Mariene de Castro: samba de roda, Efun e corpo à mostra

Posted by Chris Fuscaldo Category: Shows e eventos

Quem conhece a Bahia sem os abadás e fora das cordas dos trios elétricos, conhece um universo muito além dos que os hits de axé que saem de lá e se espalham por todo o resto do país. Acessar esse mundo daqui do Sudeste era quase impossível até a chegada de Mariene de Castro, uma baiana de corpo, alma e música. Radicada no Rio de Janeiro, onde vem divulgando seu trabalho no samba, a intérprete mostrou neste sábado (22/03), durante o lançamento do álbum “Colheita”, no Vivo Rio, o que é que a baiana tem. E, emendando “Falsa Baiana” em “Ilha de Maré” – uma das primeiras músicas de seu repertório que foram divulgadas nas nossas bandas – provou que tudo o que faz é com muita verdade, ou melhor, vontade.

Mariene de Castro por Marco Amarelo

Mariene de Castro por Marco Amarelo

Além de apresentar as canções do novo álbum (“Oxóssi”, “Me Beija”, “Impossível Acreditar que Perdi Você” e outras), Mariene fez no palco um resumo de sua carreira. “Amuleto da Sorte”, do álbum “Tabaroinha”, foi seu primeiro sucesso radiofônico no Rio, mas canções como “Prece de Pescador”, presente no disco “Abre Caminho”, e “Ponto de Nanã” já embalavam o sucesso de Mariene na Bahia.

IMG_0610

Mariene de Castro por Marco Amarelo

Um dos momentos mai emocionantes do show foi durante essas duas canções. Enquanto cantava e um bailarino careca girava atrás segurando um grande guarda-chuva, Mariene soltava pelos ares purpurina dourada, provavelmente simbolizando o pó de pemba (que serve para pintar um iniciado), mas na cor de Oxum (amarelo), o seu orixá de cabeça. Em seguida, o rapaz se ajoelhou na frente da cantora, que o pintou de dourado, usando a mesma purpurina, com quem estivesse coordenando o Efun*.

Mariene com Hamilton de Holanda por Marco Amarelo

Com Hamilton de Holanda por Marco Amarelo

Antes desse momento que hipnotizou muitos, Mariene de Castro recebeu Hamilton de Holanda e seu bandolim para acompanhá-la em “Nós Dois”, canção do disco novo, e Beth Carvalho, com quem fez um belo dueto em “Samba da Benção”. Madrinha musical de Mariene, madrinha religiosa de uma das filhas da cantora, Maria, e pessoa que acolheu a baiana em sua chegada no Rio,  Beth surpreendeu a todos com sua boa disposição e, no final do número, ao levantar para dar um beijo na estrela da noite. “Saravá, madrinha, minha benção, você que é a estrela maior desse país”, pediu Mariene, durante a cantoria.

Com Beth Carvalho por Marco Amarelo

Com Beth Carvalho por Marco Amarelo

Mariene saudou a Bahia, o recôncavo e os quatros filhos, presentes na plateia, e se movimentou pelo palco com a energia de sempre. Ela só esqueceu que o figurino não era o mais apropriado para certos movimentos. Se nas fotos do encarte de “Colheita”, a verdadeira baiana ficou com jeito de falsa carioca, no show, ela acabou com sua frente e seu verso de fora ao girar com as saias de tecidos leves totalmente diferentes das que costumava usar antes das intervenções que começou a sofrer desde que chegou ao Rio.

Mariene de Castro por Marco Amarelo

Mariene de Castro por Marco Amarelo

O primeiro figurino, um vestido creme ou rosa claro (a luz do palco confundia) com uma abertura na frente fez com que o collant de Mariene aparecesse logo no início do show. Mais para o final, quando a cantora era só energia no palco, ela girou, girou, girou e a saia vermelha só não voou mais alto porque havia um cós seguro pela cintura: mas tanto a frente quanto o bumbum ficaram à mostra. Pelo menos Mariene cantou descalça e não com o salto que usou para as fotos do disco.

Mariene de Castro por Marco Amarelo 16

Mariene de Castro por Marco Amarelo

Ladainha de capoeira e menção à compositora portuguesa com ascendência cabo-verdiana Sara Tavares foram outros destaques do espetáculo. Mariene ainda tocou faca no prato durante “Pout-pourri de Nene”, puxou palmas da plateia para o samba de roda e lembrou, através da letra da música, que “a primeira umbigada é baiano que dá”. O bis ganhou figurino novo, um vestido com flores brancas, e as canções “A Pureza da Flor” e “Conto de Areia”, sucesso de Clara Nunes.  “Foi lindo pra vocês? Levem essa colheita pra casa e compartilhem com todos”, pediu Mariene, que convidou uma turma de sua produção para subir ao palco e encerrar o show com ela. Antes de acabar, ainda contou sobre sua vinda pro Rio e trouxe Beth ao palco para mais uma homenagem: “Coisinha do Pai”. Com todos, finalizou com “Abre Caminho”.

(clique nas fotos)

Mariene de Castro por Marco AmareloMariene de Castro por Marco Amarelo 9Mariene de Castro por Marco Amarelo 17

 

*Da Wikipedia: Efun é uma cerimonia ritualística que consiste em pintar a cabeça raspada e o corpo de um iniciado, com círculos ou pontos e com traços tribais, feitos com giz, também conhecido como pemba durante a iniciação. Na primeira saída (saída de Oxalá) do iniciado (Iaô), a pintura é toda branca. Na segunda, costuma-se usar a côr preferida do seu orixá de cabeça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Required fields are marked *.

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>