Compositor estudioso, cantor e instrumentista talentoso e parceiro dedicado, Edu Krieger é também um entusiasta do futebol. Neste que está sendo um dos melhores anos de sua carreira profissional, ele anda se alternando entre seus shows e as viagens com a turnê de Ana Carolina, com quem compôs 5 das 13 músicas do álbum “#AC”. Na folga, que deve rolar durante a Copa do Mundo, ele não quer assistir aos jogos da Seleção Brasileira, pela qual sempre torceu. Chateado com as falsas promessas (ou as promessas não cumpridas), Edu não está nada animado com a situação do país. Só que, em vez de reclamar em voz baixa ou postar frases feitas nas redes sociais, ele compôs uma ótima música. Intitulada “Desculpe, Neymar”, a canção não é dedicada ao ídolo, mas a todos os brasileiros que também estão putos com as mazelas deixadas pelas chamadas “melhorias” feitas por causa do grande evento.
Leia uma breve entrevista em que Edu Krieger deixa seu constante bom humor de lado pra falar sério. Em seguida, ouça essa canção – cujo clipe improvisado no Youtube já passou das 500 mil visualizações – reflita e, se concordar, cante e ajude a engrossar o coro.
Posso imaginar o que te inspirou a compor essa música, mas prefiro que você mesmo me conte.
A inspiração surgiu quando tomei conhecimento de que mais de 85% do custo da Copa do Mundo estão sendo pagos com dinheiro público, ao contrário do que nos foi prometido na época da campanha para ter o Brasil como país sede, quando o governo afirmou que esta seria a Copa da iniciativa privada. Além disso, 75% dos lucros do evento ficam com a FIFA. É como se nosso país, carente em vários setores sociais, estivesse financiando uma festa beneficente para encher os cofres da já bilionária FIFA. Pensei em escrever um texto a respeito e postar na internet, mas me expresso melhor através de canções, além de achar que a arte tem um poder de gerar reflexões mais profundas.
O que você está achando do país nesse momento?
Acho que, a despeito da farra com o dinheiro do contribuinte e com o vandalismos político praticado há décadas pelo Estado, a população aos poucos vem aprendendo a se posicionar, a protestar, a reconhecer seus direitos, e isso é muito positivo. Claro que há setores fascistóides que aproveitam para tentar desestabilizar os movimentos através da violência, mas, de um modo geral, vejo com bons olhos este despertar para uma maior consciência política. Pena que os candidatos que nos oferecem nas eleições são péssimos!
Como é e como foi sua relação com a Copa do Mundo?
Sempre fui um entusiasta do evento, do nosso futebol, um torcedor apaixonado. Lamento muito que, justamente quando a Copa acontece em meu país, eu não me sinta entusiasmado a torcer, por me sentir enganado. Os aeroportos estão caóticos, a tal melhoria na mobilidade urbana não aconteceu. Isso desanima.
O que você vai fazer nesta Copa?
Alguns jogos eu gostaria de ver, por exemplo, se rolar Espanha X Alemanha, vai ser um jogão. Argentina X Portugal, com Messi de um lado e Cristiano Ronaldo do outro, pode se tornar um acontecimento esportivo histórico! Mas, como os jogos da seleção brasileira não me interessam nesta Copa, provavelmente durante eles vou aproveitar a cidade vazia para andar de bicicleta.
Com as Olimpíadas, você tem alguma esperança de melhora para os brasileiros?
A esperança de melhora está na conscientização política cada vez maior da população e na formação de um pensamento crítico que nos possibilite cessar práticas deploráveis há décadas adotadas no país por todos os partidos que chegam ao poder. Se isso não acontecer, os eventos esportivos serão apenas meros pretextos para mais fraudes e maracutaias.