Já fazia tempo que não ouvia falar da Leela, banda que acompanhei desde o início, com a qual já fiz algumas matérias e da que acabei me distanciando depois que seus integrantes mudaram-se do Rio para São Paulo. Achei que Bianca Jhordão e sua turma estavam mais sumidos ultimamente, mas entendi tudo quando recebi “Música Todo Dia”, o terceiro álbum da banda lançada em 2004 pela EMI que logo conquistou música na trilha sonora de “Malhação” e prêmio VMB de banda Revelação. Bati um papo com Bianca e tirei tudo a limpo: ela, Rodrigo O’Reilly Brandão e Tchago Kochenborger tinham mesmo dado um tempo para investir em projetos, digamos, mais pessoais. Depois de uma temporada em Londres, Bianca deu à luz Theo, enquanto Tchago se dedicou ao trabalho como designer e Rodrigo tocou com outras bandas. Enrolada com outras pautas, acabei demorando a fazer a resenha do disco, mas coloco aqui uma entrevista na qual a vocalista e principal compositora conta suas mais novas experiências e os caminhos que a Leela segue atualmente.
Essa pausa que a Leela deu foi consciente ou simplesmente os planos foram mudando e vocês foram se adaptando às novidades?
Os planos foram mudando. Gravamos as primeiras ideias desse álbum em 2009 e, logo depois, Rodrigo e eu passamos uma temporada em Londres. Na viagem, adquirimos um sintetizador que usamos em algumas bases já gravadas e para criar as outras ideias. Tivemos mudança de baterista, minha gravidez… Nesse meio tempo continuamos com os shows, ensaios e também nos dedicamos a outros trabalhos, Rodrigo tocando com outras bandas, eu apresentando programa na TV e Tchago trabalhando com design.
O que vocês acham que trouxeram desse período para a música da banda?
Compramos o synth na viagem pra Londres e lá também fizemos algumas gravações de ideias melódicas para “On The Road” que, na época, nem tinha esse nome. Exploramos, nas letras, temas como viagens e reflexões, além de sentimentos e relacionamentos amorosos, de que falamos desde o primeiro disco. “Música Todo Dia” reflete esse momento de transição que o Leela vem passando, desde a mudança para SP até a certeza de que queremos continuar a fazer música todo dia.
A maternidade parece que te deixou mais ousada e bonita. O que você acha que mudou como cantora e compositora depois da chegada do filhote?
Obrigada pelo ousada e bonita! Nos últimos meses, um sentimento constante de contemplação sobre o que é a vida tem me tomado a cabeça. Ser mãe é intenso! São muitas responsabilidades, rotinas, horários… e um amor que chega a doer no peito de tão grande. Agora que o Theo completou 1 ano, é que estou começando a ter o meu tempo, onde posso refletir sobre esse primeiro ano sendo mãe. Estou muito animada para começar a compor novas músicas, tenho muitas ideias que precisam ser organizadas. Tô no aguardo do segundo semestre, quando o Theo vai pra escola e eu terei uma rotina mais focada na música e em novas composições.
Fausto Fawcett é um velho parceiro da banda. Conte como foi estar com ele de novo nesse disco.
Com a mudança do Leela pra São Paulo, poderia ficar mais difícil a parceria com o Fausto, mas nos surpreendemos com a frequência com a qual ele tem vindo à cidade. Tivemos a sorte de “ter” o Fausto em São Paulo nos momentos que estávamos no processo de composição. “Topo Tudo”, música que abre o disco, por exemplo, estávamos ensaiando na sala do meu apartamento quando o Fausto ligou dizendo que estava aqui. Recrutei-o para escrever a letra dessa nova música que estávamos ensaiando e, em 2 horas, finalizamos. É muito bom trabalhar com o Fausto, pois ele consegue captar nossa frequência.
Esse novo disco traz músicas com ideias fortes, entre elas ‘Por um Fio’, ‘On The Road’ e ‘Sutilezas’. Quais foram as principais inspirações?
“Por Um Fio” tem um clima urbano, tipo noite em SP, tédio, internet. A letra de “On The Road” acontece numa festa, bebida rolando, sentimentos à flor-da-pele, vontade de sair por aí… E “Sutilezas” tem seu clima romântico e diz que devemos aproveitar o amor enquanto dure sem esquecer as sutilezas. O que nos inspira são os retratos da vida urbana, as histórias dos amigos, as situações que vivemos.
‘Mais Beleza’ já parece uma música crítica à forma de se fazer arte. Estou certa? Pode falar mais disso?
A letra de “Mais Beleza” é de Carol Teixeira e, além de falar sobre a falta que sentimos de mais poesia e melodia, também remete à uma situação vivida por um casal. Eles se amam e não conseguem mais conviver juntos.
Fale sobre a gravação do clipe de ‘On The Road’, que entrou na lista da Rolling Stone deste mês?
A gravação de “On The Road” aconteceu na quadra de uma escola, em SP, e tivemos a Liga Ladies Of Helltown praticando o Roller Derby, que é um esporte de contato praticado sobre patins e só por garotas. Conheci as Ladies numa entrevista do Combo e resolvi convidá-las para participar. Desenvolvi a coreografia da banda com o Lúrian Cortez um ano antes da gravação do clipe e foi, nesse meio tempo, que descobri que estava grávida e resolvemos gravar o clipe pós-Theo quando o álbum fosse lançado. As Ladies também ficaram no stand-by e, enquanto isso, fomos nos conhecendo mais, eu assisti a alguns treinos delas e, no dia da gravação, o clima foi de descontração. As garotas arrasaram nos figurinos, no make-up e no Roller Derby. A direção foi de Paul Domingos, da Pexera Produções, e ficamos muito felizes com o resultado e com a indicação na Hot List desse mês na Rolling Stone.
Os projetos paralelos existem ou as energias estão todas voltadas para a Leela novamente? Como está a agenda?
O Leela tem prioridade na lista, mas os projetos paralelos rolam. Tem o “Tríceps”, formado pelo Fausto Fawcett, Rodrigo e eu. Fizemos algumas apresentações juntos e a ideia é compor um novo repertório em breve. Além da música, eu sigo apresentado o Combo: Fala + Joga na PlayTV (desde 2009) e, no próximo dia 27 de junho, estreia às 00h no Canal Brasil o novo seriado do Fausto, “Sombrio 40o”, no qual faço participação interpretando textos densos e reflexivos escritos pelo Fausto.