Alceu Valença contou à plateia do Miranda que tem ensaiados seis formatos de shows: o de Carnaval; o de São João; o Valencianas; o de rock, que, segundo ele, “não é de rock”; e o acústico. Conheço três deles e acho que posso dizer que, acompanhado de dois, seis ou 20 músicos, Alceu é sempre Alceu, aquele músico plugado, que parece sempre embalado por muitos volts. Apresentando o “Acústico” nesta sexta-feira e no sábado (17 e 18/05) na casa da Lagoa, o pernambucano emocionou e divertiu muito quem foi lá para, sentado, assistir ao músico num banquinho com seu violão. Acompanhado pela viola de Paulo Rafael e pelo acordeon de Lucy Alves, Alceu misturou clássicos com músicas menos conhecidas e fez muitas brincadeiras.
“Quero levar para fora um navio com a plateia. Mas quem quiser ir para a Europa e até para o Japão vai ter que cantar comigo”, propôs Alceu a certa altura.
A primeira música que entrou na brincadeira foi a melancólica “Ladeiras”. Ante de cantar sobre o amor perdido nas subidas e descidas de Olinda, Alceu pediu para que todos repetissem quando ele falasse “ladeiras”. Antes disso, o músico já tinha feito uma brincadeira sobre sua relação com a cidade pernambucana onde passa todos os carnavais e mais alguns períodos do ano: “O povo de lá pensa que eu moro aqui e o povo daqui acha que eu moro lá. E eu moro é na estrada.”
Mais no início do show, ele interpretou “Íris” e “Xote das Meninas”, esta última com a ajuda luxuosa da voz de Lucy. A acordeonista dividiu o microfone com Alceu também em “Tesoura do Desejo” e mostrou seu dote tocando e cantando sozinha “Qui Nem Jiló”, clássico eternizado por Luiz Gonzaga. O trio apresentou “Sabiá” numa leitura portuguesa, com certeza.
“Estive em Portugal recentemente. Que povo inteligente e elegante! Eu já tinha percebido as conexões, afinal, somos mediterrâneos. Temos o fado no xote, no samba de Cartola”, comentou Alceu, puxando, a capella, um trechinho “As Rosas não Falam” em ritmo de fado.
“Girassol”, “Como Dois Animais”, “Coração Bobo”, “Solidão” e “Anunciação” encerraram a primeira parte do show. Alceu fez que ia sair do palco, mas ficou atrás da cortina da coxia e logo voltou ao microfone. “Todo artista é mentiroso. Ele sai e fica escondido atrás da cortina. Eu vou sair e vocês cantam aquela música: ‘Alceu, cadê você, eu vim aqui só pra te ver'”, regeu o maestro, repetindo o final de “Anunciação” e saindo do palco. Claro que todos entraram na brincadeira e Alceu voltou cantando e tocando “Pelas Ruas que Andei”.
“Ligaram do Recife e disseram que está chovendo muito lá. Tiraram os quintais das casas. Pra onde a água vai? Temos que fazer esgoto!”, bradou o músico. E, quando todos já pensavam no pior, Alceu mostrou que não estava doido: “Eu aqui falando, enrolando e Paulinho e a menina não entraram.” Tímidos, os músicos voltaram ao palco ao som das gargalhadas e se ajeitaram enquanto Alceu falava dos formatos de show: “Preciso me concentrar para saber o que fazer em casa um.”
“Ai de ti, Copacabana”, “La Belle de Jour” e “Morena Tropicana” encerraram o “Acústico”, com Alceu improvisando até um repente no qual pedia para todos responderem ao “ai” e “oi” que cantou. Pura energia! Se deixassem, Alceu tocaria até o amanhecer, como faz nas noites de Carnaval e nas festas de São João.