Músico e DJ, MAM apresenta seu quase premiado ‘Sotaque Carregado’

Posted by Chris Fuscaldo Category: Entrevistas Tag:

DJ MAMDJ MAM estreou no mercado discográfico em grande estilo: além de contar com participações de nomes como Carlos Dafé, BNegão, Cris Delanno e Rodrigo Sha, seu primeiro disco autoral foi indicado ao prêmio de melhor Álbum Eletrônico no 24º Prêmio de Música Brasileira. Co-produzido com Alex Moreira,  “Sotaque Carregado” perdeu o troféu para “Peregrino”, do Projeto CCOMA, dos produtores Swami Sagara e Moises Matzenbacher. Mas que diferença faz? A festa acabou de começar com MAM misturando ijexá, funk carioca, carimbó, tecnobrega, baião, coco, xote e samba de roda com beats globais da disco, moombahton, dubstep, reggae, afrobeat e rock. Saiba mais sobre esse projeto patrocinado pelo Ministério da Cultura e Conexão Vivo, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Rouanet).

Como surgiu a ideia de fazer “Sotaque Carregado”?

Queria colocar para fora as minhas composições, expressar-me. As letras falam de um Brasil que eu venho visitando, vivenciando e sampleando nos últimos anos. Como o slogan de meu programa de rádio e a festa em que eu era residente chamavam-se “Ser chique é ter Sotaque Carregado”, criei a banda com um coletivo de músicos parceiros, provenientes das bandas que tocavam nas festas, e dei voz as músicas. Algumas músicas autorais do repertório da banda, juntamente com novas parcerias que foram surgindo durante o processo de produção e gravação, compuseram o álbum.

Fale um pouco sobre a produção?

O CD foi produzido no estúdio Mola em parceria com o Alex Moreira. Como produzi tracks com vários produtores parceiros, como o Chico Neves, o Plínio Profeta, o Marcelinho da Lua e o David Villefort, tínhamos alguns projetos bem adiantados. Cerca de 50% do álbum já tinha elementos rítmicos, harmônicos e melódicos, mas estavam datados, e cada um com uma assinatura peculiar a cada produtor parceiro. Outras músicas foram compostas durante o período de produção. Já as existentes, ganharam novos arranjos, beats… foram enxugadas, ganharam outros trechos de letras, enfim, foi uma auto-antropofagia. Pesquisei uma gama de loops e referências do que havia de mais atual nas pistas de dança do mundo para, a partir do BPM das músicas, inserirmos a linguagem universal dos beats. Alexandre é muito rápido e criativo e nossa parceria fluiu muito bem. Definidas e programadas as bases, gravamos tudo o que pudemos sozinhos,  reciclando e recriando o material existente, mas deixando espaço para cerca de 42 músicos. As participações especiais do álbum também colaboraram com seus talentos. Praticamente todos os interpretes tocaram algum instrumento, fizeram algum arranjo, seja de metais, de vozes, num riff de guitarra ou nos beat boxes. O processo foi bem colaborativo.

Dj MAM no Réveillon 2013 CopacabanaVocê tocou a maior parte dos “instrumentos”. Fale um pouco sobre essa experiência.

Para mim foi uma experiência muito bacana. Estudei piano popular e teclado, mas não pratico… Produzir o álbum foi muito divertido e cada instrumento era um brinquedo diferente, o que fica evidente em alguns timbres de músicas, como a que versa sobre o nascer de uma criança em “Pra Balançar a nega”, a qual teve a sonoplastia tirada de cavalinhos e peixinhos, que comprei de um ambulante. Fiz questão de resgatar minhas raízes em “Sambarimbó”, onde toquei tamborim, instrumento que aprendi com 8 anos no bloco de minha rua no Méier, o Unidos da Tocantins. Em “Eu tô com Fome”, fiz vários beat boxes e usei outro novo brinquedinho adquirido para produzir o CD, o talkbox, também usado em “Iemanjá Carioca” para dar uma linguagem mais setentista aos clavinetes gravados pelo Dafé. Toquei chocalhos indígenas também em “Iemanjá Carioca”, e tive a sensação de incorporar os índios ancestrais protetores do Rio Carioca. Toquei sintetizadores em “Colorissom”, glockenspiel em “Coco de Itaparica”, sampler em “Ogun Oni Irê” etc. Enfim, me diverti pacas, e me senti mais útil e participante ativo de minha música.

O disco foi indicado ao Prêmio de Música Brasileira. Como se sentiu quando soube e o que espera?

Senti-me premiado. Toquei como DJ das festas dos últimos três anos do prêmio e sempre sonhei com esse momento, mas nunca conseguia fazer o meu álbum. A possibilidade de ganhar me emocionou muito, mas também vibro com o Projeto Ccoma, que ficou hospedado em minha casa aqui no Rio e com o Imperatore, parceiro de longa data. Já toquei com os dois “concorrentes”, somos amigos. Lógico que sabemos do impacto positivo da vitória e todos sonham com isso, mas, nesse caso, estamos celebrando o reconhecimento de nossa cena. Particularmente, eu e o CCOMA temos festivais e, nos últimos meses, um viajou para a cidade do outro para participar do festival do “vizinho”. O Impera quase participou também do “Sotaque Carregado”, mas teve uma trip internacional. Toco o som dele há anos, desde o volume 1 do boTECOeletro. Ele já tocou na festa “Ser Chique é ter Sotaque Carregado”.  Torço por eles na vida! Respondendo a sua pergunta, espero poder continuar vivendo de meu trabalho e que a minha música possa ser cada vez mais ouvida e cantada após a projeção dessa indicação.

Como você tem feito a divulgação deste trabalho?

Inscrevi o projeto de um festival homônimo na lei Rouanet e captei patrocínio com a VIVO, através do edital Conexão VIVO, que foi a plataforma de lançamento do meu CD. Promovi um festival com todos os convidados de meu CD e com os colegas da música e ícones que me foram referência. Tenho um selo e editora independente, portanto, prensei apenas 1000 cópias e distribuo para formadores de opinião e, principalmente, DJs. Eu o promovo muito pelas redes sociais e em meus shows e discotecagens. Cada evento que toco me possibilita uma assessoria de imprensa. No ato de lançamento, tive a assessoria de imprensa do festival e contratei duas assessoras exclusivas para o CD.  Atualmente, distribuo online via a One RPM, com quem estou aprendendo a trabalhar, e desde que lancei, o álbum está disponível para download gratuito em meu site (dica do CCOMA ;-)).

Como é compor, tocar e ser DJ? O que uma experiência acrescenta a outra?

São práticas extremamente complementares. A pesquisa, que me deu base para discotecar e produzir, é um banco de dados muito bom para a composição. Tenho várias melodias ao meu redor. A experiência da pista de dança, me ajuda a saber a pulsação que dá certo para cada brasilidade a ser turbinada. A estética de produção musical usada pelos DJs acaba sendo incorporada em minhas letras, inclusive, são apresentadas como metalinguagens. A temática abordada em minha poesia acaba dialogando com a forma com que produzo uma música. E cantar, bem, essa novidade, é um sonho que tive muita resistência em realizar, mas que me encanta.

 

 

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