Rodrigo Santos: ‘andanças imaginárias’ e parceria com Andy Summers

Posted by Chris Fuscaldo Category: Entrevistas

Rodrigo SantosRodrigo Santos é um dos poucos expoentes do BRock, o rock brasileiro dos anos 80, que se renova a cada trabalho que faz. Em “Motel Maravilha”, seu quinto CD solo, o baixista do Barão Vermelho toca baixo, violão e canta  pop rock, ska, baião, samba e claro, rock’n’roll. “Ah, a influência vem das minhas andanças imaginárias pelos anos 50, 60 e 70, tanto na MPB, quanto na música internacional. Sempre gostei de música de cinema, de charleston, de chorinho, de música de circo, de samba de raiz e claro, de rock… tanto a música dos anos 40 e 50, dos filmes de Hollywood, com naipe, humor, leveza, quanto da esquisitice das músicas do David Bowie ou dos filmes de terror”, respondeu o músico ao ser perguntado sobre suas influências.

Pois é, Rodrigo é assim: moderno, saudosista, romântico e realista (para sacar essas nuances, o melhor é escutar o disco). Ele apresenta essas suas facetas nesta quinta-feira (08/08), às 21h, no Teatro Oi Casagrande (Av. Afrânio de Mello Franco, 290, Leblon – Tel.: 2511-0800), com ingressos a R$ 80 e R$ 40 (meia). Aqui, ele fala um pouco mais sobre “Motel Maravilha”.

Como surgiram tantos estilos durante o processo de produção do disco?

Claro que algumas dessas coisas saíram a partir das composições e do direcionamento que eu e Nilo demos a elas. Saíram do zero, de violão e voz, mas na hora dos arranjos – e por acaso escolhemos as 11 mais variadas das 16 músicas que mostrei inicialmente e de mais três que compus durante a feitura do disco – fomos fundo no que as canções pediam. O ska vem da minha admiração pelo Police, provavelmente. O samba “Motel Maravilha” surgiu mais da melodia que fomos cantarolando (eu, George Israel e Mauro Sta. Cecilia) do que de influências em si. A história nos remeteu ao samba. Outras histórias nos remeteram ao rock, ao happy reggae, ao tango-bolero-rock, enfim, ao mundo ao qual a canção nos transportava. “Azul” é pop-rock romântica-lisérgica. Nilo foi muito presente nisso também. Claro que as imagens poéticas de canções como “O Processo”, por exemplo, fez-me querer produzir a música tensa, porém bem-humorada. Já saiu assim no violão e a ideia era entregá-la ao Ney Matogrosso. Acabamos gravando-a. A música manda em mim, leva-me ao arranjo. Não tenho poder algum sobre mim mesmo nessa hora, simplesmente sai.

Por que deu o nome de “Motel Maravilha” ao disco?

Além de ser o nome de uma das faixas do CD, esse nome representava um pouco mais o caminho da festa e da mudança de sonoridade.

Como você conheceu Andy Summers? 

Luiz Paulo Assunção, nosso empresário em comum, nos apresentou num jantar que fez em sua casa. Roberto Menescal também estava lá. Trocamos ideias, vi o livro de fotos dele, pedi para me mostrar os arpejos de umas 2 músicas do Police e, depois, no final, combinamos de almoçar juntos no dia seguinte, eu, Luiz e Andy. Nos demos muito bem e, quando Andy voltou ao Brasil, meses depois, fui assisti-lo na Rio+20 com o (Gilberto) Gil e a (Fernanda) Takai. Depois, saímos para jantar de novo e, nesse jantar, Luiz fez o convite ao Andy para participar do meu show no Rio Scenarium no dia seguinte. Foi sensacional, ele adorou o trio e tocamos duas músicas do Police, dois clássicos, “Every Breath You Take” e “Message in a Bottle”. Depois disso, a ligação estava feita. Nesse dia, Andy conheceu o Kadu e o chamou de “number one” da batera. Depois que Andy foi embora, ele disse ao Luiz que tinha me achado um cara bacana, “sweet guy” e que gostaria de me mandar umas músicas para eu fazer versão para português ou fazer o que eu quisesse com elas.

