De repente, à meia-noite, eu já na cama (morta depois de um dia de trabalho intenso em meus textos), meu telefone faz “pim”. Mensagem da minha mãe. Preocupei-me de cara, afinal, horas antes meu pai havia dito que não sairia de casa por nada no Dia dos Pais. Essa tinha sido a resposta dele a um convite para que viesse almoçar comigo no Rio, já que, sem carro e cheia de trabalho, ia ser complicado eu ir a Niterói. Mas eu entendi… Sempre perto dessas datas comemorativas, ele simula uma depressão e posa de Rei, preferindo que nós, familiares e súditos, façamos o esforço de preparar a festa sem ele ter que ter trabalho. Só que, desta vez, eu de fato estaria enrolada e avisei que, infelizmente, passaríamos então o domingo separados. Mas, à meia-noite, coloquei minha senha para ler a mensagem.
“Help…”, escrevera minha mãe. Entrei em pânico. Estariam eles sendo assaltados em casa? Teriam os bandidos já levado os dois para algum canto? Deveria eu ligar? E se os marginais aproveitassem minha entrada na trama para exigir mais coisas do que já estavam exigindo? Respondi por texto: “O que houve? Onde vocês estão? Posso ligar?” Nada! Coração a mil. Pô, os filhos da puta vão sacanear meus pais logo na véspera do Dia dos Pais?! Não me aguentei e telefonei:
– Alô!
– Mãe, o que tá acontecendo?
– Gostou do vídeo?
– Que vídeo, pôrra!
– O vídeo que seu pai mandou eu enviar para você!
– Mãe, onde vocês estão?
– No show do Krya (banda niteroinese)!
– E que vídeo é esse?
– O Krya tocando “Help”, dos Beatles!
– Puta que pariu! Achei que vocês estavam sob a mira de um revólver! Só recebi o texto, mãe! O vídeo não chegou.
– Hahahaha…
– Não tem graça! Nunca mais mande o texto antes do vídeo, tá? Aliás, que história é esse de sair sexta de noite, sábado de noite e não querer vir almoçar comigo no domingo?
– Coisas do seu pai. Hahaha…
Domingo de manhã, acordo com outro “pim”. Ai, meu Deus, o que será agora? “Eu e seu pai estamos preparando um saladão e um arroz com bacalhau e vamos levar para almoçar aí na sua casa, tá?
– Ahhh, a chantagem emocional funcionou, né?
– Coisas do seu pai, Chris. Coloca a mesa que estamos a caminho.
– Tá bom!
Para seguir no mesmo clima, dei a ele de presente o CD de Zé Ramalho cantando Beatles. No repertório, não tem “Help”.