‘Lá’: Bruno Batista escreve melhor para disco mais sombrio

Bruno Batista e o CD LáSe em Eu Não Sei Sofrer em Inglês, seu primeiro disco, Bruno Batista privilegiou a diversidade de ritmos, em , lançado também de forma independente, a poesia é o que fala mais alto. Ou melhor, canta alto. Forradas por harmonias sofisticadas, que não sobrepõe as melodias e muito menos as letras, as canções privilegiam os textos, cada vez mais bem escritos. Faz falta alguma faixa mais solar e um pouco mais de criatividade nos arranjos.

Nascido em Pernambuco, criado no Maranhão, turista-quase-retirante no Rio de Janeiro e radicado há pouco mais de dois anos em São Paulo, Bruno Batista produziu  sob as sombras da cidade sem praia. A música que abre o disco, Incêndio, é sombria, apesar dos belos versos que demonstram o desejo de se alcançar o Sol: “Se eu estiver comovido  frio / Deixa o fogo me devastar, adeus / Graças a Deus eu parti / Graças a Deus eu corri pra ver o Sol…” Eu Não Volto Mais Aqui também não é lá muito animada, mas tem uma bela (e tensa) mistura de guitarra com percussão ao final.

Parece que, em alguns momentos, faltou originalidade ao arranjador (sem crédito disponível no encarte). Muito parecida com a da faixa anterior, a introdução de Ela Vai Chegar não surpreende. Ainda bem que a dinâmica que vai rolando e o refrão, auxiliado por um coro, ajudam Bruno a imprimir uma identidade à música. Fora que o texto (sempre ele) resgata a qualidade da canção. Curtinha e com o vocal dividido com Dandara Mordesto, É Que Você Tem é uma graça, mas parece perseguir a mesma onda que Marcelo Jeneci pegou, mas não necessariamente significa que vai quebrar bem na areia.

Bruno BatistaPor falar em onda, o mar é tema da canção que fecha o disco, Rosa dos Ventos. Tristíssima, faz referência ao clássico Timoneiro, de Paulinho da Viola, e a personagens como Lisbela, e segue do início ao fim em ritmo lento, lamentando a vida que se levou: “Nessa vida sem plateia / ou a minha própria atriz / Alguém disse na estreia / Eu não ia ser feliz…”

Otimista e um pouco menos sombria, com a ajuda da sanfona e de uma percussão bem orgânica, é a faixa título: fala de um lugar onde “o azul faz companhia” e “a beleza dá no chão”. O vocal de Dandara Modesto ajuda a alegrar a canção, assim como faz no samba Pois, Zé. Mas não é porque tem cavaquinho e coro que a música é feliz. Ela é engraçada, vá lá.

Dar mais peso Matador seria justificável pela letra forte que a canção tem, mas a versão ficou meio jazzy, com a adesão de tambores e do suingue que os arranjos costumam repetir ao longo do disco. Morto no Mar também não é lá uma canção muito celebrativa… “Ri de mim, deixa assim / Há de me pagar / Tem poeta morto no ar”, canta Bruno.

Com uma linha de baixo marcante, que dá ares de pop rock, Do Abraço é também muito sombria. A faixa seguinte, 18 Nuvens talvez explique o clima do novo disco de Bruno Batista: “Conheci 18 nuvens / Debaixo de uma roseira / De uma fui namorado / Outras nem de brincadeira / Você é nuvem passageira / Vagueia, vagueia no céu”. Mas é tão poética que dá vontade de tê-la escrito.

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