Já faz 25 anos que Elias Nogueira começou a fazer suas famosas entrevistas. Famosas porque saíram em diversos jornais, revistas e suplementos culturais. Famosas também porque as mesmas o aproximaram de diversos nomes da música brasileira. Com seu jeito próprio de puxar uma boa conversa e extrair dela conteúdos incríveis – muitas vezes exclusivos – ele respeitou e conquistou o respeito de muitos editores, leitores, colegas de trabalho e, o mais importante, dos entrevistados. Por que “mais importante”? Porque não fosse isso, o jornalista de música do Rio de Janeiro não estaria realizando o sonho de lançar um livro reunindo algumas das melhores entrevistas que já fez ao longo dos seus 25 anos de carreira.
“Conversando com Elias” é a comemoração desta data e compila, além de encontros que marcaram a memória de Elias Nogueira, declarações que fizeram dele um grande jornalista dentro do segmento no qual escolheu atuar.
“Uma entrevista muito significativa e esclarecedora foi a que fiz com Arnaldo Brandão e Kika Seixas. Ela contou como foi acompanhar Raul Seixas na fase final. Ela lembra que Raul estava decadente, ninguém queria chegar perto dele. Em casa, ela sentia cheio de hospital e, quando via, ele estava tomando éter. Ela chega a citar que ele estava tão inchado que parecia o Roy Orbison. E ela, com a filha de três anos, assistindo a tudo e sofrendo junto”, conta Elias, lembrando da emoção que viu a viúva de Raul sentir enquanto contava sua história.
Assim como essa entrevista, realizada em março de 2002 para a Tribuna da Imprensa, marcou a carreira de Elias Nogueira a que ele fez com Marcelo Nova, outro parceiro (só que musical) de Raul. Para quem desconhece a história, Nova gravou um disco com Raul e fez shows com ele um ano antes da morte do roqueiro. O papo que publicou na International Magazine de março de 2005 está no livro.
“Emblemática também foi a entrevista que fiz com Zé Ramalho para a International Magazine, em 2002. Ele sabia que eu era beatlemaníaco e me recebeu em sua casa com vários discos e outras coisas dos Beatles. Falamos sobre o trabalho novo da época, sobre o apelido de Bob Dylan que ele ganhou, sobre a descriminalização da maconha… ‘Não dá pra acreditar que um país continental como esse não sabe administrar de uma planta’, ele falou na época. O (jornalista) Tárik de Souza (que escreve na contra-capa do livro) disse que já me viu entrevistando e que tenho o hábito de fazer a pessoa se sentir íntima, e aí consigo tirar o que um repórter comum muitas vezes não tira”, conta Elias.
É fácil entender porquê Elias se aprofunda tanto e tão bem na vida e na obra dos artistas que entrevista: sua primeira faculdade foi História. A entrada no Jornal do Brasil no final da década de 80 o fez mudar de rumo e optar por estudar Jornalismo. Elias conta que Maria Juçá, na época funcionária do JB e hoje produtora responsável pelo Circo Voador, foi quem o ajudou a desenvolver seu dom, apresentando a ele Marcos Petrillo, com quem o jornalista fundou a International Magazine. A revista durou 20 anos.
“Teve uma época que saí de tudo para trabalhar como assessor de imprensa com meu pai, que era político. Isso durou uns quatro anos”, lembra.
Quando voltou à música, o jornalista virou colaborador da International Magazine. Esse é o papel que exerce até hoje em outros veículos, entre eles o Jornal do Oeste, do Paraná, o Jornal das Gravadoras (JG News) e o próprio blog, intitulado Aumenta o Som! Esse movimento deu a Elias a liberdade para escolher seus entrevistados. E é por isso que, em “Conversando com Elias”, estão ninguém menos que Armandinho, Bezerra da Silva, Erasmo Carlos, Fagner, Hyldon, Martinho da Vila, Ney Matogrosso, o falecido Zé Rodrix e muitos outros.
“Já escrevi também para a Folha de SP, Gazeta Mercantil, Veja… Hoje, sou free-lancer e não sei mais fazer de outra forma. Sou roqueiro e agradeço a John, Paul, George e Ringo por ter me tornado jornalista cultural. Mas fui me tornando cada vez menos radical. Isso me proporcionou ótimas entrevistas, além de amizades. Erasmo me recebeu três vezes na casa dele e ficou comigo o tempo que precisei. Esse foi um sonho que realizei”, comenta.
Outro sonho realizado, mas pela metade, foi ter no livro os ex-integrantes do grupo Secos & Molhados Ney Matogrosso e Gerson Conrad. A parte triste da história foi não conseguir conversar com João Ricardo. O violonista do grupo poderia ter sido a 25ª entrevista que Elias incluiria em seu livro de 25 anos de carreira, mas o músico se negou a falar depois que soube que os ex-companheiros tinham dado entrevistas para Elias:
“Continuo sendo fã do cara, mas fiquei frustrado.”
Com seu gravador de fita K-7 na mão, rodeado de vinis, Elias Nogueira promete dar sequência ao livro, lançando em breve outros com outros nomes da música brasileira. Enquanto isso, os fãs dos nomes citados em “Conversando com Elias” podem se deliciar com essas histórias que ele nos contou e com outras na próxima segunda-feira (17/02), na Livraria Bolívar, em Copacabana (Rua Bolívar, 42 / lj A). O lançamento com noite de autógrafos está marcado para 19h30.