Diferentemente da maioria das cantoras baianas, Mariene de Castro vem conquistando seu espaço na cena brasileira de mansinho. Já famosa há mais ou menos 7 anos em seu estado por defender o samba de roda típico da Bahia, ela agora recebeu um empurrãozinho de uma das maiores intérpretes que o Brasil já teve, Clara Nunes, para convencer o Sudeste de seu talento. Convidada a gravar o CD/DVD “Ser de Luz – Uma Homenagem a Clara Nunes”, Mariene mudou-se para o Rio de Janeiro de família e cuia e iniciou uma turnê de shows, que chega nesta quinta-feira (06/06) ao Vivo Rio.
“Estou vivendo um momento feliz e produtivo. A família veio comigo e sei que é uma fase para aproveitar. Esse é um momento de construção. Meu escritório passou a ser daqui, meu empresário é o Afonso Carvalho, e tudo isso favorece minha vinda. Sou claramente uma tabaroa que veio da Bahia e está no Rio cantando o repertório que uma mineira cantou”, diz Mariene.
Mãe de quatro filhos, sendo que Maria nasceu carioca, a cantora havia lançado seu terceiro CD, “Tabaroinha”, no ano passado. Logo depois, o convite do Canal Brasil em parceria com a Universal fez com que os projetos se misturassem. No DVD, gravado no teatro Tom Jobim, Mariene interpreta cinco canções de seu repertório: “A Pureza da Flor”, “Filha do Mar”, “Amuleto da Sorte” (que ganhou as rádios), “Não Vou Pra Casa” e “Um Ser de Luz”.
“Tabaroinha explica minha saída da Bahia para o Brasil, levando o meu sotaque. Tabaroa é a pessoa que sai da sua taba, se mistura com as tribos, mas não perde a essência. O show em homenagem a Clara Nunes não era um projeto de carreira, mas foi como um chamado. Minhas influências são aquilo que ouvi em casa: Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Dalva de Oliveira. Clara chegou a mim depois que faleceu, quando eu já cantava os sambas de roda, as músicas de minhas raízes, que vêm do candomblé, dos toques. Cantava ‘Ijexá’ e ‘Conto de Areia’ também. E reencontrei o trabalho dela há quatro anos, quando li o livro de Vagner Fernandes e comecei a ser convidada para cantar músicas dela”, conta Mariene.
Do repertório de Clara, Mariene interpreta no DVD (e vai interpretar no show do Vivo Rio) “Minha Missão”, “Guerreira”, “Feira de Mangaio”, “Morena de Angola”, “Canto das Três Raças”, “Coração Leviano”, “O Mar Serenou”, “Ijexá” e “Conto de Areia”, entre outras. No Tom Jobim, ela recebeu Zeca Pagodinho e Diogo Nogueira. O filho de João Nogueira voltará a cantar com ela na quinta-feira, assim como as Pastoras da Portela, que estão em turnê com Mariene.
“Viajar com elas tá sendo uma experiência muito linda! As senhoras sempre me acompanharam, tenho uma relação forte com a velha guarda, com as Sambadeiras de Santo Amaro, as Ganhadeiras de Itapuã e, agora, com as pastoras. Tia Surica teve relação forte com clara. Ela vestiu Clara quando ela faleceu. Muita coisa traz comoção a todos nós. O projeto todo está sendo muito emocionante, comovente. Todas as pessoas que participaram agregaram. Na gravação, por ser uma única apresentação, tinha muita coisa que a gente ia experimentar no palco pela primeira vez. Olhei para meus filhos na plateia e as lágrimas desceram. O projeto foi de serenidade e tranquilidade”, conta.
Compondo menos do que gostaria (seu maior parceiro, Roque Ferreira, está na Bahia), mas viajando muito com a banda (a turnê já passou até por Portugal) e prestes a estrear como protagonista em “Quase Samba” (primeiro longa e terceiro filme de sua carreira cinematográfica), Mariene está serena e tranquila com sua nova fase: “Sou espiritualizada. Convivo bem com esse universo família-carreira. Sou presente e intensa na maneira de amar e viver essas duas coisas.”