‘O Brasil não é feito de Roberto Carlos, Ivete Sangalo e samba na Sapucaí’

Posted by Chris Fuscaldo Category: Entrevistas

“Estou protegendo o direito de todos. Não quero briga. Se as pessoas brigam, todos perdem.”

Que Deborah Sztajnberg é uma entusiasta da cena musical independente, todos os jornalistas, produtores e músicos que incentivam ou fazem parte da mesma sabem. Mas ninguém esperava que ela chegaria ao ponto de atravessar o oceano para defender seu ponto de vista sobre esse mercado. Pois é. A advogada, produtora, professora e caça talentos viajou em janeiro para Cannes, ao sul da França, para acompanhar e participar do Midem 2013. No Mercado Internacional do Disco e da Edição Musical, a dona da Debs Consultoria  ouviu/discutiu sobre a cadeia produtiva do segmento de/com investidores, produtores e artistas de diversas partes do globo. E, além de soltar a frase acima durante o painel do qual participou, defendeu o que o Brasil tem de bom.

“O brasileiro não quer mais ser reconhecido pelo clichê do brasileiro: samba, café e prostituta. A imagem do Brasil está desgastada de tal forma que nós do stand brasileiro tivemos que ralar para limpar a barra do país. O Brasil não é feito de Roberto Carlos, Ivete Sangalo e samba na Sapucaí. O Calypso tem seu valor, mas eu não queria ser representada só por isso. Queria que fôssemos reconhecidos também por outras coisas que não fossem o Pelé, outro jogador de futebol e que não recrutassem mais nossas mulheres para atividades impublicáveis, como diria minha avó”, declara.

Deborah foi convidada a participar da mesa “Winning strategy and approaches toward the agency”, realizada no Brand Central, pavilhão onde se discute o futuro da música. Com mediação de Daniel Glass, CEO da americana Glassnote Entertainment Group, ela e mais três profissionais conversaram sobre marcas, empresas, a relação entre gravadoras, editoras e distribuidoras e, claro, o futuro próximo do mercado musical. Participaram do painel: Jean-Christophe Bourgeois, gerente da Sony/ATV Music Publishing na França; Camille Hackney, que trabalha com licenciamento na americana Atlantic Records; Seth Jackson, diretor da britânica [PIAS] Media.

“O Midem é a maior feira de música do mundo, é onde são discutidas as novas fronteiras e plataformas e o futuro da música, que já se tornou pasteurizada. A música já está sendo tratada como um produto. O debate foi um embate impressionante com a Camille representando o mainstream e eu, defendendo também o lado contrário. Quando falo, vou de música clássica ao heavy metal. E gosto de mostrar que o Brasil tem Sepultura e Angra, mas também tem o Gangrena Gasosa, que faz saravá metal, que mistura a percussão do afoxé e da umbanda com guitarras distorcidas”, comenta.

O lançamento do DVD da Gangrena Gasosa, inclusive, é um dos projetos do ano de Deborah. A professora e etnomusicóloga – que também aproveitou a viagem para suas pesquisas acadêmicas – inspira-se no exemplo bem sucedido de bandas como Autoramas,  que tem 15 anos de carreira e é dona de seu catálogo:

“Autoramas trabalhou duro e sozinha, mas hoje é dona de sua própria obra e faz turnê até na Europa. Mas não é um caminho fácil. Aqui no Brasil, não dão o valor merecido ao Gangrena, que tem 25 anos de carreira. Por isso estamos negociando licenciamento lá fora também. Além de atuar como advogada, professora e consultora, meu trabalho é  também fazer pontes para aqueles que não estão no mainstream.”

Confira o debate:

3 thoughts on “‘O Brasil não é feito de Roberto Carlos, Ivete Sangalo e samba na Sapucaí’

  1. Muito empolgante esse contraponto! Desejo sucesso no caminho da Débora. Assim como ela, existem milhares de produtores independentes tentando sobreviver no achatado mercado da música. Diversificar o investimento para diversificar a identidade é o desafio do Brasil nesse novo cenário midiático! Ah, fiquei muito curioso em ouvir o gangrena gasosa e seu saravá metal!! 🙂 <3

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