É som de preto, mas quando toca, ninguém fica parado

Posted by Chris Fuscaldo Category: Garota FM

“O nosso som não tem idade, não tem raça e não tem corMas a sociedade pra gente não dá valor”

Daniela Mercury em foto reproduzida da internetCom o funk “Som de Preto”, Amilka e Chocolate cantaram na década de 90 o que o samba quis dizer no início do século XX, quando seus expoentes eram perseguidos, e o que Wilson Simonal deveria ter gritado quando foi levianamente chamado de dedo-duro durante a ditadura militar, o que afundou uma carreira de sucesso que incomodava por ser algo inédito para um negro no Brasil. Os funqueiros disseminaram a ideia que as “branquelas” da axé music vêm explorando desde que Daniela Mercury popularizou o movimento fora da Bahia, nessa mesma época em que a música das favelas cariocas se espalhou pelo país: a de que os estilos desenvolvidos a partir da música africana botam mesmo pra quebrar. “É som de preto, de favelado. Mas quando toca, ninguém fica parado”, cantava no refrão a dupla produzida na época por DJ Marlboro. Sugando o soul dos negros americanos, que influenciou até mesmo Elvis Presley, Tim Maia é um que se deu bem às custas da música negra.

Mas vamos falar da Bahia, que sempre se orgulhou de sua cultura, muito influenciada pela mistura de raças. Foi lá que Pedro Álvares Cabral desembarcou pela primeira vez (mais especificamente entre Santa Cruz de Cabrália e Porto Seguro) e para lá os portugueses levaram escravos retirados do Golfo da Guiné. Com eles, vieram da África a culinária, a música, a dança e a religião. Axé, no Candomblé, simboliza um poder de força sobrenatural. Na música, o axé é o resultado da mistura de frevo, forró, maracatu, reggae e calipso, e ganhou mais força quando grupos blocos afros ganharam os palcos e ruas de Salvador. Hoje em dia, o estilo se desvirtuou, mas ainda há quem enalteça as raízes negras.

Neste último carnaval, Claudia Leitte saiu de Negalora no Bloco Papa e no Bloco da Barra, homenageando mulheres de tribos africanas. Seu camarote ganhou o nome de África e as roupas seguiram as tendências do outro continente. No camarote DM, Daniela Mercury homenageou Jorge Amado, baiano que escreveu muito sobre a cultura local. Em cima do trio elétrico, encarnou Dona Flor, personagem famosa do escritor, protagonizou cenas de “Dona Flor e Seus Dois Maridos” e entoou clássicos como “O Canto da Cidade” e “O Mais Belo dos Belos”, na qual diz: “Bata no peito mais forte e diga: Eu sou Ilê”(Ilê Aiyê é o bloco afro mais antigo do carnaval de Salvador).

Vale lembrar que a “rainha do carnaval” da Bahia, como declarou Ivete Sangalo, levou um Grammy Latino por seu álbum Balé Mulato em 2007 e defendeu os negros também quando gravou “Preta” ao lado de Seu Jorge:

“Eu sou preta
Trago a luz que vem da noite
Todos os meus santos
Também podem lhe ajudar

Negro é uma cor de respeito
Negro é inspiração
Negro é silêncio, é luto
Negro é a solidão”

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