A história de Cezzinha se parece muito com a do grande acordeonista que faleceu na última semana após uma luta de seis anos contra um câncer. Assim como Dominguinhos, que trocou Pernambuco pelo Rio de Janeiro aos 13 anos para acompanhar o mestre Luiz Gonzaga, aos 12 anos, o jovem pernambucano saía de casa para tocar sua sanfona e poder trazer a renda para o sustento de 12 pessoas de sua família. E, com a mesma idade que Dominguinhos tinha quando conheceu o seu ídolo, esbarrou com ele em um estúdio de gravação de Recife e viu sua vida mudar. Cezzinha também venceu: mudou-se para São Paulo com Dominguinhos, aprendeu com ele a cantar e tocar ao mesmo tempo (coisa que o ‘”chefe” aprendeu com Gonzagão), entrou para a banda e para o coração de Elba Ramalho e, agora, comemora sua consagração como artista solo.
“O sucesso não é uma coisa fácil de dominar. É algo que Deus dá e tem que comer muito cuscus para segurar. Tem muita gente querendo ser famosa sem saber o que é sofrer, perdoar, transformar raiva em prazer, suar, lutar. Para elevar uma arte, uma cultura, é preciso disso tudo. O Sol nasceu pra todos e cada um faz o que bem quiser. Eu procuro seguir o caminho do bem. Saí de casa aos 12 pra sustentar 12 pessoas. Andei de ônibus, sofri, fui barrado porque minha sanfona era velha, já fiz tudo. Hoje, sinto que a felicidade veio em dobro”, conta Cezzinha.
Além do lançamento do álbum “Porque Tem que Ser Assim”, entre um show em festa junina e outro, Cezzinha gravou recentemente seu primeiro DVD, intitulado “Um Romance de Novela”. Com oito faixas, quase todas de Cezzinha com algum parceiro, sendo uma delas de Nando Cordel, o disco tem uma linguagem mais romântica.
“Isso veio chegando naturalmente com os cantores que vinha acompanhando… Hoje em dias, as músicas estão afastando os casais cada vez mais. Vejo os homens querendo dançar longe das mulheres… Por isso resolvi fazer música para aproximar os casais. Sou de família tradicional, de respeito. Quero fazer jus ao nome da minha família e tocar o público feminino”, comenta Cezzinha.
Pelos nomes das músicas, dá para ver que Cezzinha é romântico mesmo. “Um Anjo pra Cuidar de Mim”, “Já com Saudade”, “Gostando de Mim” e “Romance de Novela” são algumas delas. A faixa título tocou um dos corações nordestinos mais famosos do Brasil: “Porque Tem que Ser Assim” foi gravada por Elba Ramalho no disco “Vambora Lá Dançar” e está tocando nas principais rádios do país.
“O encontro com Elba foi muito bacana. Foi uma coisa muito boa que me aconteceu. Foi a junção de dois aspectos musicais num momento da minha juventude. Fiz essa música para ela”, declara o músico, agora disponível para novas aventuras amorosas: “Tô solteiríssimo!”
Elba foi uma das cantoras convidadas para participar da gravação do DVD, que tem previsão de lançamento para novembro. Mais dançante, o roteiro parece que vai ficar mais interessante ainda com as presenças de Maciel Melo, Zélia Duncan, Alcione, Fafá de Belém, Almir Rouche, Jorge de Altinho, Santana e Nando Cordel.
“Foi a realização do meu sonho. É um projeto com o qual já vinha sonhando e para o qual, graças a Deus, encontrei os parceiros certos. Fluiu de forma positiva. Recebi grandes cantoras e cantores locais, além de Terezinha do Acordeon. Quis reverenciar nossa cultura nesse trabalho, fazendo com que as pessoas conheçam composições mais recentes”, diz.
No dia dessa entrevista, antes da notícia sobre a morte de Dominguinhos, Cezzinha alternava felicidade com tristeza por causa da situação em que seu mestre se encontrava. Ele fez falta na gravação do DVD e vai deixar saudade na cena nacional:
“Tô abalado, naturalmente. Dominguinhos é maior expressão musical viva. A sociedade tá conturbada e isso já começa a refletir na cultura. Vejo jovens que não sei se vão conseguir fazer história na música como artistas como Dominguinhos fizeram. Eu sou jovem, mas venho de uma escola de compromisso com a cultura, com a arte. Todo mundo hoje quer ganhar dinheiro. A gente pode fazer tudo, contanto que haja equilíbrio, qualidade e respeito com a nossa cultura. Essa é uma das minhas preocupações.”
Veja a bela despedida de Cezzinha no velório de Dominguinhoas: