Mesmo os que não conseguiam ver abraçaram Caetano Veloso na Lapa

Caetano Veloso por Christina FuscaldoQuem sabia que Caetano Veloso, outros artistas, parlamentares e lideranças religiosas de vários segmentos iam parar hoje (25/03)  no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) para pedir a saída do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados (leia aqui)? Nenhum dos fãs que abraçaram o repertório do novo disco de Caetano Veloso, o terceiro dele com a Banda Cê, no Circo Voador, nos dias anteriores, podia imaginar. Caê deixou a faceta militante de lado para ganhar esse “abraçaço”.

Foram quatro shows, sendo um meio vip na quinta (parece que mais convites foram dados a convidados do que vendidos) e um marcado para o domingo em caráter extraordinário após o esgotamento de todos os ingressos de sexta e sábado. É deste último que estamos falando. O nome da turnê, “Abraçaço”, é o mesmo do álbum, este que já conquistou uma fatia do bolo de apaixonados por Caê. Debaixo da “lona”, parte da plateia sabia cantar todas as músicas do repertório. Todas!

Como em todos os shows de Caetano no Circo Voador, quem ficou de fora da estrutura branca, que abriga um dos melhores sons dentre todos das casas de shows do Rio de Janeiro, não conseguiu ver o artista. Ou melhor, aqueles que não roubaram uma das cadeiras daquele ambiente ali, perto do bar, não viram. Porque os que tiveram a ideia cantaram e dançaram sob o risco de escorregarem ou até mesmo quebrarem as frágeis mobílias de plástico. Os que não alcançaram o artista concentraram-se no som. O respeito à música de Caê foi uma coisa linda de se ver.

“Um Abraçaço” não abriu nem fechou o espetáculo. “A Bossa Nova é Foda”, “Lindeza” e “Quando o Galo Cantou” vieram antes da faixa-título do disco que gravou com o guitarrista Pedro Sá, o baterista Marcelo Callado e o baixista/tecladista Ricardo Dias Gomes. Depois de “Parabéns”, Caetano relembrou o álbum “Cê”, interpretando “Homem”. Com blusa semi-aberta, deixando parte do peito e umbigo à mostra, o músico fez um gesto obsceno com as mãos, levando o público aos gritos.

Apesar de tocar canções menos alegres, como “Triste Bahia” e “Estou Triste”, e de estar em um palco meio escuro e com apenas um cavalete decorando o cenário, a banda transmitiu boas energias para o público. A parte que não sabia cantar as músicas novas não se intimidou. Havia gente tentando chutar as letras das músicas e, quando vinha um sucesso, era só comemoração. Foi uma explosão o momento em que ecoou do palco aquele solo que todo fã conhece de “Eclipse Oculto”. Antes do hit, o refrão de “Odeio” arrancou vozes das entranhas do pessoal.

Outras músicas do baú caetânico entraram no set list deste show, mas duas delas agradaram muito, já no bis: “A Luz de Tieta” e “Um Índio”. Não deu para entender direito, mas o músico começou a falar algo sobre não tocar (ou não ter tocado) essa última música – talvez justificando ela não estar no roteiro do show de quinta-feira – e a plateia clamou pela canção, que esta semana, na qual se deu a expulsão dos índios da aldeia Maracanã, fazia todo o sentido tocar. Disfarçado de bom “entertainer”, ele sem querer querendo militou.

O show podia ter terminado ali, com a plateia vibrando emocionada. Mas Caê ainda entoou “Outro”, do álbum “Cê”. Foi a 25ª música do repertório, que o público também abraçou.

4 thoughts on “Mesmo os que não conseguiam ver abraçaram Caetano Veloso na Lapa

  1. Fui ao show de sábado e na volta para o bis Caetano falou sobre a aldeia Maracanã e tocou Um Índio, foi o momento mais emocionante do show!

  2. Ah, então devia ser isso que ele estava falando… O povo gritou tanto que não deu para ouvir. 😉 Obrigada pela informação, Roberta! Abs!

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