Jota Quest protesta contra sentimentos ruins em novo clipe

Fome, Terror, Racismo, Guerra e Medo. Em meio a tantas imagens lindas de famílias, de amigos e até de humanos e animais se abraçando, esses temas aparecem em fotografias de fotógrafos famosos do mundo todo no novo clipe do Jota Quest, intitulado Dentro De Um Abraço.

A foto de Mike Wells mostra a fome em um clique na África, em 1980; a de Robert Giroux apresenta a guerra em uma imagem do 11 de setembro de 2001, em New York; a de Elliot Erwitt flagrou o racismo nos Estados Unidos de 1950; a de Nick Ut, produzida no Vietnam, em 1972, é dedicada ao terror; e a de George William Marquardt, que inspira o medo, foi feita em Hiroshima, em 1945.

Jota Quest no clipe Dentro de Um AbraçoAlém de fazerem sua performance musical para o terceiro single do álbum Funky Funky Boom Boom, Rogério Flausino, Marco Túlio, PJ, Paulinho Fonseca e Márcio Buzelin rasgam as imagens, em protesto contra esses sentimentos. O momento para a divulgação da mensagem não podia ser melhor: em uma época de eleições conturbadas, em que vimos um grupo de brasileiros disseminando tantos sentimentos ruins em suas falas e postagens em redes sociais, nada melhor do que lembrar que o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço.

O videoclipe tem a direção de Mess Santos e foi filmado na Serra da Moeda e no Galpão 104, em Belo Horizonte. Muitas das imagens são de arquivo pessoal dos integrantes do Jota Quest. A música é de autoria de PJ e Rogério Flausino, inspirados por um texto homônimo da escritora gaúcha Martha Medeiros.  No final, a banda agradece aos fãs que enviaram as belíssimas fotos do contraponto: “Sintam-se todos #DentroDeUmAbraço”.

Leia o texto de Martha Medeiros, publicado na Veja em 12/06/2008:

Dentro de um abraço

Onde é que você gostaria de estar agora, nesse exato momento?

Fico pensando nos lugares paradisíacos onde já estive, e que não me custaria nada reprisar: num determinado restaurante de uma ilha grega, em diversas praias do Brasil e do mundo, na casa de bons amigos, em algum vilarejo europeu, numa estrada bela e vazia, no meio de um show espetacular, numa sala de cinema assistindo à estreia de um filme muito esperado e, principalmente, no meu quarto e na minha cama, que nenhum hotel cinco estrelas consegue superar – a intimidade da gente é irreproduzível.

Posso também listar os lugares onde não gostaria de estar: num leito de hospital, numa fila de banco, numa reunião de condomínio, presa num elevador, em meio a um trânsito congestionado, numa cadeira de dentista.

E então? Somando os prós e os contras, as boas e más opções, onde, afinal, é o melhor lugar do mundo?

Meu palpite: dentro de um abraço.

Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.

Que lugar melhor para um recém-nascido, para um recém-chegado, para um recém-demitido, para um recém-contratado? Dentro de um abraço nenhuma situação é incer-ta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso.

O rosto contra o peito de quem te abraça, as batidas do coração dele e as suas, o silêncio que sempre se faz durante esse envolvimento físico: nada há para se reivindicar ou agradecer, dentro de um abraço voz nenhuma se faz necessária, está tudo dito.

Que lugar no mundo é melhor para se estar? Na frente de uma lareira com um livro estupendo, em meio a um estádio lotado vendo seu time golear, num almoço em família onde todos estão se divertindo, num final de tarde à beiramar, deitado num parque olhando para o céu, na cama com a pessoa que você mais ama?

Difícil bater essa última alternativa, mas onde começa o amor, senão dentro do primeiro abraço? Alguns o consideram como algo sufocante, querem logo se desvencilhar dele. Até entendo que há momentos em que é preciso estar fora de alcance, livre de qualquer tentáculo. Esse desejo de se manter solto é legítimo, mas hoje me permita não endossar manifestações de alforria. Entrando na semana dos namorados, recomendo fazer reserva num local aconchegante e naturalmente aquecido: dentro de um abraço que te baste.

 

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