‘Interpretar’ é o que Zélia Duncan faz em ‘TôTatiando’

Posted by Chris Fuscaldo Category: Shows e eventos

Eis que abro meu velho “Mini Houaiss” e caio exatamente na página contendo o verbete que planejei procurar. O dicionário simplificado comprado na época da faculdade não tem touch screen nem teclado para que se possa digitar a palavra sobre a qual busco o significado. Mas ele me pareceu vivo ou, no mínimo, inteligente, ao me dar a lista de opções começadas por “int” assim, de primeira. Bom, acabei percebendo uma orelhinha, uma pequena dobrinha na página 255. Talvez eu já tenha verificado essa palavra anteriormente. Não me lembro. Sei que achei exatamente (e rapidamente) o que eu queria: “Interpretar”.

Segundo Houaiss, o verbo pode ser traduzido como “atuar, dançar, cantar, tocar”. Bingo! Meu medo era não encontrar em lugar nenhum – o que dificultaria muito a escrita desse texto – algo que me ajudasse a definir o que vi ontem (segunda-feira, 17/02), no palco do Teatro Oi Casagrande. “TôTatiando” não é show nem teatro, mas tudo isso misturado. E, nele, Zélia Duncan abusa do verbo “interpretar”, atuando, dançando, cantando e tocando… ou melhor, dando corpo e alma às canções de Luiz Tatit que escolheu para esse espetáculo.

Se tanto na música quanto no teatro a interpretação é a alma do negócio, a cantora e compositora – que carrega um ano e meio de estudos de dramaturgia (e alguma experiência na área) – fez um ótimo trabalho de preparação, ao lado da diretora Regina Braga.  Escolhidas a dedo, as 17 canções não compõe uma só história, mas contam várias delas. Algumas são tristes, como a narrativa e a canção “Dodói” que, juntas,  resumem o encontro de Tatit com o amigo já doente Itamar Assumpção, que rendeu uma das últimas parcerias da dupla de São Paulo, pouco antes de o “Nego Dito” falecer.

Zélia Duncan em TôTatiando na foto de Roberto Setton

Zélia Duncan: TôTatiando por Roberto Setton

Outras são angustiantes, como a do rapaz que tenta de todas as maneiras ler uma poesia para moça de nome Sofia, cantada por Zélia em “Haicai”. E, como não podia faltar num show da artista niteroiense, há muitas letras divertidas: em “Olhando a Paisagem”, a cantora incorpora um sujeito à espera de Odete, a mulher que diz que vai ali e leva semanas para voltar; quase infantil, “Esboço” descreve um palhaço e Zélia aproveita o tema para calçar um sapato típico do profissional de circo; desta vez recitada sem música ao fundo, “Felicidade” arranca risadas da plateia desde que foi apresentada no show do álbum “Pelo Sabor do Gesto” (e não foi diferente no Oi Casagrande).

Acompanhada apenas por Webster Santos e Tércio Guimarães nas cordas, teclados e outros barulhinhos, Zélia Duncan chegou  pegar o violão. De terno, descalça e com o cabelo preso, entrou em cena driblando uma falha no microfone que não a desequilibrou. Sob meia luz, chegou de mansinho cantando sobre a dificuldade de se começar algo, em “O Meio”. Já na segunda canção, a mais agitada (e cheia de batuques) “Ah!”, começou a mexer com as letras espalhadas pelo cenário.

O clima soturno voltou quando mostrou a primeira música angustiante do espetáculo, “Falta Alguma Coisa”, em que brincou com uma saia acompanhada pelo teclado jazzístico de Tércio. E aí veio “Sonhei”, tocada por Webster ao violão. Sofia, Matilde (“Banzo”), Odete (“Olhando a Paisagem”) e Vera (“Época de Sonho”) formam o bloco de ótimas canções dedicadas a mulheres idealizadas pelo autor. E Zélia incorporou bem o sofredor, quando era o caso: durante “Banzo”, por exemplo, a intérprete fez caras e bocas e usou as mãos para segurar um caderninho e uma caneta e fazer como se estivesse escrevendo uma carta para Matilde.

A harmonia apareceu tanto quanto a interpretação em “De Favor”, um reggae gostoso pra distrair a plateia atenta. Depois da história sobre Itamar, Zélia voltou a ser ela mesma e contou que, aos 16 anos, ainda morando em Brasília, conheceu a Vanguarda Paulista através de seu irmão. A loja de discos que frequentava – onde encontrava títulos de Itamar, Tatit e Arrigo Barnabé – chamava-se Jegue Elétrico. “São Paulo me anarquizou e me acolheu”, disse, no palco, antes de entoar “Eu Sou Eu”.

“Sem Destino” e “Quando eu Morrer Quero Ficar” poderiam ser tristes se não fossem cheias da gaiatice típica de Tatit. Depois de dar vida ao palhaço e de reclamar da felicidade, Zélia cantou o pop-reggae “Rodopio”, girando sem parar. Sem parar de interpretar um segundo, ela encerrou o show com a divertida “Essa é Pra Acabar”, arrancando aplausos incansáveis da plateia (formada por fãs e nomes como Ney Matogrosso, Renegado, Patrycia Travassos, Gabriel Braga Nunes e Jean Wyllys) e provando que é uma das maiores intérpretes do nosso país.

Obs.: O espetáculo está disponível em DVD.

2 thoughts on “‘Interpretar’ é o que Zélia Duncan faz em ‘TôTatiando’

  1. oi zélia duncan é porque eu fiz uma letra de música pra você. deve estar bom. risos. nome da letra sensação. hoje eu acordei com sensação de medo e sair pra te procurar o dia inteiro pra te falar que eu te quero do seu jeito mesmo e me causou desprezo mas você é alheiro e você flechou meu coração meu arqueiro e não quero dinheiro e quero você por inteiro e quando eu sinto seu cheiro mindar uma alegria no peito e gosto muito de você meu companheiro e não escute bobagens de terceiros e sempre vou te amar e eu quero assim do seu jeito mesmo porque te trato como cavalheiro e quero te amar de janeiro a janeiro e quero que você minder um herdeiro porque são josé é carpinteiro e adoro quando você deixa seus cigarros no cinzeiro e quando eu vou ao cabeleireiro eu te ligo o dia inteiro e adoro quando você vai a padaria e fica conversando com o padeiro mas na verdade eu quero você por inteiro pra eu te amar o dia inteiro. te peço perdão por te deixar com a sensação de medo e por ter saído e não ter me encontrado o dia inteiro pra me falar que me quer do meu jeito mesmo mas te causei desprezo mas você é alheira e também flechou meu coração minha arqueira e não quero dinheiro e quero você por inteira e quando eu sinto seu cheiro mindar uma alegria no peito e também gosto muito de você minha companheira e não escuto bobagens de terceiros e sempre vou te amar e eu te quero assim do seu jeito mesmo porque trato você como uma dama e também quero te amar de janeiro a janeiro e quero que você minder um herdeiro porque são josé é carpinteiro e também adoro quando você deixa seus cigarros no cinzeiro e quando vai ao cabeleireiro você me liga o tempo inteiro e eu sei que você adora quando eu vou a padaria e fico conversando com o padeiro mas na verdade eu também quero você por inteira pra eu te amar o dia inteiro.

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