Depois dos dois pontos, o título poderia continuar de diversas outras formas: “Como vinho, Ney Matogrosso e Evandro Mesquita só melhoram com a idade”; “Erasmo Carlos vai à desforra depois de 30 anos”; “Corajoso, Ivan Lins se arriscou ao tocar sozinho, ao piano”; “Artista que mais fez shows no festival, Ivete Sangalo é a prova de que o evento nunca foi só de rock”; “Andreas Kisser provou ser o maior (e mais eclético) guitarrista do Brasil”. Muita coisa aconteceu no Palco Mundo no primeiro show da noite de abertura do Rock in Rio 2015. Com tantas possibilidades, o melhor foi escolher mesmo uma frase genérica para conseguir agrupar tudo em uma mesma publicação. Vamos por partes…
Enquanto, no Sunset, Lenine e seus mais de 47 convidados davam o acorde final, no centro da Cidade do Rock, a música tema do Rock in Rio (criada há 30 anos por Eduardo Souto Neto) começava a ser tocada e fogos de artifício explodiam colorindo o céu e convidando ao palco principal do festival estrelas de primeira grandeza do rock brasileiro. Primeiro, entraram os músicos do Barão Vermelho, tocando Pro Dia Nascer Feliz e resgatando da memória dos que estiveram na primeira edição do festival, realizada em janeiro 1985, a cena em que Cazuza celebrou a Nova República: “Que o dia nasça feliz para todo mundo amanhã. Em um Brasil novo, uma rapaziada esperta.” Para completar a homenagem, um Ney Matogrosso em ótima forma entoou Por Que A Gente É Assim.
Em seguida, o Skank assumiu o controle. A banda, que fez as pazes com o Rock in Rio em 2011 depois de dez anos da edição (a terceira do festival) na qual deixou de tocar por aderir ao protesto por uma estrutura melhor para as bandas brasileiras, tocou Vou Deixar. E convidou “o criador do rock brasileiro”, como o vocalista Samuel Rosa chamou Erasmo Carlos. O Tremendão, que em 1985, escalado para subir ao palco na mesma noite que Iron Maiden e do Whitesnake, foi bombardeado com latas e garrafas arremessados por metaleiros, cantou Pode Vir Quente e desabafou: “Era esse o Rock in Rio que eu queria ter visto e sonhado em 85.” Junto com a banda mineira, o roqueiro cantou também É Proibido Fumar. Corajoso, Ivan Lins apareceu sozinho com seu piano, tocando e cantando Depende de Nós. Forte candidato a ser alvo de latas, ele conseguiu prender a atenção da plateia, que acabou acompanhando ele em Um Novo Tempo, apresentada junto a uma banda.
Entre uma atração de outra, enquanto rolava a troca de palco, as luzes se apagavam, a logomarca do Rock in Rio aparecia e uma trilha tocava. Depois que Ivan Lins saiu, veio uma das maiores surpresas do show de abertura: a Blitz do também conservado Evandro Mesquita apresentando Você Não Soube me Amar e A Dois Passos do Paraíso. Se não fosse pela ausência de Fernanda Abreu, iria parecer a mesma banda de 1985. Representando o Kid Abelha, George Israel aproveitou os músicos da Blitz para tocar (e cantar) Mil e Uma Noites. Só não ficou muito bem explicado porquê Paula Toller e Bruno Fortunato não foram para a festa… Relembrando também a primeira edição do Rock in Rio, os Paralamas do Sucesso tocaram Óculos e Uma Brasileira, esta com a cantora Ivete Sangalo, a artista que mais fez shows no Rock in Rio: nove apresentações em edições de Lisboa (2004, 2006, 2008, 2010, 2012 e 2014), uma em Madri (2008), duas no Rio (2011 e 2013) e uma em Las Vegas (2015). Sem a banda de Herbert Vianna, a cantora apresentou ainda Tempo de Alegria.
O Jota Quest, que em 2001 também participou do protesto das bandas brasileiras, mas em 2011 e 2013 foi à desforra tocando no Palco Mundo, apresentou Do Seu Lado. O Capital Inicial levantou a galera com À Sua Maneira. Andreas Kisser acompanhou praticamente todos os pequenos shows dessa abertura, mas foi com a turma de Dinho Ouro Preto que o guitarrista do Sepultura fez seu solo mais pesado da noite. Antes, até reggae ele tocou ao emendar uma das canções da Blitz com o clássico One Love. Os Titãs que sobraram (Branco Mello, Paulo Miklos e Tony Bellotto) tocaram Polícia e Bichos Escrotos e Kisser chamou todos os participantes ao palco ao tocar o solo do tema do festival. Rogério Flausino cantou, todos vibraram, muitos na plateia choraram e o festival começou pra valer.
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