter contato mais próximo com o instrumento. Quando a cantora gravou o álbum “25 anos”, em 1990, a viola de Jaime Alem estava lá. Depois, em “Olho d’água” (1992), também. O som encantado dos acordes abriram “Maricotinha”, em 2001. E, depois de “Brasileirinho” (2004), a viola passou a ser imprescindível nos discos e shows da baiana:
“Ela só diz assim: ‘Jaime, pegue a violinha.’ Bethânia é criativa e não para de ter ideias. É muita afinidade.”
Apesar de “Dez Cordas do Brasil” ser um disco instrumental, o sow terá vozes também. Bethânia cantará “Tristeza do Jeca”, “De papo pro ar” ou algo parecido (sujeito a mudança, comentou Jaime na entrevista). Com Nair Cândida, esposa de Alem e cantora, o músico apresentará parcerias recentes – o casal lançou em 1975 “Jaime e Nair”, que foi reeditado em 2001. Marcelo Costa também sobe ao palco para um número “planejado há anos” por ele e Jaime. E o público poderá conferir a performance de Jaime Alem com nada menos que cinco violas.
“São algumas caipiras, um violão de 12 cordas, mais o violão de nylon. Uma viola tem a afinação diferente da outra. Mas eu não sou violeiro tradicionalista. Sou um músico que aprendeu a tocar viola. Nem sou violeiro, na verdade. Tiro som com unha, baqueta, varetinha, moeda… Só não vou colocar distorção nem chorus. Exploro a viola de maneiras diferentes do que um caipirinha legítimo faz.”
Show Jaime Alem em “Dez Cordas do Brasil”
Dia 18/08, às 21h, no Teatro Oi Casa Grande (Rua Afrânio de Melo Franco 290, Leblon – 2511-0800). Preços: R$ 40 a R$ 80
Ficamos supresos ao encontrar coisa boa. E foi assim quando assiste a apresentação de Jaime Alem no Sr. Brasil. “Que coisa linda”.
O Brasil é rico, e são riquesas como a suavidade do som da viola de Jaime que me faz amar a cada vez mais a música brasileira.
Grande abraço e parabéns Jaime.
Excelente trabalho este do Jaime, a viola brasileira merece esta sofisticação e este intérprete. Parabéns Jaime, parece até que você saiu das páginas do Guimarães Rosa. “Eu queria estar estâncias dos violeiros que tocam o sentimento geral.”
Hello. It is great that at least you pour more light on this issue. Thanks.
Boa tarde!
Jaime Alem , joia rara da MPB
Fui um dos frequentadores do Esporte Clube Elvira em Jacarei-SP.epoca em que eles estavam iniciando Jaime/Nair, tempos bons.
Grande maestro e arranjador, Jaime Álem é ainda um homem simples e sem estrelismos, paciente, criativo e com habilidade fora do comum com a viola e o violão. Na minha opinião um dos maiores maestros da contemporaneidade. Seu nome ficará registrado para sempre na história da MPB. Se a Bethânia o projetou nacionalmente, ele fez com que a maior intérprete brasileira se tornasse também uma excelente cantora! Parabéns Jaime, pelo seu disco!