Fluminense FM: A rádio que virou livros, filmes e (!) não está no ar!

Luiz Antonio Mello no filme 'A Onda Maldita'Julho de 1981. Eu e meu saudoso amigo Samuel Wainer Filho, o Samuca, estávamos numa situação invejável. Ele no Jornal do Brasil, eu no jornalismo da Radio Jornal do Brasil. Todo mundo dizia que iríamos longe, que nascemos para fazer aquilo e tal, mas a inquietação e a rebeldia foi mais forte. Numa tarde de domingo, ambos de plantão, tivemos a ideia de fazer um programa de rádio chamado “Rock Alive”. Tudo bem, mas por no ar onde?

Pegamos a lista telefônica e, na cara de pau, liguei para a casa do então Superintendente do Grupo Fluminense, Ephrem Amora. A rádio Fluminense FM tinha acabado de instalar um transmissor no alto do Sumaré. Bom, o Ephrem não entendeu direito o que eu queria, mas sabia quem eu era e acabou marcando uma reunião para a segunda-feira em sua sala. Fomos. Samuca e eu à bordo de sua Variant 73 azul-calcinha. Resumo da ópera (rock): Ephrem acabou nos oferecendo a direção da rádio. OK! Topei. Samuca, que estava de férias no JB, também topou. Estamos em agosto de 1981 e, quando chegou em setembro/outubro, ele me disse que o seu negócio era jornalismo e voltou para o JB, indo depois para a TV Globo. Samuca morreu em 1984, à bordo de um carro de reportagem da Globo, que se acidentou em Rio Bonito.

Fato é que, estimulados por nossa indignação, rebeldia e sobretudo no nosso jeito rock and roll de existir, eu, Sergio Vasconcellos, Amaury Santos, Alex Mariano, Paulo Sisinno, Hilário Alencar, Joubert Martins, enfim, todo o time de produtores da rádio acreditamos no nosso próprio sonho. Sim, havia o genial (e também saudoso) Carlos Lacombe e Alvaro Luiz Fernandes no Departamento de Promoções. Mas, e no comercial? Quem iria vender o que estávamos fazendo? Nossos salários eram ridículos, mas acreditávamos que ia aparecer alguém que soubesse vender o que a rádio estava veiculando. Ela entrou no ar exatamente as 6 horas da manhã de 1º de março de 1982. Esperamos, esperamos, esperamos… salários eventualmente atrasavam… esperamos, esperamos, esperamos…

Capa do livro 'A Onda Maldita – como nasceu a Fluminense FM'Roberto Medina nos chamou em 1984 para pedir dicas sobre o repertório do primeiro Rock in Rio, que se realizaria em 1985. Em seu gabinete na Artplan, que ficava na Rua Fonte da Saudade, estavam Roberto, Luiz Oscar Niemeyer, Evandro Barreto e uma lenda, Oscar Ornstein, o homem que trouxe Frank Sinatra ao Brasil. O Rock in Rio pegou a rádio quando ela estava em quarto lugar no Ibope apontando para o terceiro. Roberto Medina percebeu que a Fluminense FM, a Maldita, era “o cara” para assessorá-lo no festival. Nós achamos que íamos, finalmente, tirar o pé da lama já que, depois do Rock in Rio, em janeiro de 1985, ia chover comerciais. Até choveria, mas não tínhamos um profissional de vendas capaz de captar.

Em 1º de abril de 1985, saí fora. Vi que meus horizontes não existiam. No dia seguinte, me arrependi, quis voltar, não voltei e pulei fora. Até hoje arrependido e com a certeza de que se houvesse um cara para vender aquela rádio estaríamos felizes, fazendo o que gostamos e bem financeiramente. Mas esse cara não existiu, eu pulei, a primeira geração pediu o boné e a rádio minguou até se tornar burra, imbecil, alienada e, depois de 1991, morrer de inanição.

Pois é. Escrevi dois livros sobre a rádio, um chamado “A Onda Maldita – como nasceu a Fluminense FM” e o outro chamado “A Onda Maldita – como nasceu e quem assassinou a Fluminense FM”. No final do ano passado, lancei pela editora Nitpress um remix do primeiro, que está à venda na loja cirtual da editora (clique aqui). Outro livro importante é o de Maria Estrella. Chama-se “Rádio Fluminense FM: a porta de entrada do rock brasileiro nos anos 80”, da Editora Outras Letras. Vem aí dois longa metragens sobre a rádio. Um vai se chamar “A Onda Maldita”, com produção de Renata de Almeida Magalhães da Luz Mágica (ela é sócia de Cacá Diegues). É uma ficção baseada em meu livro, com direção de Tomas Portella e roteiro de L.G. Bayão. O outro é um documentário que será feito por Tetê Mattos e vai se chamar “A Maldita”.

Tudo divino, maravilhoso? Livros, filmes, fãs? Claro. Mas a rádio em si está fora do ar por falta de alguém que saiba vendê-la. É duro, mas serviu de lição.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Required fields are marked *.

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>