Li recentemente que Bruno Batista está gravando um novo álbum. Conheci este músico do Maranhão em 2012. Na verdade, ele nasceu em Recife. Como passou a maior parte de sua infância em São Luís e lá compôs mais ou menos 200 músicas na adolescência, considera-se conterrâneo de Zeca Baleiro. De cara, encantei-me com o título de seu único álbum: “Eu Não Sei Sofrer em Inglês”. Defensora da língua portuguesa que tento ser, achei o máximo a ideia de chorar, lamentar-se ou desabafar em português. Tá bom… Eu uso “sorry” e “please” em e-mails, escrevo “ok” no Gtalk e no Whatsapp, mas sempre vou contra aportuguesamentos de palavras como copydesk. I haaaaate quando alguém fala “copidescar”, por mais que essa tenha sido absorvida pelos nossos dicionários! Voltando a Bruno Batista, diferentemente de jovens compositores que sofrem em inglês, como Mallu Magalhães e Tiago Iorc, ambos já entrevistados para este site, meu personagem da semana compõe e canta na sua língua, com seu sotaque e toda a influência que traz de seu Maranhão querido.
“Temos artistas maravilhosos lá, como Josias Sobrinho, César Teixeira e Chico Maranhão, que, sem dúvida, me influenciaram fortemente. Isso sem falar no bumba-meu-boi e do surgimento caudaloso do Zeca e da Rita no cenário nacional. Na época, tinha 16 anos e recordo ter ficado muito impressionado com a qualidade dos álbuns e com a comprovação de que a musicalidade, o sotaque e alma maranhense tinham espaço, que era possível”, confessou Bruno, na época em que nos conhecemos.
Gostei também do fato de que não é porque defende o sofrimento em português que Bruno Batista deixa de exaltar ídolos estrangeiros na canção. Ídolos esses que também fizeram parte de minha formação musical:
“Marley, Lennon, Bowie, Morris Albert
Jack White, Dylan e Baez
De uma vez
De uma vez
Eu não sei sofrer em inglês.”
Bruno acertou em cheio meu coração musical com essa e outras composições do álbum. Outro ídolo estrangeiro, Quentin Tarantino é homenageado pelo músico em “Tarantino, Meu Amor”. A música “Lia, não vá” parece ter sido feita para minha dálmata Leea, que caiu doente justamente na época em que conheci Bruno:
“Lia, não vá
Agora mesmo tudo pode mudar
A novidade em algum lugar
E não vá, e não vá, e não vá.”
Fã de Rita Lee como eu, Leea dormia ao som da roqueira quando bebê (eu cantava para acalmar a pestinha). Ela melhorou, obrigada, mas caiu doente de novo esta semana. Não vou chorar agora, porque ainda quero falar mais sobre Bruno Batista.
(…)
O álbum conta ainda com Tulipa Ruiz na canção “Nossa Paz” e com Rubi em “Vaidade”. A banda que gravou no disco é formada por expoentes da nova cena paulistana: Gustavo Ruiz, Estevan Sinkovitz, Márcio Arantes e Marcelo Jeneci.
“O Jeneci participou como músico e arranjador num processo coletivo de criação que estabelecemos. Na época, eu ouvia bastante o disco ‘Ao Vivo no Estúdio’, do Arnaldo Antunes, e estava encantado com a sonoridade daquele cara. É um dos caras que mais admiro da minha geração”, conta Bruno.
Um dos maiores compositores da virada do século (opinião totalmente pessoal), Zeca Baleiro canta com o “conterrâneo” na música “Acontecesse”, uma espécie de carimbó eletrônico que parece trazer elementos da cumbia também.
“O Zeca é um dos meus grandes ídolos e dividir os vocais com ele em ‘Acontecesse’ foi uma das grandes alegrias que o ‘Eu não sei sofrer em inglês’ me proporcionou”, diz Bruno, entre outras coisas bacanas que costuma falar sobre os nomes com quem compartilhou a produção do CD.
Bruno Batista fez um show bem legal em maio de 2012, no Rio de Janeiro, onde também passou uma temporada de sua vida e se inspirou para compor músicas como “Hilda Regina”. Agora morador de São Paulo, Bruno Batista busca um lugar ao sol como tantos jovens artistas. Sem sofrer em inglês, ele segue o caminho obscuro da música brasileira. E eu sofro em português por não poder estalar o dedo e colocar o moço em alguma prateleira. Qualquer uma, Zeca Baleiro. Já sabemos que uma das coisas que mais te incomodam é a pergunta: “E aí, Zeca, você se considera mais do rock ou da MPB?” Para Bruno, agora é hora de conquistar a galera do rock, da MPB e até mesmo da cumbia e do carimbó. Don’t worry, Bruno. Be happy and good luck!