Lucas Vasconcellos leva ‘Falo de Coração’ ao Música no Capanema

Cantor, compositor, multiinstrumentista e integrante do duo carioca Letuce, Lucas Vasconcellos apresenta o show de lançamento do seu primeiro álbum solo, Falo de Coração, nesta quinta-feira (07/08), na sala Funarte Sidney Miller. O evento é parte do projeto “Música no Capanema”, começa às 18h30 e é gratuito.  Lucas será acompanhado por Ricardo Rito (baixo synth) e Thomas Harres (bateria eletrônica). No show, o músico “conversa” com o público no intervalo entre as músicas através de textos escritos e projetados em tempo real. As interferências visuais ficam por conta de Felipe Astolfi.

Falo de Coração Por Márcio Bulk

Não será o abismo um aniquilamento oportuno? Não me seria difícil ler nele não um repouso, mas uma emoção. SARTRE. “Esboço para uma Teoria das Emoções”.

Correr riscos, cortejar desfiladeiros sem temer os saltos mortais.

Lucas Vasconcellos nunca foi afeito aos caminhos fáceis e seguros, seja em sua banda seminal, Binário, onde a improvisação dava o tom, seja pelo duo Letuce com sua poética desconcertante, ou em seus outros trabalhos como produtor e compositor. Artista prolífico, Lucas vem direcionando sua música para esferas variadas, produzindo trilhas sonoras para cinema, teatro e TV, e contribuindo em álbuns e projetos de artistas como Katia B, Rodrigo Amarante e Lucas Santtana. Neste momento, dando espaço à sua verve mais autoral, o músico lança seu primeiro álbum solo, Falo de Coração. O título ambíguo já é uma pista para o que se ouvirá, carregando certa agressividade ao submeter o verbo a doses confessionais de testosterona. O disco, que começou a ser elaborado no final de 2012, conta com algumas parcerias de Paulo Camacho, Ronaldo Marinho e Letícia Novaes. Densas ou mesmo soturnas, as canções funcionam como um guia para as indagações de Lucas, onde a insegurança e a transitoriedade do mundo de hoje ganham destaque. A sonoridade, ainda que extremamente contemporânea, remete por vezes à produção musical brasileira do final dos anos 60 –Tropicália, Clube da Esquina e afins–, tanto pelo seu arrojo quanto por seu caráter de improvisação, o que faz com que o álbum dialogue em alguns momentos com o jazz fusion de um “bad” João Donato.

Falo de Coração começa com a delicada “Amor Uma Frase Por Vez”, onde se destaca o belo solo de charango. Em “E Se a Vida For”, Lucas se apropria das inacreditáveis oscilações métricas do baterista Bernardo Pauleira para abordar um dos temas mais presentes no disco: a temporariedade. “Flor de Tudo”, com seus pianos sobrepostos e percussão eletrônica, é, por sua vez, a faixa que mais deixa transparecer as influências de João Donato e o som mineiro. A climática “Meu Seu” traz reminiscências da infância do músico, que, aos poucos, se metamorfoseiam em uma sutil declaração de amor. Os percalços do fim de um relacionamento ganham contornos distintos na íntima “Eu Não Vou Chorar Por Fora”. “Leal”, uma das faixas instrumentais do disco, é um fado à moda Lucas. Como curiosidade, o título, além de seu significado mais óbvio, também é uma homenagem ao cantor português Roberto Leal. “Morfina”, uma das mais belas canções do álbum, possui um forte acento jazzy, sobressaindo a sua melodia elegante e o arranjo de saxofone de Fabio Lima. A faixa seguinte, “Eu Parti”, é a mais pop de Falo de Coração, com o predomínio de voz e violão emoldurados pela bateria eletrônica e samplers de Thomas Harres.

Em “Seven Laughs”, Letícia Novaes mostra o quanto é capaz de penetrar no universo de seu parceiro, oferecendo sua voz e concebendo uma das letras mais tensas e pungentes do disco. A instrumental “Parede Cinza” flerta de forma sutil com o post-rock, encaminhando o disco para a sua faixa final, “Sol de Meio-Dia”, onde Lucas extrapola a imagem inicial do sol a pino e a lança a uma realidade causticante e desoladora que condensa de forma definitiva os diversos nuances de Falo de Coração. Nele, Lucas consegue, com imensa sensibilidade, transformar em música suas inseguranças e anseios, criando a partir desta matéria prima um desconfortante e mordaz retrato do nosso tempo.

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