Meio Ira! esquenta público carioca com sucessos e lados B

Posted by Carlos Dias Category: Colaborações

Metade da formação clássica do Ira! subiu no palco do Circo Voador carioca no sábado (09/08). Como essa metade era formada pelo frontman Nasi e pelo guitar hero minimalista Edgard Scandurra, a plateia – que esgotou os dois mil ingressos – pareceu não se importar com a ausência dos ex-membros Gaspa (baixo) e André Jung (bateria).

Ira! no Circo Voador por Tata Barreto

Ira! no Circo Voador por Tata Barreto

O paulista Ira!, surgido na primeira fornada do BRock, no comecinho dos anos 80, com grande influência já tardia em seu som e estética dos mods ingleses – e até um pezinho no nascedouro punk brazuca -, atravessou o céu/inferno clássico dos grupos de rock: de música em abertura de novela das 9 (Flores em Você, do folhetim global O Outro), em 1987, até shows em troca de alimento não perecível em diretórios de universidades no interior de São Paulo, 15 anos depois. Com direito ao grand finale em 2007, quando uma briga feia entre Nasi e Scandurra não deixou nada a dever a outras porradas clássicas da história do rock.

Nasi por Tata Barreto

Nasi por Tata Barreto

Enfim, voltemos para 2014, que marca o retorno do Ira!, sete anos após sua última apresentação no balneário. A grande concentração de cabelos brancos e óculos de grau denunciava que boa parte do público seria alvo de homenagem no dia seguinte (domingo dos pais), enquanto o grupo inglês Jam tocado insistentemente no sistema de som e o visual de Edgard Scandurra traziam o clima mod pra Lapa. Clima que esquentou de vez quando a banda começou o show com o petardo Longe de Tudo, do álbum de estreia Mudança de Comportamento, de 1985, que levou a galera a levantar os braço e bater palma.

Edgard Scandurra no Circo Voador por Tata Barreto

Edgard Scandurra no Circo Voador por Tata Barreto

A segunda e a terceira canções, as menos conhecidas Flerte Fatal e É Assim Que me Querem, deram a pista de como seria o show: uma alternância entre sucessos e lados B. Aos gritos de “Ira, Ira” do público a banda respondeu com Dias de Luta, cantada em uníssono pelo povo do Circo. Tanto que na canção seguinte, Tarde Vazia, Nasi até abriu mão do microfone, deixando o coro da galera levar a música.
Ao olhar para o futuro, o Ira! buscou o passado, a inédita ABCD. E, com sua levada rockabilly, mostrou a habitual inquietude musical do grupo, que nos anos 80 flertou até com o funk e o rap ao gravar Vitrine Viva, em 1986, numa época em que ritmos estranhos ao rock não eram muito bem-vindos entre o público do gênero.

Ira! no Circo Voador por Tata Barreto

Ira! no Circo Voador por Tata Barreto

Um falante e simpático Nasi não teve dificuldade em conquistar a plateia, mesmo com seu fiapo de voz rouca. Já Scandurra, até então mais contido, surpreendeu quando anunciou que “o Rio é o melhor lugar do mundo pra tocar”. O guitarrista, por sinal, é responsável pelos backing vocals mais legais do rock nacional, em canções como Longe de Tudo e O Dia, a Semana, o Mês, por exemplo.

Ira! no Circo Voador por Tata Barreto

Ira! no Circo Voador por Tata Barreto

Envelheço na Cidade e Núcleo Base encerraram o set de 18 canções com o público conquistado e em ponto de bala pro bis. Nesse momento foi que o Ira! errou um pouco na direção. A opção por músicas menos conhecidas e covers (Foxy Lady do Jimi Hendrix e Bebendo Vinho de Wander Wildner) esfriou o plateia, que só voltou a se animar com o ponto inusitado da noite: a subida de um fã ao palco para reverenciar o vocalista e o guitarrista. A agitada Nas Ruas, do álbum Vivendo e não Aprendendo, de 1986, encerrou a noite, pouco depois das duas da manhã.

Ira! no Circo Voador por Tata Barreto

Ira! no Circo Voador por Tata Barreto

Não, eles não tocaram Pobre Paulista, que nossos dias chatinhos de excessos politicamente corretos transformaram em hino nazista bandeirante.

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