A difícil arte de começar

Posted by Chris Fuscaldo Category: Dia a Dia Tag: ,

Conto uma história como ninguém, mas na hora de escrever, começar é sempre um tormento. Quando eu tinha 12 anos, a professora do colégio pediu para que escrevêssemos uma poesia. Todos deveriam escolher um tema livre e deixar a criatividade fluir. O objetivo era concorrermos no concurso de poesia que a escola iria promover dali a um mês ou dois. E eu não tinha a menor ideia de como começaria a minha. Tema? Que tema eu deveria escolher? Nada passava pela minha cabeça, ainda mais com aquela pressão de ter que escrever durante uma aula, que deveria acabar em mais ou menos uma hora e meia.

Bocejei, olhei pra cima, olhei pra baixo, bati com o lápis no papel até alguém fazer “shhhhhi”, apoiei a cabeça na mão e nada do tema… Nem do começo. Decidi, então, dar uma volta pela sala. Vai que de pé eu me inspiro?! Fui até a mesa de Daniel, meu melhor amigo, e perguntei sobre o que ele estava escrevendo. Daniel desenhava como ninguém daquela turma. Não à toa virou artista plástico… Mas, na época, ele adorava desenhar super-heróis e coisas que meninas não gostam. Eu e ele nós adorávamos, mas vivíamos brigando. Rapidamente, ele colocou a mão na frente do caderno para escondê-lo de mim. “Sai fora! Não quero que você veja!” Mas eu já tinha lido as duas primeiras frases:

“Amanhece o dia
Aparece o sol”

Dei aquela risada marota de uma sílaba só e agradeci pela ajuda: “Rá! Já sei como vou começar meu texto! Obrigada, Daniel!” E saí deixando meu amigo branquelo vermelho como um pimentão. Voltei à carteira, já com outra postura, a de uma grande escritora que estava para escrever a poesia da sua vida. Costas eretas, lápis em punho, puxei da memória recente as frases que eu queria para finalmente, depois de uma hora de aula e faltando apenas meia para a professora recolher os papéis, começar a minha poesia.

“O dia amanhece
O sol aparece
E no rosto de uma criança
Brilha uma nova esperança

Esperança de um dia melhor
Com riquezas, alegria e amor
Não precisando conviver
Com a pobreza e a dor

Pessoas passam de um lado para o outro
Principalmente magnatas e peruas
Mas não conseguem compreender
Que eles são apenas meninos de rua”

Entreguei o papel à professora, acenei um tchauzinho pra Daniel e fui embora vendo meu amigo ainda vermelho porque não tinha conseguido terminar a dele. Um mês depois, vi minha poesia publicada no jornal da escola como a vencedora do concurso. Dei um pulo de alegria, mas comecei um novo processo de angústia quando a professora falou: “Parabéns, Christina! Agora prepare seu discurso para falar no dia da premiação!”

Discurso? Mas como é que eu ia começar?

Esse texto representa todos os recomeços de minha vida, inclusive o que estou vivendo!

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