Sobre a amizade, o dinheiro na calcinha e a gratidão

Conheci Carmélia Aragão em um curso que fiz na Puc durante meu mestrado. Ela, no doutorado, identificou-se com minha pesquisa e logo no primeiro dia disse que me daria um livro que iria me ajudar muito. Não era papo de carioca, afinal, a menina é cearense. Importado de sua terra, Pessoal do Ceará me ajudou muito mesmo. Tomamos um café na faculdade um dia. Num outro, descobri que ela estava passando uma temporada trabalhando em sua pesquisa em Montevideo, Uruguai, enquanto eu fazia o mesmo logo ali, em Rosário.

Um dia, a sempre sorridente Carmélia apareceu tensa numa dessas redes sociais. “Tive um problema com o banco e não consigo mais sacar dinheiro. Não estou saindo nem pra comer”, disse ela. Preocupada, fiz como os políticos brasileiros e enfiei nas partes baixas todo dinheiro que eu e meu “marido sin derechos” Handré Garcia tínhamos, peguei um ônibus para Buenos Aires e um BuqueBus que quase virou em meio àquela tempestade (com todos em volta vomitando pelo chão) e cheguei na terra de Mujica pra salvar minha amiga. Problema resolvido, dormimos juntas, falamos bobagens, rimos bastante pelas ruas e ela ainda me fez cantar no ônibus com um músico uruguaio… Enfim, com Carmélia endinheirada, eu me senti muito melhor.

Foi minha forma de agradecer pela sensibilidade musical cearense. Seguimos em contato, mas qual não foi minha surpresa quando, ao terminar sua tão suada tese, meu nome apareceu ali nos agradecimentos. “Mas, Carmelita, não ajudei em nada na sua pesquisa!” E ela: “Como não? Você atravessou a fronteira cheia de dinheiro pra me salvar!” Fiquei muito feliz com o gesto (ainda mais nesse momento em que tenho prestado muita atenção nessa tal de gratidão) e mais ainda ao vê-la brilhar hoje em sua defesa. Um orgulho danado, uma certeza de que esse laço é pra vida!

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