Wado está no circuito alternativo desde 2001, quando lançou seu primeiro álbum, “Manifesto da Arte Periférica”. Ao sair de Maceió para morar no Rio, fundou o Fino Coletivo (com Alvinho Cabral e Marcelo Frota, o Momo) e lançou outros discos, tanto com o grupo quanto em carreira solo. Tocou bastante na noite.
Apesar de muitos cariocas acharem que o músico catarinense tinha se mudado para São Paulo, foi para onde sua família mora desde que ele tinha oito anos, Maceió, que ele voltou. Mas, sempre atento à sua caixa de e-mails, ficou de olho no Sudeste, onde fechou uma parceria com Zeca Baleiro.
Com o álbum “O Ano da Serpente”, produzido por Zeca e lançado pelo selo do maranhense radicado em São Paulo, o Saravá, Wado pretende ampliar seus horizontes e levar a mais gente uma coletânea de canções retiradas de seus seis discos anteriores. Desse repertório formado por “Pavão Macaco”, “Fortalece Aí”, “Fita Bruta”, “Faz-me rir” e “Vai ver”, entre outras, apenas “Zás” é inédita.
Como foi que se deu essa parceria com Zeca Baleiro?
Zeca é amigo de alguns bons anos já e, neste tempo, chegamos a compor e lançar algumas canções (“Era”, “Si Próprio”, “Zás” e “Palavra Escondida”). Nossa admiração mútua acabou gerando essa coletânea, “O Ano da Serpente”, pela gravadora do Zeca, a Saravá.
O que efetivamente fizeram juntos?
Escolhemos o repertório! Zeca conhece bem meus primeiros seis discos. Fomos muito criteriosos nesse processo e remasterizamos o álbum para deixar a peça toda homogênea.
Qual foi o critério para a seleção de repertório?
Acabamos escolhendo o que é mais pop do meu repertório, o que comunica mais e que tem um possível viés radiofônico. Buscamos algo que jogasse uma luz sobre o que fiz até agora.
Como foi reencontrar Marcelo Camelo neste trabalho?
O Camelo está comigo na música “Com a Ponta dos Dedos”. Essa música foi eleita a melhor do Brasil no último VMB da MTV. Foi uma honra ter o Camelo comigo, que considero o maior compositor da minha geração.
E Mallu Magalhães, que também está em ‘Com a Ponta dos Dedos’?
Na coletânea, estas pessoas enriquecem e ampliam o alcance do disco. Mallu é um doce de pessoa, tá cantando muito e tem um carisma incrível. Adoro o trabalho dela!
Ouvi também a voz de Chico César…
Fizemos a música “Surdos de Escolas de Samba” juntos, mas sem o encontro físico. Trabalhamos muito pela internet, por e-mail. Considero o Chico um virtuose, além de grande guerrilheiro da cultura brasileira, um cara que leva o nome da escola do Jaguaribe Carne (Grupo de Pedro Osmar e Paulo Ró) adiante.
Estava lembrando do disco anterior, ‘Vazio Tropical’, e acabei achando o release dele (acredita que guardei?). Achei a história do Kassin divertida e percebi que, no fim, ele serviu como mola propulsora pra te tirar do estado de cansaço que estava. Tô certa? A segunda pergunta é: entre ele e ‘O ano da serpente’, rolou algum novo cansaço ou a opção pela coletânea foi consciente?
Estou bastante otimista, acho que a coletânea serve mais para lançar uma luz sobre coisas minhas que foram pouco ouvidas de fato. Hoje, consigo chegar em mais gente e tem músicas ali que podiam não reverberar o suficiente na época em que foram lançadas.
Fale de ‘Zás’. É a única inédita do repertório, né?
Gosto muito da sonoridade dela, tem algo de indie rock em contraponto à força da canção. Fizemos ela como uma canção de fim de amor e separação, muita gente se conecta com esse sentimento.
Naquele release, você falava também da dificuldade de se fazer disco com orçamento pequeno. Como foi a produção deste lançado pela Saravá?
Tive a sorte de poder trabalhar com a equipe do Zeca neste disco, eles são gente muito trabalhadora e competente. Tenho sentido uma ampliação nas possibilidades, acho que posso chegar a lugares onde nunca estive.
O que te fez mudar do Rio pra SP e como está sua vida por aí?
Tenho ido a São Paulo constantemente, mas moro em Maceió. Minha família tá aqui, mas gosto de rodar. Eu moro mesmo é no meu e-mail. É o lugar mais fácil de me encontrar 🙂