Na trilha de Rosário, as únicas canções argentinas eram rocks

Morar fora é muito mais do que só aprender uma língua, fazer novos amigos, provar outras gastronomia e cumprir com os compromissos planejados para a estadia no país escolhido. Morar fora é também uma experiência visual, olfativa, tátil e auditiva. Alguns voltam para sua origem com imagens marcadas. Outros retornam para casa com lembranças de cheiros. Eu volto com tudo isso, mas com certeza as sonoridades são o que mais marcam minhas viagens.

Banda argentina Airbag, da música 'Noches de Insomnio'

Os argentinos Airbag, da música ‘Noches de Insomnio’

E não foi diferente nessa temporada de três meses que passei na Argentina, morando na cidade de Rosário por causa de um intercâmbio do meu mestrado. Além do som da língua, das ruas e das casas onde vivi e do silêncio que escutei durante meus estudos, fiquei muito atenta ao som das rádios locais. E descobri uma trilha sonora muito diferente do que eu imaginava quando embarquei.

A banda rosarina Patagonia Revelde, de 'Abrazame'

A banda rosarina Patagonia Revelde, de ‘Abrazame’

Pensei em Mercedes Sosa, Charly Garcia, Astor Piazzolla e na banda Soda Stereo ao planejar o que ouviria durante minha estada em Rosário. Era o que eu mais gostava da música argentina. Com a inclusão do nome de Chango Spasiuk nesta lista e de mais duas músicas (dois rocks) do set list da rádio que escutei durante a temporada que passei lá, continua sendo, afinal, não conheci quase nada de novo da produção argentina nesses 90 dias em que vivi de hablar castellano. Sério! Faço a mea culpa por não ter corrido atrás de outros shows (além desse do acordeonista de Misiones)… estive muito ocupada com minhas obrigações acadêmicas. Mas liguei o rádio diariamente para entender o que o ouvinte pede.

Sia, do hit 'Chandelier'

Sia, do hit ‘Chandelier’

Com o dial conectado numa emissora voltada para a música, ouvi uma sequência que se repetia todos os dias, várias vezes por dia. Estavam nela as cúmbias colombianas, os reggaetons porto-riquenhos (como Travesuras, do americano/porto-riquenho Nicky Jam), as bachatas (como as dos estadunidenses Romeo Santos e Prince Royce,  chamadas Eras Mía e Darte un Beso, respectivamente) o hit Chandelier da Sia, o mega hit Bailando de Enrique Iglesias (Feat. Descemer Bueno, Gente De Zona) e os dois rocks que me cativaram: Noches de Insomnio, da banda portenha Airbag; e Abrazame, da banda rosarina (isso mesmo!) Patagonia Revelde. Essas duas foram as únicas músicas genuinamente argentinas da lista executada pela rádio.

Prince Royce, o 'príncipe' que canta 'Darte un Beso'

Prince Royce, o ‘príncipe’ que canta ‘Darte un Beso’

Não consigo avaliar se os rocks são tão bons assim ou se foram minha tábua de salvação quando vi que eram as canções que defendiam o lugar do meu ritmo materno (ou melhor, paterno, afinal o roqueiro que me ensinou a gostar de música foi meu pai). Sei que gostei. Fez-me perceber que os argentinos continuam sendo muito roqueiros, apesar de os ouvintes já estarem descambando para os ritmos dos países vizinhos. E sei que também acabei gostando de todas as outras faixas que tocavam no meu apartamento diariamente, o tempo todo. A da Sia passou a ser a canção do coração enquanto a de Enrique Iglesias, que tocava em todas as esquinas da Argentina, virou a música de festa e a melhor trilha para as estradas. Sabe quando você se apega e aquilo passa a ter um significado? Todo o roteiro que apresento aqui representa agora a minha experiência em Rosário.

Abaixo, a lista do que mais marcou da sequência radiofônica:

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