Marcela Bellas: Música boa da Bahia no Solar de Botafogo

Nascida, criada e influenciada pela boa música da Bahia, Marcela Bellas já conquistou seu espaço na sua terra natal com sua voz marcante e repertório peculiar e, agora, vai levar suas referências para o palco do Solar de Botafogo no dia 15 de maio, quinta-feira. A cantora e compositora fará o lançamento, no Rio de Janeiro, do seu terceiro álbum (o segundo solo), Chega de Chorar de Amor! Patrocinado pelo programa Natura Musical, o disco recebeu diversas críticas positivas e alçou a artista ao posto de revelação da música brasileira. O trabalho é exatamente como o show: romântico, mas muito dançante, com músicas próprias e releituras para fazer os cariocas verem o que a baiana tem.

O repertório do show terá canções de Marcela e sucessos que lhe tocam. Do álbum Chega de Chorar de Amor!, ela apresentará a suingada No Toque e a faixa-título, um reggae que cita a canção Acabou Chorare, dos Novos Baianos. Estão no roteiro Pra Longe, a romântica Amei, o rock jovem-guardista Ana Maria e a psicodélica-divertida I Love Lucy. A artista baiana levará do álbum para o palco, também, sua leitura de Telúrica, sucesso de Baby do Brasil, e de I Miss Her, do Olodum.

Marcela BellasSucesso de um álbum anterior, Alto do Coqueirinho ultrapassou as fronteiras da Bahia: tocou em rádios do Rio de Janeiro e de todo o país. “Essa é uma música que não pode faltar no repertório, assim como Bloco do Prazer, parceria de Moraes Moreira e Fausto Nilo. Quero também que conheçam o Bar de Bira, que foi gravada pro Wagner Moura e a banda Sua Mãe”, diz Marcela, que não esconde a expectativa.

Esse é o primeiro show de Marcela Bellas no Rio de Janeiro e essa nova representante feminina da música dividirá a noite e o palco com Juliana Sinimbú. A cantora paraense já gravou uma música de Bellas chamada Ó e também é artista patrocinada pela Natura. As duas farão shows separadamente, mas devem preparar alguma surpresa juntas. No palco, Marcela estará acompanhada de Ricardo Hardmann (bateria), Gabriel Dominguez (guitarra), Larriri Vasconcelos (baixo) e Tadeu Mascarenhas (teclado e acordeon). A cantora receberá ainda a percussionista Lan Lan para uma participação.

Show Marcela Bellas – Chega de Chorar de Amor (a noite também contará com show da paraense Juliana Sinimbu): 15/05 (quinta-feira), às 21h, no Centro Cultural Solar de Botafogo (Rua General Polidoro, nº 180, Botafogo – Tel.: (21) 2543.5411). Ingressos a venda no local e através do site Ingresso.com: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia entrada).

SOBRE O DISCO

Marcela Bellas e o CD Chega de Chorar de AmorO que é que a baiana tem?
Tem musicalidade, tem!
Tem dom pra compor, tem!
Tem boa influência, tem!
E também canta muito bem!

Não sei se faço Dorival Caymmi se revirar no caixão ou esboçar um sorriso com os versos que (re)escrevi, usando como base os da canção do baiano, depois de ouvir diversas vezes o álbum Chega de Chorar de Amor!, da cantautora Marcela Bellas. Sinto até certa vergonha por citá-lo num texto cujo objetivo é analisar a música de uma baiana. Por que? Simplesmente porque parece clichê escolhê-lo como referência. Só porque os dois são da Bahia torna-se necessário compará-los? Só porque está na moda falar de Dorival Caymmi no ano de seu centenário e ainda não o citei em nenhum post de 2014 é que tomo essa liberdade? Nem é ao mestre que a artista faz referência em sua obra… Bom, mas se vergonha tivesse mesmo, não publicaria esta resenha. É isso! Não tenho mais vergonha de dizer que, toda vez que ouço alguém falar ou leio algo como “música da Bahia” ou “artista baiana”, lembro do clássico do velho Caymmi.

Adoro desvendar os mistérios das baianas. E já o fiz com tantas artistas que entrevistei ao longo dos últimos 15 anos de jornalismo musical… E já o fiz também com tantas amigas que fiz ao longo de tantos anos de vida… Por que não o fazer também agora, que recebi e ouvi, de cabo a rabo, muitas vezes, o novo CD de Marcela Bellas? Explicação dada (peço desculpas por tanta enrolação), vamos ao que interessa: são muitas as boas influências que a cantora e compositora traz para sua obra, mas é sem dúvida a dos Novos Baianos a mais marcante delas.

Fico mais aliviada agora, ao lembrar que o grupo formado por Moraes Moreira, Galvão, Pepeu Gomes, Baby Consuelo e Paulinho Boca de Cantor eram fãs de Caymmi, tendo inclusive homenageado o mestre ao gravar uma versão contemporânea da canção O Samba da Minha Terra. Marcela Bellas faz, em seu novo álbum, uma leitura contemporânea de Telúrica, sucesso de Baby, e cita uma expressão eternizada pelo grupo na faixa-título Chega de Chorar de Amor!, um reggae suingado: “Acabou chorare / Repare, cabou / Vazou no tanque o chororô”. Toda à base de violão, a romântica Amei também nos leva ao sítio onde os baianos moraram. Todas essas músicas são parcerias de Marcela, assim como Orai, que cairia muito bem nos repertórios de Baby, tanto o daquela época quanto o atual, religioso (não tenham preconceito, porque, apesar do nome e do tema, a música é muito boa e dançante).

Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil deviam estar no subconsciente de Marcela Bellas quando ela produziu, sozinha, esse terceiro álbum. A voz é bem particular, mas imprime uma marca bem diferente das que vêm sendo colocadas pelas cantoras baianas de maior sucesso. Marcela canta mais no agudo, com uma doçura firme que lembra a Gal de alguns momentos da história da música. Acreditei é uma faixa que mostra esse potencial vocal da artista. As experimentações caetânicas parecem influenciar Pra Longe. A mistura de ritmos que Gil sabe fazer muito bem também aparece nas gravações de Chega de Chorar de Amor!: a guitarra baiana de No Toque lembra a guitarra usada no carimbó paraense e o bolero faz de Bar de Bira uma canção ótima para puxar o par para uma dança.

I Love Lucy é um rock meio psicodélico e Ana Maria, um rock jovem-guardista. O disco traz ainda uma ótima versão de I Miss Her –  composição de Lázaro Negrumy famosa na versão do Olodum – com texto da convidada Missy Blecape sobre a gíria muito usada na Bahia “brau”: “Brau é uma gíria baiana sinônimo de brega, suburbano, sem valor. Nasceu da expressão ‘brown’, que tem a ver com black power e soul music, movimentos que explodiram nas perifas americanas e se espalharam pelo mundo…”, diz trecho.

Não sei se Dorival Caymmi concordaria, mas eu reafirmo sem dúvida nenhuma: Marcela Bellas, baiana, tem três discos e tem musicalidade, dom pra compor, boa influência, além de cantar muito bem.

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