GarotaFM: A música embrulhada para presente

Posted by Chris Fuscaldo Category: Garota FM

Sempre gostei de dar música de presente para amigos, familiares ou colegas de profissão. Podia ser através de LPs, fitas cassetes, CDs quando já mais crescidinha, livros relacionados ao tema, ingressos para shows ou, já no século XXI, DVDs. Nos últimos dez anos, essa mania virou um hábito. Como jornalista musical, aproximei-me ainda mais dos títulos, porque recebo muitos deles (para usar como material de consulta durante minha produção de textos) e porque segui comprando nas poucas lojas ainda existentes, em sebos, em feiras de rua etc. Nos últimos dez anos, descobri no processo de seleção de presentes uma verdadeira diversão. No Natal, principalmente, escolher no mínimo dez nomes para homenagear pessoas queridas com minha arte preferida é praticamente uma experiência antropológica.

Minha saga quase começou quando tirei o papelzinho do amigo oculto da empresa. Havia uma lista na rede compartilhada com o presente que cada um queria. O primeiro colocou lá: “CD ‘O que Você quer Saber de Verdade’, de Marisa Monte”. A outra repetiu o desejo. Uma terceira fez a mesma coisa. Todos já completamente fãs de “Ainda Bem”, música recém-lançada pela cantora e, com certeza, a sua mais radiofônica depois de “Amor I Love You” (do CD “Memórias, Crônicas e Declarações de Amor”). Eis que um colega vindo do circuito mais underground do jornalismo musical fez seu pedido: “O disco do Kassin.” Ele queria “Sonhando Devagar”, o primeiro solo do produtor de discos de Caetano Veloso, Mallu Magalhães, Vanessa da Mata, Los Hermanos e tantos outros. Entendi melhor ainda o ar vintage da minha chefe quando ela colocou lá seu desejo pelo DVD de algum filme de Elvis Presley. Eu disse que a saga havia quase começado porque não tirei nenhum deles e acabei parando numa loja-de-mulherzinha para buscar um gloss.

Poucos dias depois, fui vencida pela insistência de minha prima de 14 anos. Levei a “aborrecente” a um show de Luan Santana. Pois é… Quando criança, ser fã de Dominó ou New Kids On The Block era, no máximo, colecionar recortes de jornais e revistas e vibrar com apresentações em playback em programas de TV. Quando adolescente, roqueira, tinha como programa preferido frequentar bares e casas de shows onde as bandas de amigos e familiares tocavam. Mas, naquela sexta-feira acalorada de dezembro, fui parar em um clube na Ilha do Governador onde estavam milhares de meninas e otros más berrando e fazendo coraçõezinhos com as mãos. Minha prima pulou, suou se empolgou tanto que eu não pude deixar de achar saudável minha incursão no mundo do astro de “Meteoro”. O moço fala umas besteiras e faz uns gestos não muito apropriados para seu público, mas canta de verdade… e canta o amor. Ownnnn!

Para meu pai, beatlemaníaco daqueles, adiantei o presente de Natal: no mês anterior, comprei ingressos para ele e minha mãe assistirem comigo e meu namorado a Ringo Starr e sua All Starr Band. Ultimamente, seu sorriso de felicidade estava viciado por estar atrelado aos DVDs que costumo dar. Mas, naquela madrugada, saímos da Barra da Tijuca com mais comentários do que nunca (meu pai sempre gosta de tecer os seus enquanto seus ídolos estão no palco, mesmo quando os vê pela televisão). Além de ver um ex-Beatle de perto, encontrou vários sessentões da sua turma. A alegria se estendeu até o dia seguinte, quando recebi um e-mail típico deste engenheiro civil apaixonado por música e inimigo da internet: em papel timbrado anexado à mensagem, com belíssimas palavras, mostrou que o esforço que fiz para pagar os tickets mais caros, os da pista VIP, valeu a pena.

Meu namorado… Bom, CD e DVD, não adianta dar. Ele faz a linha “baixo tudo”.  O gato ganhou duas câmeras fotográficas alternativas (uma com lente olho de peixe e uma que faz quatro fotos ao mesmo tempo), mas não pode reclamar de não ter ganhado um presente musical.  Já que estamos perto do ano novo, vale um mini flashback de retrospectiva… Este ano, o levei a grandes shows. O melhor presente veio no dia do seu aniversário: um ingresso para assistir à banda de rock que mais marcou sua adolescência, Red Hot Chili Peppers. Teve ainda vários outros nomes em outros dias de Rock in Rio, Lynyrd Skynyrd no SWU, concertos incríveis na MIMO (Mostra Internacional de Música em Olinda), atrações diversas no Lupaluna… Isso sem contar os eventos fora dos festivais: Mundo Livre S/A, Zé Ramalho, Eric Clapton (!!!), Ringo, Tom Zé, Totonho e os Cabra, A Cor do Som, Tony Tornado (!!!)… ai, chega! Impossível lembrar de todos! Foi bom, né, meu amor?

E, finalmente, chegou o grande dia da distribuição. Enquanto Papai Noel deixava bonecas variadas e uma guitarra das Princesas para a filha do meu irmão, eu comecei a tirar os embrulhos feitos por mim do saco. Para minha progenitora, DVD e CD de André Rieu e o kit de Elymar Santos cantando sucessos de Alcione. Que mistura, hein, mãe?!  No dia seguinte, ela não tirou o espetáculo do regente holandês da TV e o CD do cantor brega brasileiro do som do carro. Minha sobrinha de um ano e meio levou o DVD do Palhaço Topetão e não esboçou nenhum sentimento. Com uma mãe super adepta da importação via internet de produtos estadunidenses, ela já é uma big fan dos CDs do “Hi-5”. Minha prima de sete pulou de felicidade ao rasgar o papel e dar de cara com Justin Bieber. A irmã de 15 anos, adotada como prima desde que meu primo se casou com sua mãe, ficou com o da Taylor Swift, que julguei ser um fenômeno de sua geração. Dei para minha avó, a matriarca de 96 anos – que tem toda a coleção de Nelson Gonçalves, Ataulfo Alves, Francisco Alves e Cyro Monteiro – um DVD de Martinho da Vila, porque há algum tempo ela resolveu se encantar por sambistas “novos”. Bom, perto dos ídolos dela, Martinho é mesmo um broto!

E rolaram outros presentes, que gastariam mais alguns parágrafos desse artigo. Cada um tem um gosto, uma preferência. E é uma delícia tentar entender as personalidades através do que gostam de ver ou ouvir. Não sei se vocês conseguiram sacar algo sobre os que citei no texto. Eu começo 2012 ano com mais certeza de que conheço cada vez melhor as pessoas que estão a minha volta. E a música me ajuda nisso. Um 2012 musical a todos!

Obs.: A imagem foi registrada em 2006 pela grande fotógrafa Wania Corredo, que trabalhou comigo no jornal Extra.

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