Bati um papo delicioso com Nina Wirtti na última terça-feira (06/08), na Miranda, dentro do projeto Pensar, a convite de Fabiane Pereira, da Valentina. Além de contar como foi sua mudança de Santa Maria (RS) para o Rio de Janeiro, ocorrida em 2006, Nina falou sobre o processo de produção de seu álbum de estreia, “Joana de Tal”, que ouvi incansavelmente nos últimos dias. Antes, trocamos uma ideia para eu me inteirar com a história da gaúcha, que entrevistei pela primeira vez. Cheguei à conclusão de que a música brasileira ganhou mais uma ótima cantora. Que voz… e que repertório!
“Eu não tinha um plano traçado, um grande 0bjetivo. Tinha me formado em psicologia, mas eu era a única dos três irmãos que foi fazer outra coisa diferente de música. E eu não estava feliz. Já cantava na noite e compunha, mas não achava meu trabalho consistente. Comovida pela presença dos meus irmãos no Rio, acabei vindo pra cá. Guto já tocava com Yamandu Costa e outros artistas. Deixei a vida me levar e conheci muitos músicos, trabalhei com muita gente boa”, conta Nina.
Yamandu faz um de seus belos violões em uma canção do disco de Nina: “Zé Ponte” (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins). Nomes como Zé Paulo Becker, Carlos Malta, Moysés Marques e Alfredo del Penho apresentaram a Nina clássicos que fizeram a cantora ter vontade de gravar um disco. Íntima da Lapa e figurinha constante nas rodas e shows de samba, choro e marchinha, ela escolheu canções de medalhões como Paulo César Pinheiro (“Sangue de Rei”, composta com Pedro Amorim) e de novatos como Gabriela Buarque (“Samba Rezadeiro”, composta com Roberto Didio) para o repertório de “Joana de Tal”, lançado em 2012. O samba, o choro, a MPB, a música latina e até o fado ganharam unidade na voz de Nina e na direção musical de seu irmão, Guto Wirtti.
“Meu pai toca folclore da nossa região, com influência forte da música latino-americana. Os nossos ritmos são emprestados dos países vizinhos. O chimarrão é argentino… Nos shows, eu tenho cantado um bolero cubano (‘Maria La O’) e uma música do repertório do meu pai (‘Los Hermanos’). Precisei de um tempo para maturar a escolha desse repertório e até para amadurecer como cantora. Estudei para entender esse paladar do choro que os sambas antigos têm. Fui aluna da Amélia Rabello. Esse repertório me desafiou a amadurecer musicalmente”, diz.
O pai, Antonio Gringo, é compositor e violonista, e sempre esbarrou com o pai de Yamandu pela estrada. Guto é baixista e Graziela, a outra irmã, também canta. A mãe é afinada, mas não verteu para a música. Já o avô materno foi agricultor e violinista de uma orquestra. O sotaque gaúcho de Lupicínio Rodrigues, que Nina Wirtti trouxe para seu disco, veio através de um tio que faleceu antes de ela iniciar a produção. Como? Nina explica: “Eu lembrei que meu tio amava Lupicínio e fiquei triste porque não tinha tido a chance de perguntar a ele sobre essa linguagem, essa pegada mais bucólica da nossa região. Minha mãe achou uma fita que, entre outras gravações, trazia uma com meu tio cantando ‘Zé Ponte’. Ele falou comigo através da fita.”
No show apresentado na Miranda, Nina Wirtti interpretou, entre outras, “Zé Ponte”, “O Rancho da Goiabada” (João Bosco) e “Sangue de Rei” ( Pedro Amorim / Paulo César Pinheiro ). Ela cantou “Hoje é pra mim” ( Gadé / Valfrido Silva ) com Marcos Sacramento e “Você só…Mente” ( Noel Rosa / Hélio Rosa / Francisco Alves) com Pedro Miranda. Ela foi acompanhada por Thiago da Serrinha (percussão), Rafael Mllmith (violão), Pedro Aune (baixo), Aquiles Moraes (trompete) e Rui Alvim clarinete / clarone).