Plagiando meu colega de profissão Beto Feitosa, Alceu Valença não precisa de luneta para enxergar longe. Mas o seu Lampião, interpretado pelo grande Irandhir Santos, e a sua Maria Bonita, vivida pela ótima Hermila Guedes, precisam para entender o outro lado da vida em A Luneta do Tempo.
Dirigido e roteirizado pelo músico pernambucano, o filme mostra o lado romântico do casal de cangaceiros mortos e é todo falado através de rimas. Depois de levar dois kikitos no 42º Festival de Cinema de Gramado, o longa será exibido em 25 de setembro (quinta-feira) no Festival do Rio (24/09 a 08/10) e tem estreia prevista para 2015.
A trama se passa em São Bento do Una, cidade onde Alceu nasceu e onde chega o Circo Mazzola. Enquanto o estrangeiro (Ceceu Valença) anuncia o espetáculo e se engraça por Dona Dodô (Ana Claudia Wanguestel), mulher de Antero Tenente (Servilio Almeida), cangaceiros e autoridades se enfrentam.
Ao mesmo tempo em que são vistos e ouvidos muitos tiros, há muito amor entre os integrantes do grupo liderado por Lampião. Braço direito de Lampião, Severo Brilhante (Evair Bahia) não mata Antero Tenente – o “rei da gaia” (expressão típica de Pernambuco que equivale a “chifre”) – por clemência e é aí que a história começa a sofrer uma reviravolta.
A trilha sonora é de Alceu Valença e Paulo Rafael, guitarrista do pernambucano há quase 40 anos. O texto é todo escrito em forma de cordel. A literatura é destaque também na segunda parte do longa, quando 25 anos se passam e o músico Tito Lívio aparece no papel do escritor Severino Castilho.
Outro artista local ganhou um papel: o sanfoneiro Ari de Arimateia volta à cidade como integrante do circo – agora dirigido por um Mazzola velho, interpretado por Roberto Lessa – e acaba desagradando o filho do Antero Tenente, Antero Filho (Charles Teony). Alceu faz uma pequena participação como um palhaço do circo do Mazzola.