Foi assim que surgiu a parceria?

Me mandou 10 canções inéditas dele, todas dentro do universo do rock e eu, muito emocionado, comecei a versão de cinco imediatamente. Depois, acabei mexendo muito numa delas, “Me Dê um Dia a Mais” e troquei a letra toda, além da melodia. Resolvi colocá-la no disco. Mantivemos as guitarras dele e gravamos a base toda de novo comigo no baixo e voz, Nilo nos teclados, com o baixo envelope e Kadu na bateria. Além disso, colocamos naipe de metais, que desde o início era uma ideia minha colocar no disco. A música ficou muito legal, pra cima, só que com uma letra de amor, diferente da original, que era sobre ecologia. Andy adorou a mudança e me deu parceria, a primeira feita com alguém no Brasil. Faltam ainda as nove restantes.

Além dos instrumentos tradicionais, você trouxe sopros para esse disco. Até gaita tem em ‘Meu Bem’. Fale um pouco sobre as harmonias. 

Isso. Como falei acima, o naipe, os vocais femininos e o pandeiro foram levados ao disco com o objetivo de enriquecer as canções e dar um ar de festa “stoniana”. Meus discos sempre partiam do violão. Nesse, fiz diferente. Mandei ao Nilo as canções de voz e violão, mas pedi que retirasse os violões da demo e gravasse guitarras guia, para que os arranjos seguintes partissem da guitarra e não do violão. Eu queria um disco de rock. Como as guitarras guias e os baixos guias que ele gravou ficaram excelentes, mantive e resolvi andar pra frente, chamando logo os metais e as backing vocals. Eu e Nilo desenhamos as linhas do naipe e dos vocais no violão. Quando foram gravar, já tinham a referência. A gaita foi uma surpresa, agradável como todas as outras, que Nilo Romero me mostrou quando fui escutar o que ele tinha feito em “Meu Bem”, música que vínhamos deixando para o final. Nesse meio tempo, Nilo gravou a gaita e eu adorei. Depois ele quis tirá-la e eu proibi… rs… era a mais “fogueira” do CD! O pandeiro veio na necessidade das canções.

Fale também dos temas das músicas. O que te inspirou para essas composições? 

Tudo ao meu redor. Crio personagens na primeira pessoa do singular, que nem sempre sou eu, e sim uma mistura de situações ou de vivências. “Remédios” foi na praia quando esqueci um remédio para dor de cabeça no quarto de hotel. Peguei o o violão do meu filho e já saí listando tudo o que o ser humano precisa para se bastar, quando não se basta sozinho. Os amores loucos do CD são feitos da minha imaginação mesmo, combinado a minha neurose cotidiana com pitadas de humor e coisas que observo nas mais variadas formas da paixão humana, da esquizofrênica à comum. Mas a grande maioria vem de observações do cotidiano, inclusive alguns personagens que são frutos de várias histórias diferentes, mas que tem algum elo em comum. Papos com a minha mulher também tiveram seu destino em canções como “Essa Canção é Nossa”, que surgiu no último Réveillon. “O Processo” é a maluquice do sado-masoquismo-neurótico-submisso, porém loucamente apaixonado pelo próximo.

Como está sendo manter sua carreira solo depois dos outros discos e do DVD? Qual segredo para continuar na ativa?

Indo muito bem, com bastante show na agenda. Sou inquieto, não tenho segredos, apenas não paro de criar coisas, umas boas, outras ruins, mas sempre sem medo de arriscar. São 5 discos de 2007 para cá. A maioria com ações totalmente independentes. Primeiro crio, realizo, depois vejo que direcionamento vou dar à “criatura” . Rs… Não tem mágica. No meu caso, além da criação, tem muita ralação também. Funciono como uma gravadora e como um escritório.

Planos com o Barão vermelho?

No momento, não. Apenas um documentário, que vem por aí.

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