Rolling Stones: uma paixão da infância até a vida adulta

Antes de me tornar jornalista, fui tiete. E, antes de entender o que era ser tiete, nutri paixões por alguns nomes da música. Depois da fase ‘boyband’, enfiada goela adentro de nós meninas nascidas na década de 1980 – no meu caso, durou apenas duas bandas (e confesso que eu sempre gostava do membro mais ‘sujinho’) – apaixonei-me pela primeira vez por um rockstar. E não se tratava de nenhum dos integrantes da Legião Urbana, dos Paralamas do Sucesso ou de qualquer banda do momento. Lembro de, sozinha em casa, alcançar uma das fitas VHS do meu pai. Isso era uma prática minha quando ele não estava em casa para ele mesmo me aplicar algum nome do classic rock britânico ou americano. Naquele dia (ou noite, não me lembro), eu quis conhecer melhor os tais Rolling Stones de que tanto falavam. Acabei sendo pega de jeito por um jovem magrelo e muito branco, de boca enorme e olhos muito azuis.

Mick JaggerMick era seu nome e, dançando como uma cobra, ele cantava um inglês dificílimo de compreender para mim, que havia começado a estudar a língua fazia pouco mais de um ano. Eu não tinha escutado ainda a palavra “androginia”, muito menos entendia esse papo de “ser um homem feminino”. Mas hoje, olhando para trás, acho que posso afirmar que foi ali que nasceu minha predileção por homens sensíveis. Ou melhor, por seres humanos que não têm medo de assumir o que são e como gostam de levar a vida. E, para além do “ser ou não ser”, cuja questão era muito mais velha do que aqueles músicos que eu via em vídeo – mas eu era criança demais para compreender – eu me apaixonei (e muito!) pela música.

O clipe era It’s Only Rock ‘N’ Roll (But I Like It). Não comecei mal, não, né? Na mesma fita, vieram outros (se não me engano She’s So ColdWild Horses também), entrevistas, não lembro bem o que mais. A paixão por Mick Jagger foi realocada após ficar sabendo que aquela carinha que me cativou não era mais a mesma naquele final da década de 1980 e que seria no mínimo estranho eu sonhar com um romance com um homem mais velho que meu pai do qual ele também era tiete. Afinal, eu tinha um pouco menos de 10 anos. Dali pra frente, definitivamente, Rolling Stones virou minha banda preferida. Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood, Charlie Watts e até Bill WymanBrian Jones – o membro-fundador que ficou na banda só até 1969 –  me levaram a outros mundos, apresentaram-me à psicodelia junto com os Beatles e outras bandas sessentistas e setentistas e permearam a trilha sonora da minha vida.

Rolling StonesEssas memórias vieram à tona fortemente no último sábado (20/02), quando  o quarteto deu início ao espetáculo da turnê latino-americana Olé no Maracanã. Desabei em lágrimas já na primeira música, Start Me Up. O que ela me lembrou? O primeiro show que os Rolling Stones fizeram no estádio carioca, em fevereiro de 1995. Já com 14, dois anos depois de ver Madonna no mesmo local, eu tive a certeza de que eu era stonemaníaca! Quando a banda voltou, em 1998, forças maiores me impediram de vê-la. Na praia de Copacabana, em 2006, grudada na grade, descolei um sorriso de Keith para a lente da minha câmera (tenho isso em vídeo em algum lugar dos meus arquivos), mas falhei ao jogar um colar de madeira em Mick. Com o intuito de ser vista, consegui apenas que ele tomasse um susto… Também nesse show de 10 anos atrás, chorei muito enquanto anotava todos os detalhes no meu bloquinho, que chegou molhado à redação do jornal Extra, para onde fui para escrever a experiência que tinha vivido como jornalista encarregada de cobrir o evento.

Rolling StonesNo último sábado, meu companheiro me disse que foi a primeira vez que me viu apenas como fã, sem a preocupação de anotar qualquer coisa ou analisar tecnicamente o que via no palco. Em meio a tanta emoção, sei que ouvi os maiores clássicos, as canções que eu esperava, mas não montei um set list, uma ordem. Curti à paisana. Pulei de alegria quando eles tocaram Like a Rolling Stone, canção na qual votei, no concurso aberto no site da banda dias antes. Adivinhei que Sympathy For The Devil viria exatamente no momento em que veio. E apareci no telão – vários amigos me escreveram para contar que me viram – ao subir no ombro de meu companheiro, durante Gimme Shelter (ou terá sido Jumpin’ Jack Flash?). Só lamentei, mais uma vez, não ter sido vista por Mick, um senhor cheio de energia, ainda muito rebolante e… Apaixonante! Com uma vontade eterna de me comunicar com ele, nem que seja através dos olhos, será que ainda nutro um pouquinho daquela paixão?

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